“Esta peça é, de certo modo, uma fantasia orquestral baseada em textos que fui escrevendo que vão descrevendo por sua vez uma floresta de sons, uns animais imaginários. É uma fantasia, no verdadeiro sentido da palavra”, disse à Lusa o compositor formado na Kunstuniversität de Graz, na Áustria.

A peça, na qual Sá-Dantas começou a trabalhar há cerca de seis meses, integra o programa do concerto da Orquestra Sinfónica do Porto no sábado, sob direção de Baldur Brönnimann, numa noite que conta ainda com obras de Veress, Holliger e termina com a última sinfonia de Prokofiev.

De acordo com o Jovem Compositor em Residência deste ano na Casa da Música, estão já marcadas mais duas estreias, a primeira das quais pelo Perspective Trio a 04 de outubro e a seguinte, a 01 de novembro, pelo Remix Ensemble com direção de Peter Rundel.

“Esta peça partiu do estudo de certos pássaros que abominam o silêncio e que gritam estridente e insistentemente logo que nada ouvem, calando-se assim que um novo som se tenha restabelecido. Aos poucos fui descobrindo as características destes animais, como por exemplo terem o instinto de gritar não só quando deixam de ouvir, mas também quando ouvem o grito dos seus congéneres, o que resulta em ondas muito curtas de som fortíssimo capaz de ensurdecer quem estiver próximo demais; mas também como estes animais não só se deixam alertar, mas fascinar pelo silêncio”, escreveu António Sá-Dantas.

O compositor português trabalha também como maestro em dois coros e uma orquestra na Áustria, duas funções que considera em “equilíbrio entre uma e outra”.

“Sinto uma grande curiosidade em relação às minhas composições e em relação ao meu trabalho como maestro sinto que gostam. Do trabalho como maestro em si é principalmente importante que os músicos se sintam confortáveis e o ‘feedback’ é muito positivo”, disse Sá-Dantas.