"O senhor e a senhora Dursley que vivem no número quatro de Privet Drive sempre afirmaram, para quem os quisesse ouvir, ser o mais normal que é possível ser-se, graças a Deus. Eram as últimas pessoas que alguém esperaria ver envolvidas em algo estranho e misterioso porque, pura e simplesmente, não acreditavam nesses disparates". Foi com estas palavras que, a 26 de junho de 1997, os fãs de todo o mundo entraram no mundo de magia de "Harry Potter". 20 anos depois, o universo criado por J.K. Rowling continua a encantar fãs em todo o mundo e Portugal não fica de fora.

Depois da história ter sido rejeitada por 10 editoras, "Harry Potter e a Pedra Filosofal" chegou às livrarias de todo o mundo. A ele seguiram-se mais seis livros, oito filmes, uma peça de teatro, parques temáticos, um percurso turístico na Escócia, uma exposição permanente em Londres e inúmeros objetos de marketing do universo jovem bruxo.

Nos dias de hoje, poucos livros podem ser comparados em termos de popularidade.  Os sete volumes da saga foram traduzidos para 79 idiomas em 200 países e venderam um total de 450 milhões de exemplares desde o seu lançamento em 1997, segundo a editora britânica Bloombury.

A primeira edição do primeiro livro teve uma tiragem de mil exemplares - convertidos hoje em tesouros para os colecionadores - e valeu a J.K. Rowling um contrato de aproximadamente 1700 euros.

Em Portugal, o fenómeno de "Harry Potter" continua bem vivo. Rosário e Ana, mãe e filha, respetivamente, são duas fãs da saga sobre o jovem feiticeiro e vivem ativamente a história. Atualmente fazem parte do grupo no Facebook dedicado a "Harry Potter", que organiza vários eventos anuais e aulas de magia, por exemplo.

Rosário Bonito, de 52 anos, conta ao SAPO Mag, que descobriu o mundo de Harry Potter e companhia em 2001, ano em que "Harry Potter e a Pedra Filosofal" chegou ao grande ecrã. "Descobri, quando sem querer, mostrei este mundo à minha filha. Sobre ler, só comecei agora, porque sinto necessidade de os acompanhar nos eventos", conta, acrescentando que os livros complementam a história dos filmes.

Harry Potter

"Foi quando a minha mãe comprou o primeiro leitor de DVD lá para casa. Comprou dois DVD's: 'A Branca de Neve' e o 'Harry Potter e a Pedra Filosofal'. E pronto, foi o início de tudo. Comecei a ler o livro depois de ver o filme, mas foi impossível acabar nessa altura, pois era um bocado nova e andava sempre a brincar com o livro, ou seja, o marcador estava sempre a cair e não conseguia avançar, tinha que começar sempre do início. E como sabia o filme de cor (como era muito nova não conseguia ler as legendas rápido então via dobrado em português) acabava por dizer as falas em vez de ler o que lá estava. Só voltei a pegar no livro, já tinha 21, depois de começar a frequentar os eventos dos Estudantes. Quis ler pois sentia que algumas pessoas sabiam mais pormenores do que eu, então resolvi ler os livros todos para saber tudo o que eles tinham", conta Ana, filha de Rosário, de 25 anos, acrescentando que o primeiro livro não foi o seu preferido.

Ana explica que puxou a mãe para o mundo criado por J.K. Rowling. "Cresci com o Harry. É impossível não ter uma ligação. Os filmes acabaram sempre por ser um exemplo", frisa. "É impossível não ter uma ligação também. Eu tinha que ir ver os filmes porque ela queria e revia e revia. Eu tinha que os ver também. E se não os visse, ela vinha e contava-me tudo com o seu ar teatral, assim era fácil imaginar o filme", acrescenta Rosário.

Os anos vão passando, mas Rosário e Ana continuam muito ligadas a "Harry Potter". "As memórias que tenho são de eu e mais dois colegas da escola andarmos sempre a brincar como se fossemos estudantes de Hogwarts e tínhamos uma professora do colégio que também adorava 'Harry Potter' e que nos incentivava a continuar a nossa brincadeira. Lá está, tinha uns 9/10 anos. Quando realmente o li, não conseguia não me lembrar da altura que andava sempre a tentar lê-lo em criança. Estava sempre a tentar lembrar-me até onde é que já o tinha lido nessa altura. Li na altura que andava a trabalhar no verão para conseguir pagar a inscrição na faculdade. E realmente era um bom escape, pois a patroa não era muito simpática, então eu adorava enfiar a cabeça no livro nos bocadinhos descanso e esquecer que ali estava, nem que fosse por aqueles escassos minutos de descanso", revela Ana ao SAPO Mag.

João Gomes, de 14 anos, é outro dos fãs que faz parte do grupo de Facebook dedicado a "Harry Potter". O jovem de Lisboa é um dos membros mais novos e descobriu muito recentemente o universo do jovem feiticeiro. "Tenho primos que sempre foram apaixonados pelos livros e pelos filmes. Enquanto falavam entre eles, comecei a perceber o que era Harry Potter. Por isso, o básico de Harry Potter conheço desde de que me lembro", conta, acrescentando que começou a ler os livros há três meses porque tinha de fazer uma apresentação para a escola.

"O primeiro livro foi fantástico! Assim que comecei a ler os primeiros capítulos percebi que estava finalmente a ler alguma coisa que me cativava como nenhum outro livro o conseguiu fazer. Neste momento já li todos os livros da saga", conta João, revelando que a mãe o influenciou a ler. "A minha mãe foi uma grande influencia porque se preocupava muito com o meu vício no computador", explica.

João explica que os livros de "Harry Potter" foram importantes para a sua vida. "Foi a única saga/ livro que me cativou desde o primeiro capítulo até ao último, nunca nenhum livro me tinha cativado tanto (até a minha mãe ficou surpresa com a rapidez com que lia os livros). Mudou a minha vida, pois li alguma coisa que gostasse e que me inspirasse, por exemplo, a fazer os textos em português", explica.

Clube de fãs em Portugal

O grupo do Facebook "Harry Potter Portugal - Clube de Fãs", que soma mais de 2900 membros, é um dos mais ativos do mundo. Em conversa com o SAPO Mag, Miguel Nunes, um dos criadores do clube de fãs, explica que há "eventos de dois em dois meses, onde todos os fãs podem participar".

Hogwarts em Portugal? F

Além de trocarem opiniões sobre o universo de Harry Potter, os membros fazem jogos inspirados na saga e têm aulas de Herbologia, História da Magia, Defesa contra as Artes Negras, Adivinhações ou de Poções, tendo que realizar testes tal como acontece em Hogwarts. Mas não se ficam por aqui: Ana Mateus, uma das fãs responsáveis pela gestão do grupo, transforma varinhas, cria cenários e objetos inspirados na série - como uma bola de cristal de adivinhação.

Rosário Bonito explica ao SAPO Mag que tudo é organizado detalhadamente e que todos os membros se dedicam ao máximo nas atividades. "O Parque das Nações fica por nossa conta para jogarmos Quidditch", revela, acrescentando que na gala de Natal- é entregue uma taça à equipa vencedora.

Mas como se pode entrar para uma equipa? Basta um teste, explica a administradora do grupo. "No site Pottermore os testes têm entre sete a dez perguntas. Os nossos têm todas as 27 [todas as questões dos diferente testes]", revela.

"Sempre fui fã, só simplesmente não pertencia a uma comunidade. Tinha um ou outro amigo que me aturava com o meu fanatismo, mas nada de especial. Quando descobri que havia um clube de fãs e que ainda por cima organizavam eventos, foi o paraíso, nunca mais larguei nem o grupo nem os eventos. O que fez com que mais tarde o organizador dos mesmos, acabasse por me pedir que me juntasse à organização", explica Ana. Já a sua mãe, Rosário, conta que começou a participar só para ajudar. "Até esse momento 'aturava' o Harry Potter por causa da minha filha, hoje é com  enorme prazer que participo desse mundo. É muito gratificante trabalhar e colaborar com todos eles", frisa.