A relação “histórica, mercantil e sanguínea ancestral” entre Portugal e a Inglaterra, a existência de uma comunidade britânica no Porto, que “faz parte da história da cidade”, e “a urgência” em partilhar com o público “um património musical de primeira grandeza”, motivaram a escolha do Reino Unido como país temático 2017, disse hoje à Lusa o diretor artístico da Casa da Música.

“Para alguns será uma mera confirmação daquilo que já sabem e já conhecem, mas para muitos será de certeza uma revelação, uma verdadeira revelação de um património musical, talvez mal conhecido, mas que merece este destaque, este ano, na temporada da Casa da Música”, sublinhou António Jorge Pacheco.

O ano britânico arranca com a “Casa Aberta”, iniciativa que, até domingo, vai permitir ao público “ver aquilo que normalmente não tem oportunidade de ver” quando ali se desloca para assistir a um concerto, disse o diretor artístico, contando que haverá música em todo o edifício, visitas guiadas pelos diferentes espaços, exposições e oficinas, além de concertos dos agrupamentos residentes.

No âmbito deste festival de quatro dias, intitulado “God Save The Queen!”, o concerto oficial de abertura está programado para as 21:00 de sexta-feira, com a Orquestra Sinfónica da Casa da Música a mostrar “a música britânica de várias épocas, com especial relevância para uma obra do compositor em residência na Casa este ano, Harrison Birtwistle, considerado o mais relevante compositor britânico e no panorama europeu da atualidade”, afirmou o diretor artístico.

Para sábado, destacou também, haverá a conferência “O Impacto do Brexit na vida musical britânica”, tema que “não está ainda a ser discutido, sobretudo no Reino Unido, mas que motiva preocupações”, disse.

Segundo o diretor artístico, “há várias preocupações no meio musical britânico, nomeadamente o virem a ficar isolados na ilha devido a, por exemplo, barreiras alfandegárias e outras”.

“Há uma preocupação real no mundo musical britânico relativamente a este aspeto”, sustentou, acrescentando que esta conferência, organizada em colaboração com o British Council, conta com a presença de Nicholas Kenyon, director do Barbican Centre e organizador dos Proms (festival de música anual londrino) durante uma década.

Num “jogo de palavras com a citação de Shakespeare”, referiu, “To Be or Not to Britten” é um “espetáculo de teatro musical” que estará também em destaque no sábado, bem como a apresentação pelo Remix Ensemble da “estreia nacional de uma obra emblemática que terá no centro do concerto Harrison Birtwistle”.

Os quatro dias da “Casa Aberta” terminarão no domingo ao fim da tarde, com o Coro da Casa da Música a mostrar “momentos importantes da vida coral britânica, desde a Renascença até aos nossos dias”.

Na programação para 2017, O Reino Unido marcará sempre presença, sendo ainda de realçar o festival Música Revolução, em finais de abril, no qual “os escândalos dos Proms” serão interpretados.

“Indiretamente ligado ao tema britânico, em setembro haverá o festival temático Humor na Música”, concluiu ainda o diretor artístico.