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Palco Principal - Como é que surgiu o nome Spain?
Josh Haden- Foi em 1993. Estava a tentar lembrar-me de um nome para a banda e, numa noite, tive um sonho em que alguém me dizia que a banda se devia chamar Spain.
PP - Um dia, estava a falar com um amigo sobre a canção “All I Can Give”, do álbum “Soul of Spain”. Ele dizia que era o Josh Haden a cantá-la; eu dizia que não. Quem canta, afinal, essa canção?
JH - Tinha razão. O cantor é o guitarrista dos Spain, Daniel Brummel.
PP - Por que é que cantam sempre canções sobre o fim das relações? E, mesmo quando falam sobre o amor, as canções são sempre muito tristes, calmas…
JH - Oh, man… Provavelmente porque o fim das relações é sempre um bom material para as canções. Assim como fazer as pazes. Quando tinha 20 anos e estava a começar a ver-me como um compositor profissional, ouvia muito uma banda do fim dos anos 60, início dos anos 70, chamada Cream. Eles misturavam letras de conteúdos muito tristes com músicas muito divertidas ou letras muitos divertidas com batidas mais lentas, mais melancólicas. Aquilo era o máximo para mim! Não que as minhas capacidades como compositor se aproximem das de Jack Bruce [músico fundador dos Cream], mestre do blues, mas foi uma grande influência para mim nessa idade. Agora, com 45 anos, estou mais cansado musicalmente e acho que já sei tudo. Só quero escrever canções como os LMFAO ou a Miley Cyrus.
PP - Concorda que é uma espécie de Woody Allen musical na Europa? Por que é mais popular e mais apreciado na Europa do que nos Estados Unidos?
JH - Sem o vosso apoio e o nosso sucesso na Europa não existiriam os Spain. Eu devo-vos muito. Glitterhouse, a nossa editora na Alemanha, tirou-me da sargeta e deu-me uma segunda oportunidade. E os nosso fãs na Europa apoiaram-nos. Eu adoro-vos a todos. Espero que os nossos espetáculos ao vivo correspondam às vossas expetativas e que vos deixem entusiasmados. Mas o Woody Allen... Viu o filme dele “Take the Money And Run" [“Inimigo Público Nº1”]? É um filme hilariante. Não sei como é que correm os filmes dele nos Estados Unidos. Já não vejo um filme do Woody Allen há anos! Não me lembro da última vez que fui ao cinema... Aliás, lembro-me: fui ver “A Ressaca, Parte 2” e, depois de o ter visto, nunca mais quero ver outro filme.
PP - Wim Wenders comissionou-o para escrever e cantar a canção “Every Time I Try” para o fime “End Of Violence”. Teve algum cuidado diferente na composição, uma vez que era para um filme?
JH – Wim Wenders ouviu-nos na rádio em 1995, tínhamos acabado de editar o nosso primeiro álbum, “The Blue Moods Of Spain”. Ele ligou para o meu agente na altura e convidou-nos para escrever uma canção para o seu novo filme, “The End Of Violence”. Mas ele queria tirar-nos do nosso elemento natural e levar-nos a fazer um tema mais funky, numa espécie de canção-tema, com uns loops de bateria. Nós visionámos o filme sem música, numa sessão privada onde estavam também os Los Lobos, que se sentaram na primeira fila. Éramos nós e os Los Lobos na sala. Depois disso, escrevemos um tema funky com uns loops de bateria, com um ambiente de fundo com teclas, mas Wim Winders não gostou e pediu-nos para escrever uma canção ao estilo dos Spain. Durante algum tempo andei a procrastinar. Na noite anterior ao dia em que tínhamos de a entregar, bebi algum whiskey e escrevi “Every Time I Try”. Não que eu esteja a defender o consumo de álcool para compor, foi uma coisa que aconteceu...No dia seguinte, fizemos uma demo e fomos até casa do Wim Wenders – na altura, ele vivia em Hollywood Hills –, tocámos e ele gostou.
PP - Esse tema acabou por ser um dos preferidos do público. O filme terá contribuído para isso?
JH – Não faço ideia. Tentei fazer uma outra versão com cordas para o nosso segundo álbum, “She Haunts My Dreams”, porque não tínhamos dinheiro nem tempo para colocar cordas na versão da banda sonora do Wenders. Mas continuo a preferir a versão original.
PP – Durante alguns anos, de 2001 a 2007, o Josh apostou numa carreira a solo e fez um grande interregno dos Spain. Estava cansado?
JH – Eu não estava cansado da banda, mas do negócio à volta da banda. Eu era uma pessoa muito teimosa e egoísta naquela altura. Achava que tinha as respostas todas e, quando o meu ponto de vista era contrariado, fechava-me. Sentia também uma ansiedade enorme e achava que não tinha talento suficiente para ser bem sucedido. Continuo a mesma pessoa, mas, agora, estou rodeado de pessoas de confiança que me dizem que eu estou louco quando fico mais ansioso ou pouco confiante.
PP – Em 2007, a banda foi completamente reformulada. Porquê?
JH – Eu recebia muitas cartas de fãs a dizer que gostavam muito do meu álbum a solo, mas que gostavam mais dos Spain. Por isso, mudei o nome da minha banda a solo (eu, o teclista e guitarrista Randy Kirk e o baterista Matt Mayhall) para Spain e comecei a escrever novas canções. O guitarrista Daniel Brummel juntou-se a nós em 2010.
PP – Johnny Cash fez uma versão da vossa canção “Spiritual”, assim como os Soulsavers e os Red Hot Chili Pepers, que a cantaram num concerto. Até o seu pai, o músico de jazz Charlie Haden, fez uma versão instrumental com Pat Metheny. Por que acha que isso aconteceu com esta canção?
JH – Não sei, mas é verdade, essa é a nossa canção que mais versões teve.
PP – Muitas críticas referem o facto de ser filho de Charlie Haden (famoso contrabaixo). Alguma vez viu este facto como uma vantagem ou desvantagem?
JH – Sinceramente, não sei. Deixaria essa resposta para os outros. Eu só faço aquilo que é suposto fazer.
PP – Quando li algumas das críticas que escreveram sobre vocês, era como se estivesse a ler sobre uma das melhoras bandas dos Estados Unidos. No entanto, vocês têm uma carreira muito discreta no vosso país, em vez de uma carregada de sucesso. Sentem-se confortáveis com isto? Era isto que vocês procuravam, além de fazer música, claro?
JH – John Lennon disse uma vez que não queria passar a vida num quarto a escrever canções para ninguém ouvir. Ele queria ser bem sucedido. É por isso que escreveu canções como “Yellow Submarine”. Talvez tenhamos algumas destas canções no nosso próximo trabalho.
PP – Estão a preparar um novo álbum para 2014?
JH – Sim, estamos em estúdio neste momento. Aliás, estou precisamente junto à consola de gravação enquanto falo consigo. Estamos no nosso quarto dia de gravações e a Glitterhouse será, mais uma vez, a nossa editora. Acho que a data de lançamento será em fevereiro.
Por Helena Ales Pereira
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