A abertura do concerto ficou a cargo dos portugueses Urbanvibsz. A banda de reggae barreirense usou e abusou da energia dos presentes e pôs toda a gente a dançar ao som das suas músicas. Nascidos nos finais de 2009, os Urbanvibsz são uma das grandes promessas do reggae nacional - prova disso foi a forma calorosa com que foram recebidos pelo público, no Coliseu dos Recreios.

Os cartazes colados na bilheteira não deixavam margem para dúvidas: o concerto estava esgotado. O público, maioritariamente jovem, aproveitou o intervalo de tempo decorrido entre a actuaçãoda banda portuguesa e a dos norte-americanos SOJA, para ocupar as posições finais para o concerto.

Nas bancadas laterais ao palco, estavam penduradas duas bandeiras do Brasil. Na plateia, algumas pessoas especulavam sobre o alinhamento; outras assumiam ser a primeira experiência com o coletivo norte-americano e admitiam uma certa curiosidade sobre o que aí viria; outras, impacientes, gritavam a plenos pulmões o nome da banda. Estavam reunidas as condições para uma noite de confirmações para uns e de descobertas para outros.

Às 22h35, as luzes do Coliseu apagaram-se e deram lugar à euforia. Braços no ar filmaram a entrada do grupo em palco. Um pano preto com as palavras SOJA caiu no fundo do cenário. Deu-se início ao concerto.

“I Don’t Wanna Wait”, do álbum “Born In Babylon”, abriu o concerto. Seguiram-se “Mentality”, “Rest of My Life” e “Strenght to Survive”, faixa-título do mais recente trabalho de Soja. Jacob Hemphill, vocalista e guitarrista da banda, alertou para o facto do vídeo de “Strenght to Survive” ter sido realizado em Lisboa,realçando o amor que a banda tem pelo nosso país, no qual a presença da bandatem vindo a ser uma constante ao longo dos últimos anos.

“Rasta Courage” fez-se acompanhar por isqueiros, coros e mãos no ar. Jacob aproveitou o ambiente único no Coliseu, mandou apagar as luzes de palco e filmou o momento com recurso ao seu telemóvel. O tema acabou com um a cappella, por parte de Jacob, bem executado e, acima de tudo,bastante aplaudido pelo público.

O Soldiers of Jah Army vão beber muita da influência da sua música ao rock. E isso é facilmente comprovado pelos longos solos que o coletivo proporciona, sobretudo ao nível da guitarra elétrica. Mas não é só o rock que influencia o octeto estadunidense. OsSOJA vão buscar muito da sua identidade – talvez pelo facto de ser uma cultura enraizada nos Estados Unidos – ao jazz. As melodias exploradas a nível do saxofone e do trompete são um exemplo disso.

Sensivelmente a meio do concerto foram colocados timbalões e outros elementos de percussão no palco. Kenny Bongos, visto no seio da banda como o melhor percussionista do mundo, dirigiu-se ao centro do palco e começou a explorar os seus ritmos. Os outros elementos da banda juntaram-se a ele na percussão e, de repente, o Coliseu transformou-se num sambódromo, com toda a gente a dançar e a vibrar, mostrando que diferentes sonoridades e diferentes culturas podem ser revisitadas, sem problema algum, em conjunto. SOJA é definitivamente uma banda que não impõe limitesà música que toca. Decerto que os responsáveis pela colocação das bandeiras brasileiras nas bancadas terão achado este momento musical deveras interessante. O público, por sua vez, acompanhou o ambiente festivo trauteando a melodia dE “Seven Nation Army”, dos The White Stripes (típico...).

A palavra uníssono ganhou todo o seu sentido na música “You And Me”, do álbum “Born in Babylon”. Não havia no recinto quem não cantasse a letra de um dos temas mais populares dos SOJA. A canção aindaincluiu uma passagem pelo dub, com o baixo e a bateria a adquirirem especial destaque nesta técnica que explora ambientes com recurso a delays e reverbs colocados estrategicamente em certos elementos da música. No final da canção, um solo de trompete por parte de Rafael Rodriguez fez as delícias dos presentes.

Outro grande momento a realçar do concerto de sexta-feira foi o da interpretação do tema “Not Done Yet”, do álbum “Strenght to Survive”, no qual, à semelhança da música anterior, toda a gente participou de forma unânime. Houve até quem se levantasse na bancada para acompanhar o belíssimo groove que esta canção contém. Mas dentro de um grande momento, há sempre espaço para outro grande momento. E este esteve a cabo de Richie Campbell, que foi chamado a meio de “Not Done Yet”, para interpretar “Thats How We Roll”, música de sua autoria que pôs o Coliseu todo em êxtase. É bom sentir que músicos nacionais são assim tão bem recebidos, mesmo quando participam a meio de um concerto de uma banda internacional. Foi o caso.

“Sorry” assinalou a despedida do grupo sob uma enorme salva de palmas. No entanto, o público ainda não estava totalmente satisfeito e bateu o pé, assobiou e chamou pelos SOJA. O coletivo regressou, assim, para mais três músicas, sendo as duas primeiras “Everything Changes” e “Tell Me”, ambas do mais recente trabalho.

Para o fim ficou o clássico “Here I Am”, do álbum “Born in Babylon”, com aderradeira despedida do grupoa sermarcadapor muita qualidade técnica. Jacob convidou os seus parceiros de palco, apresentando um de cada vez, a mostrar os seus dotes no instrumento que protagonizam. O octeto solou todo, um por um, começando pela guitarra de Trevor Young e acabando no baixo de Bobby Lee, em jeito de jam session. Especial destaque para o solo do baterista Ryan berty, que foi estrategicamente deixado sozinho no palco, proporcionando um show de ritmos com passagens pelo mundo do rock e metal, recorrendo a quebras de ritmo nos timbalões e explorando a técnica do pedal duplo.

Dinâmica e enérgica -assim se pode adjetivar a performance dos SOJA na passada sexta-feira, no Coliseu dos recreios. A bandacontinua agora o resto da sua digressão, depois das duas datas em Portugal. Na mente dos presentes decerto terá ficado um desejo de voltar a ver a banda em solo nacional. Esperemos, então, que os festivais de verão o proporcionem.

Manuel Rodrigues