“Parem de fingir que a tecnologia vai manter-nos felizes e saudáveis quando o mundo natural tiver sido destruído”, afirmou Cameron numa sessão em Los Angeles sobre a minissérie “Secrets of the Octopus”, da qual é produtor executivo e que tem narração do ator Paul Rudd.
“Os humanos estão a usar os oceanos como sanitas”, considerou, apontando para o despejo de dejetos e desperdícios agrícolas no mar e para a existência de “zonas de morte em massa” em vários ecossistemas aquáticos.
“É isso que me assusta”, partilhou James Cameron que além de produtor executivo da minissérie também é Explorador Principal da National Geographic.
“Secrets of the Octopus”, ou Segredos do Polvo, é apresentado pela australiana Alex Schnell com a colaboração de Sy Montgomery, naturalista e autora de um novo livro com o mesmo título.
“O que estamos a revelar com esta série é que os polvos têm pontos de semelhança com os quais nos podemos relacionar e vislumbres de inteligência que antes pensávamos que eram únicos dos chimpanzés, golfinhos e elefantes”, disse Alex Schnell, numa mesa redonda em que a Lusa participou.
“Eles têm as emoções à flor da pele, por isso se entendermos o que os padrões da sua pele querem dizer, podemos entender como se sentem”, explicou a mergulhadora, afirmando que há “uma grande variedade” de personalidades nos polvos e isso será uma descoberta para a audiência.
Sy Montgomery, naturalista que aprendeu a fazer mergulho quase aos 60 anos para interagir com polvos, frisou que é precisa muita paciência para ter experiências diretas com estes animais, que começam a interagir quando se habituam aos mergulhadores.
Foi isso que disse James Cameron na sessão de perguntas e respostas, referindo que contar estas histórias obrigou a um “nível muito mais elevado” que qualquer outra coisa que ele fez no passado. O realizador partilhou que uma das suas esperanças é que a minissérie ajude a perceber a necessidade de preservar os oceanos.
“É uma luta pela sustentabilidade e preservação da natureza”, afirmou, caracterizando-se como “infinitamente fascinado” pelo mundo natural. “Se conseguir que as pessoas se apaixonem por estes animais, talvez lutem com mais força”, acrescentou.
Cameron salientou o “comportamento incrível” que os polvos exibem e que até há alguns anos não era conhecido ou era pouco apreciado. O livro “Soul of an Octopus”, que Sy Montgomery publicou em 2015, desencadeou um interesse renovado por polvos e motivou a criação da OctoNation, o maior “clube de fãs” de polvos no mundo.
“O que eles conseguem fazer é de nos deixar de queixo caído”, disse James Cameron.
Com três episódios, a minissérie mostra “um retrato íntimo” de animais que são completamente diferentes de nós, salientou o diretor de fotografia Adam Geiger.
“Penso que os polvos são tremendos embaixadores do mundo natural”, afirmou. “A realidade é que, se o mundo natural não funcionar bem, nenhum de nós sobreviverá”.
Alex Schnell frisou que nenhuma das 300 espécies conhecidas de polvos consta da lista de espécies ameaçadas, não porque estejam a salvo mas porque sabemos pouco sobre elas.
“Posso dizer que os polvos são extremamente sensíveis a mudanças no ambiente, na acidez e salinidade”, revelou. “A temperatura pode afetar o seu apetite, ritmo de desenvolvimento e se atingem ou não maturidade sexual”. Uma vez que vivem apenas dois anos e tanto são presas como predadores, impactos na população podem desequilibrar o ecossistema marinho.
Schnell criticou o projeto de criação de polvos em cativeiro da Nueva Pescanova nas ilhas Canárias, considerando-o horrível.
“A ciência prova que não é possível criar polvos em cativeiro eticamente”, disse, acrescentando que “não há forma ética de matar animais”.
Os produtores referiram que nunca comeram polvo nem lulas e Sy Montgomery considerou que há muitas outras coisas que se podem comer em vez de matar seres que querem continuar vivos. “Comam sandes”, instou.
“Secrets of the Octopus” estreia no National Geographic na véspera do Dia da Terra, que se assinala a 22 de abril, chegando depois ao Disney+.
Comentários