O novo disco de Logos e David Bruno segue-se a “G de Gandim” e é o sexto longa duração do projeto do Porto, que segue “o verdadeiro 'tripeiro'”, Corona, criado em 2014 pelos dois músicos.

Em entrevista à Lusa, o rapper Logos (Edgar Correia) explicou que o sexto álbum abre um novo capítulo na vida de Corona, um portuense ‘de gema’, “que vivia nas ilhas do Porto e etc”, e que já passou por muito, das drogas e problemas com saúde mental, em “Lo Fi Hipster Sheat” e “Lo Fi Hipster Trip”, até abrir um negócio próprio, uma casa de alterne diurna que deu para o torto, em “Cimo de Vila Velvet Cantina”.

Mais tarde, foi expulso do centro da cidade do Porto pela gentrificação, em “Santa Rita Lifestyle”, e é neste disco que está a semente do oculto e da espiritualidade.

“Há aqui uma transformação do Corona, com um álbum em torno da morte, da ‘invejidade’, o olho gordo e o ‘diz-que-disse’ sobre a vida dele. E por isso vai à bruxa. É um tema que a mim e ao David nos diz muito, não só pelas histórias ou crenças, mas para dar um exemplo: benzemos o nosso palco, desde o primeiro concerto, com água do Senhor da Pedra [em Vila Nova de Gaia]”, conta Edgar Correia.

Logos lembra que “a seita quase religiosa nos subúrbios da cidade” que Corona tinha encontrado em Ermesinde é um toque “nesta zona do oculto” que nos últimos nove anos foram encontrando ao atravessar o país para dar concertos, tanto em zonas urbanas como fora delas.

“Temos percorrido um pouco o país todo. Há artigos que apontam Portugal como reduto da Europa em que muita gente acredita no oculto, no paganismo, e ainda há muita gente que procura esta ajuda, do que não se vê, do que não se sente, para resolver maleitas ou problemáticas da vida”, afirmou.

Ao acompanhar a vida desta pessoa que, como qualquer um, “tem momentos altos e baixos”, encontra-se agora “o álbum mais escuro, não só pela temática como também pelo instrumental”, de Conjunto Corona.

“Depois dos concertos, acabamos sempre por conviver com pessoas, e são temas que tanto me dizem a mim como a outras pessoas. Realmente, o facto de sermos este país que ainda procura, ainda acredita, em tradições antigas, fez-nos perceber que isto é abrangente ao país todo, e é quase uma reflexão desse ‘tripeiro’ como é o Corona. Começa a perceber que as coisas em que ele acredita existem no país todo”, reflete Logos.

Continuam as referências a outras bandas e elementos populares, seja do lado menos conhecido da portugalidade ou da “era digital”, como David Bruno lhe chama, e há uma presença mais forte do gaiense enquanto intérprete neste disco, ao lado de Logos, lembrando o “4400 OG” com que iniciou a carreira.

O disco foi feito em dois meses num método que demonstra a maturidade criativa, assente nos primeiros discos, e a forma “muito espontânea” como vão criando, sobretudo as letras, quase sempre a cargo de Logos.

A acompanhar, como nos quatro primeiros discos, está um vídeo-álbum, colocado na plataforma YouTube na íntegra, a base a partir da qual os fãs poderão ouvir as faixas, mas com uma “grande diferença, as imagens originais” do grupo.

A mistura entre vídeos ‘samplados’ e originais, de resto, funciona como na própria música, lançada numa sexta-feira 13 com uma pequena história, “pormenores interessantes”, referências tiradas “à Internet mais profunda”.

Essa forma de criar um fio condutor, uma história, prossegue também para o palco, em que há uma adição a um esforço apresentado ao vivo com o Homem do Robe - a figura Tropa Snow.

“Queremos manter o que já é habitual em nós e continua a fazer sentido, os concertos com grande jarda, pessoal a suar, 'mosh', 'crowdsurfing', o hidromel continuará a ser um momento de partilha, mas vamos ter um quarto elemento, o Tropa Snow. É um elemento críptico, um ‘performer’ ligado a estas temáticas da bruxaria. No fundo, representa a luz branca. O Homem do Robe sempre representou mais a luz negra. Como diz o Tropa Snow, a luz branca mata sempre a luz negra”, resume Logos.

O disco tem duas datas de apresentação, a 17 de novembro no Musicbox, em Lisboa, e a 1 de dezembro no Hard Club, no Porto, mas quatro concertos, uma vez que os dois primeiros “esgotaram numa semana”.

Assim, a banda decidiu, com o acordo das duas casas de espetáculos, lançar novo concerto no mesmo dia, com um pelas 21h00 e outro logo de seguida, pelas 23h00.