Com a sala já iluminada, um quarteto de cordas estendeu, pontualmente, a passadeira vermelha para o anfitrião. E com voz e sorriso inconfundível, John Legend abriu o alinhamento com “Made to Love”, uma balada soul que enche, pois claro, a alma.
Em “Tonight (Best You Ever Had)” havia quem quisesse estar mais perto do cantor, não tirando os olhos dos ecrãs, que ampliavam o rosto cantante de Legend. Casais, de mãos dadas ou enconstados carinhosamente, baloiçavam com a maré de romance.
Tempo, então, para a história de como tudo começou. Mas antes, um “It’s so good to be back, tonight we'll get to know each other", dito por um John Legend risonho. Num aventura que começou em 2000, foi a The Living Room, comummente apelidada de incubadora de talento, o local que lhe permitiu o primeiro concerto, para aproximadamente cinco pessoas, incluindo bartenders – recorda Legend. Trivialmente, o artista gravou a linha de piano de “Everything is Everything”, single do disco "The Miseducation of Lauryn Hill" (1998), ainda enquanto estudante universitário. De Kanye West e Jay Z, a “You Don’t Know My Name”, de Alicia Keys, John Legend esperou seis anos por um contrato discográfico. “Let's Get Lifted”, do primeiro e tão desejado álbum "Get Lifted" (2004), antecedeu o primeiro single da carreira, "Used to Love U", e o término desta breve viagem no tempo.
“Let's Do It Again / Number One” chegou à plateia da Meo Arena alegre, atrevida e funky. Veio, logo de seguida, a suave “Save The Night”, com o compasso marcado em aplausos, a acompanharem a costela clássica da música pop a que o cantor tão bem nos habituou.
Uma fusão de sonoridades vindas das ruas de Ipanema e uma mulher descrita como a perfeição em pessoa apresentam “Maxine”. Uma música cujo título foi buscar ao nome do meio da sua avó.
Do segundo disco, "Once Again" (2006), “Again” dá espaço para uma aula de composição musical one-on-one. O público, agora pupilo, recebe então “P.D.A. (We Just Don't Care)”, entre olhares sedutores direcionados à presença feminina.“Save Room”, charmosa e desconstruída, surge dissecada até à guitarra e cantada com voz corpulenta, contagiante e quente. “Wake Up Everybody, no more sleeping in bed", um original de Teddy Pendergrass, mostra-se remédio santo para combater o frio outonal que faz lá fora. Em "Green Light", Lisboa levantou-se das cadeiras da arena, num momento de celebração e entrega, após o aviso: "I'm ready to go right now". No alinhamento, praticamente unplugged e desligado de polimentos exagerados, “Rock With You”, de Michael Jackson, foi a surpresa da noite.
No que se adivinhava ser a reta final do concerto, o crooner deu seguimento ao entretenimento, ao recordar a sua avó - não a já conhecida Maxine, mas a que o ensinou a tocar piano, enquanto preparava soul food para um jovem John Legend. Com dez anos viu a sua avó partir, sem que esta pudesse presenciar os frutos da sua dedicação. A emocionante “Bridge Over Troubled Water”, de Simon & Garfunkel, ecoa como um tributo, uma entrega.
O coração lá se ia aguentando, preenchido por músicas com a recente “You & I (Nobody in the World)”, “Caugh Up”, com resposta em uníssono, e com “Ordinary People”, um dos pontos de rebuçado da noite – doce e perfeita! “So high”, fechou a primeira parte e a espera pelo encore, com “All Of Me” debaixo da manga, foi a maior demonstração de fé durante as duas horas de concerto.
Às primeiras notas, os primeiros gritos entusiastas, os múltiplos beijos e infinitas vozes em potência máxima! Uma música com alta rodagem nas rádios nacionais, que ao vivo ganha nova vida, mágica, com uma identidade partilhada por Portugal. Pelo mundo.
John Legend é, como o nome indica, lendário, desde o inicio do seu percurso, até ao presente, que se celebrou com espaço e tempo para recordações.
Texto: Mónica Pires
Fotografias: Diogo Oliveira
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