O disco vai ser apresentado em Lisboa no dia 10 de setembro na FNAC do Chiado e no dia 6 de outubro num espetáculo a decorrer no Coliseu dos Recreios, também em Lisboa.

Intitulado "Moda Impura", o novo álbum conta com Vitorino e Janita Salomé, que cantam em duo algumas das modas tradicionais alentejanas, acompanhados por instrumentos como a guitarra, o piano, o saxofone, diferentes percussões e ainda por uma orquestra de harmónicas de Ponte de Sor.

Os dois irmãos convidaram a juntar-se a eles, além do Grupo de Cantadores do Redondo, coletivo que também integram, o rapper Chullage, que canta um tema com Vitorino, e o escritor António Lobo Antunes, que escreveu a letra de quatro modas, compostas por Janita e Vitorino.

"O António [Lobo Antunes] tem uma relação de grande amizade connosco e está profundamente ligado ao Alentejo. Não lhe é nada uma realidade estranha", disse Janita Salomé.

O músico recordou que "tempos houve em que homens de grande craveira intelectual se debruçaram sobre o cante e a cultura alentejanos" e citou a revista Tradição, publicada em finais do século XIX, em Serpa, que contou com a colaboração, entre outros, do Conde de Ficalho, de Adolfo Coelho, Teófilo Braga ou de Fialho de Almeida.

Reconhecendo que tanto ele como o irmão "estão por fora da candidatura do Cante a Património Imaterial da Humanidade", Janita defendeu que "é neste território de laboratório, experimentando coisas novas, nomeadamente instrumentos, que o cante deve evoluir, sem perder a sua matriz".

Para o músico "é essencial" captar "gente nova" para o cante, apesar de haver grupos, como o da Casa do Povo de Serpa, que tem uma média jovem, "e até os do Redondo, [numa] faixa entre os 30 e os 40 anos".

"A princípio eles não entram para os grupos, até por causa das namoradas, não acham graça aos fatos, mas depois casam, assentam e participam", contou.

Janita Salomé afirmou ainda à Lusa que o cante alentejano "é a prática cultural com o maior número participantes, cerca de 200 mil", existente no país.

Quanto ao álbum "Moda Impura", Janita Salomé disse que "é a continuação de um trabalho que tem estado sempre presente, de um forma ou de outra, nos diferentes discos dos dois [dele e de Vitorino]".

O cante é também algo que lhes é "intrínseco", assumindo este CD como "uma experimentação", no sentido "do enriquecimento do cante alentejano, que é o objetivo final, [mesmo que seja] uma utopia", declarou o músico.

Foi por esse motivo - o enriquecimento da expressão, o alargamento da perspetiva sobre o género - que, no novo disco, Janita e Vitorino procuraram "mostrar outros humores do cante, além daquele ar grave e sério que é mais conhecido".

"Cantamos modas alegres, noutras cadências, algumas até dançáveis - que as há no Cancioneiro Alentejano - e até com o típico humor ácido dos alentejanos", concluiu Janita.

@SAPO/Lusa