"Não conheço ninguém que pensasse que a campanha do referendo de 23 de junho seria tão amarga e maldosa como está a ser", disse, em entrevista à AFP, o escritor britânico e membro do parlamento britânico.

Quando questionado se os ataques entre líderes conservadores têm alguma semelhança com sua obra, responde, sorrindo, "a ficção política é muito simples: pega na realidade e suaviza-a".

Dobbs escreveu "House of Cards", um romance sobre chantagens, violência e ambição no Parlamento ("Houses of Parliament") há 30 anos, após uma disputa com a então primeira-ministra Margaret Thatcher, de quem foi chefe de gabinete.

A sua obra inspirou a série do serviço de streaming norte-americano, em que Kevin Spacey interpreta o político impiedoso Frank Underwood, que não vê barreiras na luta pelo poder.  Dobbs é o produtor executivo da série.

No início do ano, Dobbs escreveu um artigo em nome de Underwood, no qual defendeu a saída do Reino Unido da União Europeia porque é "como uma passagem de autocarro usada".

Em entrevista às portas do palácio de Wesminster, o escritor de 67 anos insistiu em que a UE. está "partida" e que a única solução é sair.

"Se está em num grande navio que vai contra a um iceberg, e tem 28 capitães ao leme, pode-se dizer que tem gente a mais na ponte de comando", afirmou, em alusão aos 28 membros da União Europeia.

"O status quo não significa estabilidade", acrescentou, recordando a crise dos refugiados às portas da Europa, da ameaça do presidente russo, Vladimir Putin, e os problemas económicos.

Depois do governo grego ter aprovado, na segunda-feira, 13 de junho, mais medidas de austeridade em troca de recursos da UE, Dobbs alertou: "Quanto tempo poderemos continuar infligindo esta dor, esta dor terrivelmente injusta a um país como a Grécia antes de que quebre?".

Críticas a Obama

O seu apoio à saída da União Europeia é contrária à posição do primeiro-ministro conservador, David Cameron, um amigo que o nomeou para a Câmara dos Comuns em 2010, mas que o alinha com uma parte significativa do partido.

A campanha tem sido marcada pelos duros debates entre os conservadores, mais divididos sobre o tema do que os trabalhistas.

Dobbs, que já viu como o partido se dilacerou pela Europa quando era vice-presidente dos conservadores, no final dos anos 1990, disse que ver aflorar tudo aquilo outra vez lhe dá "muita pena". "Quanto mais se alongar, mais dano haverá e mais difícil será depois unir o partido", afirmou.

O escritor acusou, ainda, as duas partes de dizer "verdadeiras tontices", mas reservou as suas críticas mais duras para o presidente norte-americano, Barack Obama, que advertiu que o Reino Unido iria "para o final da fila" nas negociações comerciais se deixar a UE.

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