"Get Color", o segundo disco dos HEALTH, foi uma das coqueluches de grande parte da crítica no ano passado mas só ontem conseguiu ser apresentado por cá. E a espera compensou, numa hora praticamente sem pausas - nem sequer para falar - que manteve concentrado o público de uma sala bem composta.

Num claro avanço face ao álbum de estreia - homónimo, editado em 2007 -, o registo mais recente do jovem quarteto de Los Angeles aproxima-se mais do formato canção do que dos exercícios instrumentais (nem sempre estimulantes) dos seus primeiros tempos.

No concerto de ontem, temas dos dois álbuns marcaram um alinhamento que, sem nunca abdicar de uma tensão assinalável, soube conciliar momentos etéreos e outros mais viscerais. Do palco e das colunas saiu quase sempre um som com tanto de saturado e implacável como de magnético e intrigante, capaz de assustar tímpanos frágeis mas premiando os mais resistentes.

Entre percussões tribais, guitarras distorcidas em ebulição, teclados sinuosos e sintetizadores desvairados, a actuação fez tangentes a ambientes do noise, do industrial ou do pós-rock sem chegar a instalar-se em nenhum deles.
Submersa neste caos instrumental, a voz andrógina de Jacob Duzsik acentuou o toque de fragilidade que a música dos HEALTH também integra, pelo menos nos temas de "Get Color" (os melhores).

"Die Slow", um dos singles desse disco, foi o óbvio momento alto do concerto e aquele onde esses extremos melhor se entrecruzaram. E lançou de imediato uma epidemia dançável pelo público, tanto o da plateia como o do piso superior, não tão impressionante como a da multidão do videoclip da canção embora ainda digna de nota (e convocando muitos headbangers).

Mas houve também adeptos da dança noutros momentos da actuação. Os elementos da banda foram dos melhores exemplos, entregando-se a movimentos epilépticos condizentes com o tom nervoso de canções como "We Are Water" ou "Nice Girls".

E se o concerto dos HEALTH não desiludiu, a noite já estaria ganha mesmo que estetivesse sido um fracasso. Ou pelo menos parte dela, a que incluiu o aquecimento a cargo dos PAUS. Superbanda com membros dos If Lucy Fell, Vicious Five, Lobster, Riding Pânico e Linda Martini, o quarteto assinou uma actuação igualmente coesa assente em instrumentais musculados e convidativos.A voz apenas marcou presença em pontuaiscoros gritados ea muralha sonora, quase sempre erguida através do contacto entre bateria (duas, aliás) e teclados, deixou um belo cartão de apresentação para o EP de estreia da banda, "É uma Água". É verdade que, tal como os HEALTH, não descobrem a pólvora. Mas sabem dispará-la muito bem.

Texto e fotos @Gonçalo Sá

HEALTH - "Die Slow":

HEALTH - "We Are Water":

PAUS - "Mudo e Surdo":