
Os manifestantes também pediram a convocação de eleições diretas e a retirada dos projetos de austeridade no Congresso.
"Se empurramos, Temer cai", repetiam, em coro, os manifestantes.
Mas o presidente, de 76 anos, voltou a negar categoricamente que vá deixar o poder, numa coluna publicada este domingo no jornal Folha de S. Paulo.
"O Brasil não parou e nem vai parar, apesar da crise política de que, reconheço, estamos a padecer", escreveu Temer, que espera ser lembrado como o homem que conseguiu com as suas reformas pró-mercado tirar o gigante latino-americano da pior recessão de sua história.
Pouco mais de um ano depois de suceder à presidente Dilma Rousseff - destituída do cargo -, o cargo de Temer está por um fio por causa da gravação feita por um dos donos da gigante Joesley Batista, em que o presidente parece dar o seu aval para comprar o silêncio do deputado Eduardo Cunha (PMDB/RJ), preso em Curitiba.
"Podres poderes"
Os rappers Mano Brown e Criolo e Mart'nália estavam entre os artistas mobilizados pelas palavras de ordem "Fora Temer" e "Diretas já".
O concerto, celebrado em Copacabana, com o mar encoberto pelo nevoeiro, atingiu o seu auge quando Caetano Veloso chegou a entoar os versos de "Podres Poderes".
"Será que nunca faremos senão confirmar/ a incompetência da América católica/ que sempre precisará de ridículos tiranos?", cantou Caetano, acompanhado pela multidão.
Milton fez o público delirar com "Nos bailes da vida".
Segundo a Constituição, se Temer for destituído ou renunciar, a Câmara dos Deputados deverá escolher o seu sucessor no prazo de 30 dias para completar o mandato de Dilma até ao fim de 2018. Muitos brasileiros opõem-se a estas eleições indiretas, desconfiados de um Congresso com dezenas de legisladores investigados por corrupção.
Por isso, exigem "Diretas já", repetindo o apelo da campanha de 1984 pelo movimento democrático que reivindicava o fim da ditadura militar e o regresso das eleições diretas para presidente.
"Temer e todos os golpistas tiraram uma presidenta eleita legitimamente sem motivo que o justificasse. Trinta anos depois é o mesmo processo. Queremos a retomada da democracia e eleições diretas já", disse à AFP Sirlei Oliveira, socióloga de 52 anos, que veio de São Paulo para assistir ao espetáculo.
Para Diego Kapaz, arquiteto de 33 anos, a simples substituição de Temer seria "um golpe dentro do golpe". Para ele, os grupos que apoiam Temer só estão interessados em apressar a votação das reformas que aumentam a idade da reforma e flexibilizam as leis de trabalho.
"Temer fará aprovar as reformas e depois deixará alguém para administrar as coisas. Por isso uma eleição indireta não muda nada", afirmou.
Celso Amorim, ex-ministro das Relações Externas de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e da Defesa de Dilma, estava entre os manifestantes, que se aproximaram dele para o abraçar e tirar fotos.
"Temer deixou de ser funcional" para quem o levou ao poder, disse Amorim à AFP.
Para o ex-chanceler, os brasileiros devem agora "eleger um presidente legítimo, capaz de conduzir reformas. Não essas que estão aí, que não merecem nem o nome de reformas, mas reformas para recuperar a soberania, fazer que o povo tenha acesso não só aos bens mas que tenha participação nas escolhas políticas".
A esquerda, na defesa nos últimos anos por causa do colapso económico e das acusações de corrupção contra muitos dos seus líderes, inclusivamente Lula, parece ver nesta crise uma oportunidade para levantar a cabeça.
Na quarta-feira passada, mobilizou dezenas de milhares de pessoas em Brasília. Durante o protesto, grupos de jovens encapuzados atacaram vários ministérios. Os confrontos com a Polícia deixaram 49 feridos, um deles a bala.
À espera do desenlace?
Acusado pela Procuradoria-geral da República de obstrução da Justiça, organização criminosa e corrupção passiva e com vários pedidos de impeachment, Temer tenta evitar uma deserção em massa de seu governo.
O seu destino pode ser decidido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que julgará a partir de 6 de junho as irregularidades no financiamento da sua campanha de 2014 que compôs com Dilma Rousseff, na qual foi candidato à vice-presidência.
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