A primeira colaboração entre os dois mc’s (mestre de cerimónias) aconteceu em 2000 no cd «Blueprint» de Jay-Z, em que Mr. West produziu a faixa «This Can't Be Life». Desde então são duas carreiras que crescem em paralelo, apesar de ambos terem estilos diferentes.
Kanye West que no início de carreira tinha um hip-hop com uma sonoridade soul e com letras muito conscientes tem-se agora tornado num misto de várias influências desde o pop eletrónico dos anos 80, passando por momentos sinfónicos com orquestras de cordas, até aos samples cheios de soul com que se apresentou no seu primeiro disco «The College Dropout». As suas letras são agora mais introspetivas e com uma elevada carga emocional.
Jay-Z sempre teve uma sonoridade muito próxima do soul, música que ouvia quando era mais novo por influência dos seus pais e que podemos encontrar nos samples de todos os seus álbuns. É um dos mc’s com o flow mais versátil e com melhor técnica de rimas. Mr.Carter é também conhecido por nunca escrever as suas letras, sabe-las todas de cor quando entra em estúdio ou quando dá um concerto. Jay-Z já tinha feito 3 álbuns em colaboração com outros artistas, The Best of Both Worlds (com R. Kelly), Unfinished Business (com R. Kelly) e Collision Course (com os Linkin Park), mas nenhum deles foi muito bem-sucedido.
«Watch the Throne» apresenta-se como um disco com uma mega produção. O duo contou com a cooperação dos melhores produtores da indústria hip-hop, entre eles Pharrell, Neptunes, Q-Tip, Swizz Beatz, RZA e 88-Keys. A sonoridade do disco faz lembrar o último álbum do Mr. West («My Beautiful Dark Twisted Fantasy»), muito soul, misturado com sintetizadores eletrizantes, com batidas “anos 80” e cordas orquestrais. Quanto às rimas, tanto Jay-Z como kanye West mostraram-se muito fortes e coesos, apresentando inúmeros flows. Jay-Z provavelmente destaca-se de Kanye West, mas não podemos deixar de sentir que este é um disco mais próximo dos trabalhos do rapper de Chicago do que de Jay.
«Watch the Throne» é um bom disco, com excelentes músicas e do qual se podem tirar muitos singles, devido à elevada qualidade dos temas. No entanto, peca pelo conteúdo, pois as músicas são muito centradas nos dois mc’s e nas suas vidas. Os dramas e os luxos de dois negros na América nada têm a ver com a realidade que o país vive hoje em dia. Não se percebe o porquê de ter poucos temas com história, quando estamos perante dois dos melhores “storytellers” do hip-hop. Outro ponto negativo é a falta de coesão do álbum que, apesar de ter músicas excelentes, não o deixa ser um álbum brilhante.
Videoclip do 1º single «Otis»
Análise de «Watch the Throne» faixa a faixa:
«No Church in the Wild»: Neste tema, com a participação de Frank Ocean e de The-Dream, fala-se de religião, drogas e sexo. Esta faixa foi produzida por Kanye West e 88-keys.
«Lift Off»: Com uma grande participação de Beyoncé, este é apontado por muitos como o próximo single do disco. Tem um refrão que nos prende e Kanye canta ao estilo com que nos habituou no 808s & Heartbreak. Jay tem apenas uma pequena participação numa faixa marcada pelos sintetizadores.
«Ni**gas in Paris»: O beat desta música destaca-se por ser bastante diferente e provavelmente vai fazê-lo abanar a cabeça. Jay-Z surge com um flow rápido e com muito «egotriping». Kanye surge com um flow mais lento e tem a melhor rima da música: «Prince William ain’t do it right if you ask me / If I was him I would have married Kate and Ashley».
«Otis»: É o primeiro single do álbum e vem com um sample de Otis Redding. Trata-se de um beat muito soulfull. Os dois mc’s mostram uma grande empatia ao trocar rimas entre si. É uma faixa muito bem conseguida que deve resultar bem ao vivo. Os rappers entretêm-se a falar dos estilos de vida luxuosos que têm, um tema transversal em todo o disco.
«Gotta Have It»: Produzido pelos Neptunes, é mais um beat soulfull com samples de James Brown. Os rappers passeiam-se de forma muito natural pelo beat, continuando a falar de dinheiro.
«New Day»: Este tema está muito bem conseguido, continuando com uma sonoridade muito soulfull, com um sample de “feelling good” da Nina Simone. Os dois rappers cantam de forma ficcional aos seus filhos que ainda estão por nascer. Kanye canta «And I’d never let my son have an ego, we gonna be nice to everyone wherever we go / I mean I might even make him be Republican, so everybody knows he loves white people.” E Jay-Z rima “Promise to never leave him even if his momma tweaking / Cause my Dad left me and I promised never repeat him.” É uma música com uma elevada carga emocional, um dos pontos altos do disco.
«That's My B**ch»: Música produzida por Kanye West, Q-Tip e Jeff Bhasker com base num sample de James Brown. Jay-Z fala sobre as mulheres negras e questiona o porquê de todos os ícones de beleza serem brancos.
«Welcome to the Jungle»: Um beat produzido pelo marido de Alicia Keys, Swizz Beatz. Jay-Z apresenta-se muito emotivo com rimas como: «My uncle died, my daddy did too, I’m numb from the pain, I can barely move. My nephew gone, my heart is torn. Sometimes I look to the sky, ask why I was born». Outro dos temas mais fortes do disco.
«Who Gon Stop Me»: Esta faixa conta com um sample de «I Can't Stop» de Flux Pavilion, com uma sonoridade muito próxima do Dubstep. Os dois mc’s apresentam-se bastante agressivos e disparam para punchlines em todas as direções. Mais uma música muito bem conseguida que dá vontade de ouvir novamente.
«Murder to Excellence»: Esta faixa contém dois beats diferentes um para «Murder», produzido por Swizz Beatz e outro para «Excellence» produzido pelo S1. Esta é a faixa mais consciente do álbum. Aqui os músicos comparam os homicídios nos Estados Unidos com as mortes dos soldados americanos no Iraque.
«Made in America»: Conta com a participação de Frank Ocean. Mais uma faixa muito soulfull, emotiva e introspetiva, característica dos álbuns de Kanye West. Os dois rappers cantam sobre parte da sua infância.
«Why I Love You»: Trata-se de um grande tema, em que Jay-Z é o grande protagonista (mal se nota a presença de Kanye West) e conta com a participação de Mr. Hudson. Contém um sample da música «I Love You So» de Cassius. É um final perfeito para o disco.
@Edson Vital
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