Passavam 37 minutos das 22h quando os Dap-Kings subiram ao palco e fizeram as honras da casa. Estava a chegar Sharon Jones, a “soul sister” com um magnético “je ne sais quoi”.

O pedido inicial da banda americana foi simples: transformar o parque Marechal Carmona numa pista de dança. E como boa ouvinte que é, a assistência fez a vontade dos artistas e invadiu a frente de palco. Perante o “magnetismo” de Sharon Jones, o público sentiu-se imediatamente atraído e recebeu-a de pé com gritos e aplausos.

A música foi inspirada nas décadas de 60 e 70 mas o look remontava aos anos 20. Com um vestido de franjinhas curto, a revelar umas pernas bem definidas, a cantora de 55 anos mostrou que quando o soul e o funk se apoderam de alguém, a idade não importa.

Com uma energia contagiante que não deixou ninguém indiferente, Miss Sharon Jones cantou músicas do disco “I Learned The Hard Way” mas também versões bem animadas de sons conhecidos como "When The Saints Go Marching", de‏ Louis Armstrong. A grande ausência da noite, embora não se perceba bem porquê, foi o single com o mesmo nome do álbum.

“When I come home” foi um dos temas ouvidos no Cool Jazz Fest. Pelo meio da música, uma viagem no tempo até 1965 com direito a um “soul train” bem animado. Durante quase duas horas de espectáculo, a senhora do soul e funk não parou de cantar e dançar com uma energia de tirar o fôlego a qualquer jovem de 18 anos.

À medida que o espectáculo avançava, o frio que se fazia sentir no parque Marechal Carmona foi sendo esquecido. E para aquecer ainda mais o ambiente, Sharon Jones chamou para junto dela, por duas vezes, dois rapazes que ouviram verdadeiras serenatas. Um deles teve direito uma mensagem privada ao ouvido, que ficará só entre os dois. Já o outro levou para casa a promessa de que esta noite iria arranjar namorada, ao som de “Be easy”.

Mas a surpresa mais especial de todas foi, sem dúvida, o pequeno Simão que subiu ao palco, tirou a chucha da boca, atirou a fralda para o lado e dançou ao ritmo frenético de Sharon Jones. E, com toda a certeza, não se ficou atrás da cantora que se derreteu com o ritmo do pequeno homenzinho.

“Mama don´t like my man” foi outro dos temas da noite, introduzido com um breve teatrinho. Para além de cantora e bailarina, Sharon Jones mostrou que tem jeito para a representação ao contar a história de que fala a música. Uma verdadeira artista que teve direito a uma ovação de pé no final da cena.

Apesar da ausência notada do single do disco “I Learned The Hard Way”, houve espaço para estreias. Mas uma estreia tão absoluta que Sharon Jones teve até de recorrer à cábula para cantar a música pela primeira vez ao vivo. O público não se importou, e até achou piada. No final o que contou foi a potência da voz que, mais uma vez, encantou quem a ouviu.

Depois de “Money” e “She ain’t a child no more” - uma crítica aos pais alcoolizados que chegam a casa e batem nos filhos - a cantora americana teve de arrumar os saltos altos para poder dançar como os seus antepassados dançaram um dia. Um grito profundo “I feel good” foi o mote para a música que encerraria o espectáculo, “100 Days, 100 Nights”.

A banda ainda voltou para um encore mas os protagonistas foram mesmo os Dap-Kings, apresentados um a um por Sharon Jones que deixou o público a suspirar por “I Learned The Hard Way”, que nunca se chegou a ouvir.

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Os Cais do Sodré Funk Connection foram os protagonistas da primeira parte da noite com músicas que fizeram as delícias do público.

A banda - uma mistura de elementos dos Cool Hipnoise (iago Santos, João Gomes, Francisco Rebelo), Cacique 97, Groove 4tt, Mr Lizard - recriou o som e o ambiente dos clássicos da Motown, Stax, Chess Records e outras editoras míticas das décadas de 60 e 70, cantou originais e revisitou nomes como Ray Charles ou James Brown, com o tema “Baby, Baby, Baby”. Em apenas 40 minutos, as cadeiras foram postas de lado e todos começaram a dançar, preparando-se para o furacão que viria a seguir…

Texto: Rita Afonso

Fotos: Vera Moutinho