Já os mais optimistas, eternos amantes da banda que deu a conhecer ao mundo obras-primas como Knocking on Heaven’s Door, November Rain ou Sweet Child O’Mine, antecipavam um serão idílico, onde clássicos dos Guns n Roses caminhariam em palco lado a lado com os êxitos dos Velvet Revolver – banda criada Por Slash, Duff McKagan e Matt Sorum em 2002.

Se de um concurso se tratasse, os optimistas levariam, definitivamente, o troféu para casa. Não lotada, mas quase, a mais carismática sala de espectáculos da invicta apresentou-se, na noite de ontem, como há muito não se apresentava: em êxtase total.

Uma réplica gigante da capa de “Slash” coloria o espaço, marcadamente escuro, claro está. Os anos 90 pareciam ter regressado em força ao Coliseu. O hard rock voltava, duas décadas passadas, a ser rei e senhor. Entre a multidão, que não podia ser mais díspar no que a idades e posturas diz respeito, sobressaíam uma ou outra cartola, uma ou outra t-shirt de digressões passadas, um ou outro cartaz dirigido a Slash. Todos queriam agradar o mestre da guitarra. E que mestre…

Enganou-se, contudo, quem viu na tela um prenúncio de um “Slash” revisitado tema a tema. Fiel às suas origens e consciente dos desejos alheios, Slash saciou a euforia e ansiedade do público também – e principalmente - com temas dos seus projectos anteriores, que alternou – num alinhamento quase perfeito – com as mais vigorosas canções do novo disco.

Um verdadeiro animal, no que às lides do palco diz respeito, o exímio guitarrista entrou em cena com Ghost, o tema introdutório do novo registo. Os anos parecem não passar por Slash. O cabelo mantém-se comprido, encaracolado, oponente. Os óculos também estão lá, tal como a cartola. A energia continua infindável, contagiante. A postura, sempre sedutora. Parece impossível já terem passado 15 anos desde a última vez que subiu ao palco com os Guns n’ Roses. Ali da plateia parece, ainda, um jovem, prestes a conquistar o mundo. Mas a verdade é que já o conquistou. Há muito tempo...

Os acordes diabólicos de Ghost deram rapidamente lugar àquele que seria o primeiro momento alto da noite. Nightrain, de “Appetite for Destruction”, chegou veloz pela voz de Myles Kennedy e arrasou. Há fome de Guns n’ Roses em Portugal. Quem disser o contrário, mente, com certeza.

Se havia dúvidas quanto à aptidão vocal do vocalista dos Alter Bridge, estas foram dissipadas ao longo da noite de ontem. Lembrando, ocasionalmente, antigas performances vocais de Axl Rose, Myles Kennedy não hesitou em emprestar a voz (e o corpo) a alguns dos maiores hinos de sempre do rock, como Sweet Child O’ Mine, Civil War, Rocket Queen, Fall to Pieces, Slither, Sucker Train Blues (Velvet Revolver), Beggars and Hangers On (Slash’s Snakepit) ou Communication Breakdown (Led Zeppelin). E fê-lo na perfeição, enfeitiçando o público, sempre que podia, com rasgados elogios e aplausos.

Um concerto de Slash não seria, contudo, perfeito sem o solo de guitarra da praxe. Afinal, Saul Hudson é considerado um dos melhores guitarristas do mundo. E os portuenses, claro está, não arredariam pé do Coliseu enquanto não provassem todos os seus dotes. Ouviu-se, então, entre outros,o solo da Godfather - mais uma música tirada do baú Guns n’ Roses. Sete minutos de guitarradas frenéticas, maquinalmente executadas, foram, tal como se previa, «mel para os ouvidos» da plateia, rendida.

Ironicamente, do disco a solo de Slash, apenas Back from Cali, By the Sword, Nothing to Say, Watch This e Starlight foram revisitadas. Afirma, convicto, não ter saudades dos Guns n’ Roses, mas é, definitivamente, com os êxitos da ex-banda que faz as delícias dos seus fãs.

Foi, também, com os êxitos da ex-banda que se despediu, já num segundo encore, com a bandeira de Portugal hasteada e uma camisola do FCP na mão, do Porto. Paradise City – cidade onde a erva é verde e as raparigas são bonitas - pôs termo a uma noite que se adivinha, simplesmente, inesquecível. Take me home, oh won’t you please take me home, ouvia-se entre pulos, risos, exclamações e aplausos…

Sara Novais

Fotografias: Melanie Antunes