Já foi feito um álbum inteiro com a ajuda da inteligência artificial (IA), algo sem precedentes. Trata-se de "I am AI", que se traduziria como "Eu sou IA", da estrela do YouTube Taryn Southern, que não sabe tocar nenhum instrumento.

"Para a minha primeira canção, tive muitas dificuldades: escrevi a letra, tive a melodia, mas foi difícil compor a música", explicou a artista num painel no domingo no SXSW, que é realizado até 17 de março em Austin, Texas.

A artista pop explicou que começou a experimentar com IA dois anos atrás, trabalhando com o Amper, um programa de composição de música.

"Em dois dias havia composto uma canção que sentia de facto como sendo minha", indicou Southern. "Não dependo necessariamente de outras pessoas".

Fundado em 2014 em Nova Iorque por um grupo de engenheiros e músicos, o Amper é parte de uma dezena de start-ups que usam inteligência artificial para romper a forma tradicional de fazer música.

O fundador da companhia e CEO, Drew Silverstein, disse que o objetivo não é substituir os compositores humanos, mas ajudá-los a atingir seus os objetivos.

Taryn Southern

Silverstein afirmou que o programa conta com toneladas de material - desde música para dançar até música clássica - para produzir canções personalizadas.

"A ideia do Amper é permitir que todos possam se expressar através da música, independentemente dos seus antecedentes e capacidades", disse.

Utilizando uma interface bastante simples, a aplicação permite que o utilizador escolha o género musical (rap, folk, rock), um ambiente (feliz, triste, enérgico) e a duração da canção. O utilizador então pode variar os tempos e os instrumentos até obter um resultado satisfatório.

Foram criadas duas canções pelo Amper no SXSW: o público escolheu pop e hip-hop como géneros, e doce e triste como ambiente. As faixas foram suficientemente agradáveis para o ouvido e perfeitamente utilizáveis como música de fundo para ilustrar um vídeo ou um jogo de computador.

Estas canções foram descritas pelo Amper como "música funcional" e não como "música artística".

Algoritmo criativo? 

Southern disse que editou as canções para seu o álbum muitas vezes até chegar à melodia perfeita.

"É uma ferramenta que posso usar no meu processo criativo, mas ainda sou a editora, estou no assento do motorista".

Reconheceu, no entanto, estar aterrorizada com as críticas que pode vir a receber quando seu o álbum sair para os escaparates, como aconteceu quando foram introduzidos sintetizadores ou softwares para ajudar os artistas a cantar corretamente.

Jay Boisseau, líder em tecnologias informáticas, prevê que no futuro os computadores gerarão cada vez mais música, mas que é pouco provável que a máquina substitua totalmente o toque humano.

"Os computadores não são muito criativos", disse. "Podem encontrar padrões, mas não são como os humanos, não vão além daquilo para que estão treinados".

Lance Weiler concorda. O cineasta e escritor norte-americano, que usa IA no seu trabalho, disse que a colaboração entre máquinas e artistas não deve ser desprezada, mas destacou que tem limites.

"É como interagir com uma criança", brincou. "Pode ser muito temperamental e é preciso estabelecer padrões para que não se magoe".

Silverstein ressaltou que embora a IA tenha sido útil para uma meta objetiva - "uma resposta de sim ou não" -, quando se trata de experimentação artística, "está longe de ser perfeita".

Para alguns, estes argumentos não são convincentes, como expressou um músico britânico no SXSW, que questionou se o termo criatividade poderia ser aplicado à música gerada por computador.

"É um algoritmo", disse Boisseau. "Não quer dizer que as pessoas não vão desfrutar do resultado, mas não é completamente nova (...) não pode ser considerada 'criativa'".

"Ainda não", respondeu Silverstein.