O concerto arrancou com duas canções novas. «Se uma Onda invertesse a Marcha» deu-nos a face melancólica da banda, enquanto que a contagiante «Não tenho mais Razões» deu origem aos primeiros meneios entre o público.

«Contado Ninguém Acredita», recuperada do primeiro disco, prolongou o entusiasmo que passou ainda para «Um Contra o Outro», o novo single que, a avaliar pela reacção do público, já está na ponta da língua de muitos.

A esta altura, começa a perceber-se uma mudança óbvia em relação aos concertos da anterior digressão. Ana Bacalhau já não explica exaustivamente cada história que se descobre nas canções dos Deolinda.

Outras mudanças, mais triviais, também começam a ser notadas. Os naperons que os acompanhavam desapareceram. Mesmo o vestido de Ana Bacalhau deixou de ser menos singelo e passou a exuberante, cor-de-rosa, com uma imponente cauda... Os Deolinda mudaram assim tanto?

E logo de seguida, a banda começou por tirar algumas dúvidas. «Passou por mim e Sorriu», tocado e interpretado com a sensibilidade e o bom senso habituais ajudaram a perceber que talvez os Deolinda não estejam assim tão diferentes. O gingar provocador de «Patinho de Borracha» reconfortou os descrentes, mesmo que nesta altura do concerto fossem poucos os que já não tivessem entrado no jogo.

Apesar de as novas músicas terem dominado o concerto (os Deolinda tocaram todas as canções do novo álbum), as “antigas” integraram-se na perfeição. «Canção ao Lado», «Fado Toninho» ou «Mal por Mal» (desta vez com a ajuda de um quarteto de cordas) continuam a entusiasmar mesmo depois de tantas audições.

Neste turbilhão de personagens, melodias, narrativas, mantém-se firme Ana Bacalhau. Durante durante todo o concerto foi hábil, como habitual, a dominar todo o palco, a fazer brilhar a sua voz, oscilando com facilidade entre agudos e graves em menos de um segundo, ou mesmo a falar para uma sala de mais mil pessoas como se estivesse a falar para cada uma delas.

Não admira que, no final, já depois do galvanizar de «Fon Fon Fon» ou «A Problemática Colocação de um Mastro», os Deolinda tenham voltado três vezes ao palco. A certa altura, os concertos dos Deolinda passam a ser também um encontro de amigos e este não foi excepção. Foi bonita a festa, pá. Já dizia outro amigo brasileiro.

Texto: Frederico Batista

Fotos: Vera Moutinho