"Eu gosto de contar histórias e me conectar com o público jovem da periferia", disse à AFP Konrad Dantas, "KondZilla", de 34 anos, após participar, nesta semana, da conferência de tecnologia Web Summit, no Rio de Janeiro.

Criado numa favela do Guarujá, uma cidade litoral a 100 quilómetros de São Paulo, Konrad fundou, em 2012, o canal que hoje tem mais de 66,5 milhões de subscritores no YouTube.

Nessa época, o funk, género musical que surgiu na periferia do Rio nos anos 1980 e se expandiu nas décadas seguintes para o resto do país, "não tinha apoio da indústria fonográfica", conta.

"As grandes editoras multinacionais não estavam a olhar para esse segmento. A única forma de distribuir esses conteúdos era através do YouTube.

KondZilla começou a realizar videoclipes de qualidade para artistas do funk "ostentação", um subgénero paulista que exalta a roupa, joias, bebidas e carros de luxo entre os jovens das favelas.

Em pouco tempo, a sua audiência explodiu. Em 2015, lançou o videoclipe "Baile de Favela", do artista MC João, o primeiro a superar os 100 milhões de visualizações, cuja melodia foi eleita pela medalhista olímpica Rebeca Andrade para a sua série de ginástica artística nos jogos de Tóquio-2021.

Em 2017, KondZilla foi incluído na lista da Forbes Brasil dos empresários mais influentes com menos de 30 anos.

Atualmente, comanda um conglomerado de empresas que inclui uma produtora e uma editora de artistas, a produção de séries, filmes  documentários, um portal de notícias especializado em funk e uma escola de jovens talentos.

"Sintonia", a sua série que estreou na Netflix em 2019, é a série brasileira mais vista da plataforma.

Favela conectada e vocabulário "light"

Apesar do seu nome artístico (que faz alusão ao monstro Godzilla), Konrad Dantas é baixo e tem um andar sereno. Na Web Summit Rio, recebe com humildade os jovens que se aproximam para pedir fotos ou conselhos.

Uma das chaves do seu sucesso, garante, foi a democratização da tecnologia, que levou para as favelas a possibilidade de consumir e produzir novos conteúdos nos smartphones.

"Tem uma coisa muito importante, que é o pertencimento. A gente, quando tem a oportunidade de escolher o que a gente quer consumir, hoje a gente não escolhe mais consumir a história de um bombeiro de Nova Iorque. Hoje a gente escolhe consumir histórias que se parecem com as nossas, que a gente identifica", disse.

Além desta "representatividade", tornou-se especialista em ler e adaptar-se às necessidades do mercado.

"Nm momento está lá em cima, depois cai. Tudo vai mudando, tem que se adaptar", aconselha.

Uma dessas mudanças que levou os seus vídeos para o grande público foi o lançamento de versões mais "leves" de algumas canções, substituindo os "palavrões", onipresentes no género, por uma linguagem apta para todo o público.

Isso permitiu saltar de 6 milhões de subscritores em 2016 para 22 milhões no ano seguinte, assegura. Os seus dois vídeos mais vistos têm, cada um, mais de mil milhões de reproduções.

Público acima de 50

Interessado por música e pelo audiovisual desde criança, a sua carreira disparou depois dos 18 anos, quando perdeu a mãe precocemente e, em vez de comprar um apartamento para sair da favela, decidiu investir o seguro de vida e a pensão em cursos profissionais e equipamentos.

Mais de dez anos depois, continua a descobrir novos artistas, auxiliado também por programas de Inteligência Artificial (IA), que define como "uma ferramenta para potencializar a arte".

"Uso a IA para obter informações do mercado, para ver as listas de novos artistas, entender quando estão a gerar resultados, que potencial têm", explica. Ressalva, contudo, que quem tem a palavra final é quem tem "coração".

Para que surjam novos "KondZillas", lançou em 2022 uma Escola de Criadores, com o objetivo de ensinar técnicas audiovisuais aos jovens das favelas no Guarujá.

Em termos de negócio, enquanto todos pensam no TikTok e nos formatos curtos que atraem os mais jovens, ele planeia aventurar-se no mercado para "maiores de 50".

"Dizem que a geração que vai viver mais de 100 anos já nasceu. Eu estou olhando para ela", revelou na sua palestra.