José Vianna da Motta (1848-1968) foi “um dos maiores pianistas do seu tempo e um dos maiores artistas portugueses de que há memória", assinala em nota o CCB, acrescentando: "Personalidade de exceção, deixou-nos um legado único enquanto intérprete virtuoso, professor aclamado, pedagogo reformador, compositor inovador e intelectual de rara erudição”.

O recital, que é comentado pelo musicólogo Bruno Caseirão, é constituído pelas peças de Vianna da Motta “Cenas Portuguesas” (opus 09, 15 e 18), que são “os primeiros exemplos do nacionalismo musical em Portugal”, e ainda Serenata, a composição “Vito”, e a Rapsódia n.º 4, intitulada “Oração da Tarde”.

Do programa do recital fazem também parte nove peças de Alexandre Rey Colaço (1854-1928), reunidas sob o título “Fados”, publicado em 1895.

Intitulado “O surgimento do nacionalismo musical”, o recital esteve agendado para o dia 13 de outubro, tendo sido adiado devido às condições atmosféricas, com a chegada do furacão Leslie ao território continental.

Vianna da Motta é considerado como o introdutor do nacionalismo musical em Portugal, refere o CCB.

"Evidenciando grande talento para o piano e para composição desde a infância, aprofundou o estudo da composição durante a juventude na Alemanha, mas foi enquanto jovem virtuoso do piano, estabelecido em Berlim, que [Vianna da Motta] começou a revelar um grande interesse pela composição e nesta pela procura de uma música de ‘cor’ portuguesa”, lê-se na nota.

Segundo a mesma fonte, o compositor, nascido na ilha de São Tomé, então sob administração colonial portuguesa, compôs “o essencial da sua produção musical” entre 1893 e 1908: “Quase toda ela para piano, com as Rapsódias Portuguesas, as Cenas Portuguesas opus 9, 15 e 18, e a Balada opus 16”.

“Nesse afã de portuguesismo”, Vianna da Motta descobriu Luís de Camões, que lhe inspirou várias composições, nomeadamente a sinfonia “À Pátria”, “a primeira grande obra sinfónica portuguesa em mais de meio século, a primeira a introduzir o que de mais moderno se praticava na Europa de então”.

O CCB realça a ligação de Vianna da Motta a Franz Liszt, tendo o pianista português recriado, em 1900, o recital de homenagem ao pianista e compositor húngaro, realizado em Weimar, na Alemanha, quando se completaram 14 anos sobre a sua morte. Tratou-se de um recital a dois pianos, em que Vianna da Motta teve como parceiro Ferruccio Busoni (1866-1924).

Artur Pizarro, nascido há 50 anos em Lisboa, tocou pela primeira vez em público aos 3 anos e apresentou-se na televisão portuguesa aos 4. Foi a sua avó, a pianista Berta da Nóbrega, quem lhe despertou o gosto pelo piano.

Com atuações regulares no estrangeiro, é o único pianista português que venceu o Concurso Internacional de Piano Vianna da Motta, em 1987, tendo sido discípulo, durante 17 anos, do pianista José Sequeira Costa, atualmente com 89 anos.

Sequeira Costa, em declarações à agência Lusa, em julho de 2007, afirmou que, "além das bases que tem, Pizarro é um inovador ao procurar sempre novas formas de interpretação, quando a maioria segue modelos pré-estabelecidos e não tem imaginação".

Pizarro, na ótica de Sequeira Costa, cumpre uma tradição de dois séculos que remonta a Ludwig van Beethoven.

"Formámos uma escola excecional: Beethoven, que ensinou Karl Czerney, que foi professor de Franz Liszt, que por sua vez ensinou Vianna da Motta, eu, seu discípulo, e a seguir a mim Artur Pizarro", disse à Lusa Sequeira Costa.

Na ocasião, Sequeira Costa apontou até Pizarro como o continuador da organização do Concurso Vianna da Motta: "Moldei uma escultura especial, um Artur Pizarro que, artística e musicalmente, será o continuador da obra dos concursos Vianna da Motta, se ele o quiser, puder e as autoridades permitirem".