O alerta foi deixado pelos diretores artísticos da Big Band Júnior (BBJ), à margem dos ensaios para um concerto no domingo, com repertório de Bernardo Sassetti.

João Godinho e Alexandra Ávila Trindade assumem estar à procura de um parceiro, idealmente um apoio privado, para poderem sobreviver e não acabarem transformados numa “aula” extracurricular.

Criado em 2010, o projeto tinha inicialmente como parceiros o Hot Clube de Portugal e o Centro Cultural de Belém (CCB), que, além de o cofinanciar, acolhia três concertos da BBJ, na sua programação, em cada temporada.

No entanto, com a mudança da administração, os objetivos também mudaram e deixaram de contemplar o projeto da BBJ, disse à Lusa Alexandra Ávila Trindade, diretora artística.

Sem o apoio estrutural do CCB, mas a precisarem de tocar e preparar a temporada 2017-2018, o que os responsáveis pela BBJ fizeram foi transformar as aulas semanais em “estágios de orquestra” intensivos, para serem mais rentáveis, cada um seguido de concertos.

É o que está a acontecer durante esta semana de férias da Páscoa, em que, durante sete dias, os alunos ensaiam diariamente, das 10:00 às 18:00, para prepararem o concerto “Big Band Júnior abraça Sassetti”.

O resultado surpreendeu pela positiva: muitos alunos que não tinham disponibilidade de horário para frequentar as aulas semanais, voltaram ao grupo, a qualidade musical subiu, também fruto da intensidade dos ensaios, há mais candidatos para a orquestra e, pela primeira vez, têm uma orquestra “tão completa”.

A escolha do repertório de Bernardo Sassetti também “caiu que nem uma luva”: “Nunca tocámos tanto, são dez espetáculos”, disse Alexandra Ávila.

Contudo, nada disto garante o dinheiro necessário para sustentar o projeto, nomeadamente para pagar a equipa, que integra ainda um diretor musical e pedagógico, um secretário de orquestra, pessoal de produção e agenciamento, e ainda professores e músicos convidados.

“Sem isto não podemos sobreviver, teremos de mudar muito o projeto e passar a ser só uma aula. Acreditamos que a BBJ tem as características de um projeto para jovens que é raro. Foi um trabalho de dez anos”, desabafou.

João Godinho sublinhou ainda tratar-se de “um projeto único”, que gostariam até de ver replicado noutros pontos do país.

“Permite aos miúdos contacto com músicos profissionais, com programadores, com produtores de programa, com direção de cena, com sessões fotográficas, gravação de discos, tocar com músicos profissionais… Não é só mais uma big band júnior, tem uma estrutura profissional, sem a pressão de ser profissional”, acrescentou o diretor artístico.

Não escondendo que “um apoio privado seria o ideal”, João Godinho recusa-se em colocar a BBJ no papel do “coitadinho que pede por favor para ser apoiado”, preferindo falar em “parceria”.

“Porque temos alguma coisa para dar, temos esta orquestra montada e podemos oferecer concertos”.