O espetáculo intitula-se “Fado Mãe” e explora os pontos em comum entre as duas carreiras, disse à Lusa Rita Gordo, que editou o seu primeiro álbum, “Eu sou assim”, em janeiro do ano passado.

“Eu e a minha mãe, entre outros, iremos interpretar em duo ‘Sete Colinas’”, adiantou a cantora que não esconde “a grande moção de cantar lado a lado" com Maria da Fé. "Além de mãe admiro-a como grande intérprete que é, e pelo lugar que ocupa na música portuguesa, no meu álbum não resisti a gravar um tema seu, à minha maneira, o 'Sem carinho – Padre Nosso’, do Frederico de Brito e de Armando Freire".

Rita Gordo e Maria da Fé já partilharam o palco no B’Leza e no Festival Caixa Alfama, em setembro passado. “Desta vez é diferente, até porque vou interpretar cinco fados da minha mãe, nomeadamente ‘O que é que eu digo à saudade’, que é um emblemático da sua carreira, e o ‘Fado Fé’”, disse Rita Gordo.

À agência Lusa, Rita Gordo afirmou que tem “uma linha completamente diferente” da de Maria da Fé, apesar de “se reconhecerem influências e pontos de contacto”. "Nasci e cresci a ouvir fado, mas procuro uma outra linha melódica sem renegar as origens - filha de fadista e pai poeta, que tem a maioria da sua produção cantada à guitarra e à viola, e gerimos desde 1975 uma casa de fados em Lisboa - não nego tudo isto", sublinhou.

“Levei tempo a descobri o meu canto e a minha linha melódica, sabia que não era ‘fado fado’, mas sempre gostei de cantar e o Paulo [Parreira] incentivou-me muito a gravar”, contou. Guitarrista, compositor e o produtor do álbum "Sou assim", Paulo Parreira assina os arranjos e algumas composições em parceria com Rita Gordo.

A cantora afirmou que, a definir-se a sua música, ela “anda algures entre o fado, o jazz e o pop fado”. A expressão “pop fado” foi uma experiência de Maria da Fé quando, em 1967, gravou um disco com o divulgador de jazz José Duarte. “A ideia foi do José Duarte e de um senhor chamado Raul Calado [publicitário, fundador do Clube Universitário de Jazz], homens do jazz, que me ouviram cantar na casa de fados A Tipóia. O dico foi gravado com a guitarra portuguesa do [José] Fontes Rocha, bateria e guitarra elétrica. Tinha quatro fados, mas só gravei três: ‘Lugar vazio’, criado pelo Tony de Matos, o ‘Fado Faia’, criação da Berta Cardoso, e ‘O namorico da Rita’. Ficou por gravar a voz, porque me constipei, na ‘Janela do rés-do-chão’, um fado marcha, e ficou só o instrumental", contou a fadista Maria da Fé à Lusa.

Maria da Fé, natural do Porto, e já distinguida com a Medalha de Ouro da Cidade de Lisboa, entre outras condecorações, como a de Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, que recebeu este ano, gravou o primeiro disco em 1959. "O meu primeiro disco foi um EP, com quatro fados: dois meus e dois do Fernando Manuel, que era um rapaz que cantava na [casa de fados] Viela. Gravámos num sítio incrível, numa cave de uma casa de eletrodomésticos, que era do Arnaldo Trindade, na rua de Santa Catarina, em frente ao Café Majestic, no Porto. Gravei ‘Eu canto fado’ e ‘Sou tua’, do Casimiro Ramos".

"Valeu a Pena", "Primeiro Amor", "Fado Errado", "Cantarei até que a Voz me Doa" são fados que Maria da Fé irá interpretar assim como a canção “Vento do Norte”, com a qual concorreu ao Festival RTP da Canção, em 1969. No concerto de domingo, às 17:00, no pequenmo auditório do CCB, as duas intérpretes serão acompanhadas por Paulo Parreira, na guitarra portuguesa, Rogério Ferreira, na viola e Paulo Paz, no contrabaixo.

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