A 14 de novembro de 1922, a voz do diretor de programas Arthur Burrows foi ouvida em alguns aparelhos de rádio e inaugurou a British Broadcasting Corporation (BBC), que desde então se tornou um gigante mundial dos meios de comunicação.

A instituição pública britânica, fundada oficialmente a 18 de outubro de 1922, celebra um século de história num momento de incerteza sobre o seu futuro, após cortes orçamentais drásticos.

Para os britânicos, "a BBC somos nós", afirma Jean Seaton, professor de História da Comunicação na Universidade de Westminster.

"A BBC é uma expressão do nosso sentido de humor, interesses, valores. Não é propriedade do governo, não é propriedade de uma empresa privada: é nossa propriedade", acrescenta.

Para quase sete milhões de pessoas no Reino Unido, o dia começa na Radio 4, com o influente programa de notícias "Today". Nos fins de semana, "Strictly Come Dancing", programa de dança na televisão, permanece um sucesso quase 20 anos após a estreia.

O veterano naturalista David Attenborough, que dirige documentários desde a década de 1950, divulgou as maravilhas do planeta para centenas de milhões de espectadores. Séries de ficção como "Peaky Blinders", "Fleabag" e "Killing Eve" são exportadas para todo o mundo.

A influência da BBC supera as fronteiras do país.

A emissora tem uma audiência mundial de 492 milhões de pessoas todas as semanas, de acordo com o relatório 2021-2022 do grupo. O prestigiado Serviço Mundial da BBC é transmitido em quase 40 idiomas e é uma ferramenta importante da influência britânica.

Durante um século, o grupo manteve a sua tripla missão original: "informar, educar e entreter".

"Estes valores são a base de tudo o que fazemos", explica James Stirling, que coordena as comemorações do centenário.

Imparcialidade

Outra palavra repetida é "imparcialidade", uma prioridade para a direção do grupo, apesar das críticas do governo conservador à BBC.

O Executivo acusou a emissora de ter feito uma cobertura do Brexit com uma postura hostil à saída da União Europeia. De modo geral, o governo acusa a BBC de se concentrar nas preocupações das elites urbanas em vez das classes trabalhadoras.

Em janeiro, o governo do então primeiro-ministro Boris Johnson congelou durante dois anos o imposto audiovisual (159 libras, cerca de 103 euros, por residência) que financia a instituição, um grande problema para o grupo no momento em que a inflação no Reino Unido se aproxima de 10%. Além disso, o Executivo citou a possibilidade de abolir a taxa nos próximos anos.

Sob pressão orçamental, a BBC anunciou em maio um plano de economia de 500 milhões de libras por ano, que inclui o corte de quase mil postos de trabalho (de quase 22 mil funcionários), a fusão de alguns canais e a transmissão de outros apenas pela internet.

O contexto financeiro difícil é acompanhado por uma fuga de espectadores para as plataformas digitais, em particular os jovens, que desta maneira passa a questionar o imposto audiovisual.

"Orgulho"

Mas formatos novos e bem-sucedidos também foram criados. O jornalista Ros Atkins tornou-se um dos rostos da inovação com os seus vídeos que em poucos minutos apresentam um tema atual com análise, verificação de factos e contexto.

Os vídeos são divulgados nas redes sociais e registam milhões de visualizações em todo o planeta, no site da BBC e na televisão.

"Milhões de pessoas acompanham as notícias na BBC. Porém, milhões de pessoas recebem as notícias no Twitter, Instagram, TikTok", disse Atkins à AFP. E ele dirige-se ao segundo grupo com os vídeos: "A nossa audiência demonstra que este tipo de jornalismo tem público".

Atkins, que começou a trabalhar para a BBC em 2001, tem consciência das dificuldades do grupo.

"Isto vai ter um impacto em todos que trabalham aqui", reconhece. Mas o orgulho de ser jornalista da BBC permanece intacto para ele, que acredita trabalhar "para a melhor organização de imprensa do mundo".

O apresentador do "Today", Nick Robinson, também faz perguntas sobre o futuro da BBC.

"Se a geração dos meus filhos concluir que não precisa [da BBC], que pode ter tudo que deseja no YouTube, Sky, Netflix, então estamos acabados", afirmou ao jornal The Telegraph.

"Mas merecemos se não conseguirmos provar o nosso valor agregado para as pessoas", completou.

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