"De Caravaggio a Ingmar Bergman, de Edward Weston a Elvis Presley, de Picasso a [Óscar] Niemeyer, da pintura ao design, da arquitetura ao cinema, da fotografia à autorrepresentação", a obra reúne uma série de "estímulos visuais", que suscitaram ao autor o desejo de escrever, lê-se na apresentação da obra, que cruza criadores como William Turner e William Klein, El Greco e Caravaggio, entre três dezenas de imagens.

A cadeira de Marcel Breuer é a primeira a dar origem a um texto de Mega Ferreira, referindo a “relação atenta e afetiva com o mobiliário”, que lhe terá vindo da “convivência lúdica, simultaneamente mágica e inquietante, com a mobília do escritório” de seu pai.

Seguem-se o quadro “O Homem de Turbante”, de Jan van Eyck, que lhe permite referir, no mesmo texto, um outro quadro, “Retrato de um Jovem”, de Sandro Boticelli, e o Museu de Arte Contemporânea, em Niterói, no Brasil, edifício de autoria de Niemeyer, conhecido como “A Flor de Niterói”.

Ao todo, são cerca de 30 exemplos que são "Mais Que Mil Imagens", sobre as quais Mega Ferreira elabora o seu raciocínio, como em “La Verrau”, de Jean Honoré Fragonard, quadro escolhido para a capa do livro.

O autor, que recentemente deixou a liderança da Associação Música Educação e Cultura, que gere a Orquestra Metropolitana de Lisboa, argumenta, na "apresentação” da obra, que, "para um escritor, uma emoção estética demasiado forte (seja ela poética, visual ou musical), tem o condão de atear a escrita e, invariavelmente, há de acabar em texto”.

O autor recorda o escritor Marcel Proust que, segundo conta, depois de ver o quadro “Vista de Delft”, de Vermeer, foi imediatamente para casa “compor o episódio de Bergotte, que é um dos momentos culminantes do seu romance ‘Em Recherche du Temps perdu' [Em Busca do Tempo Perdido]”.

Mega Ferreira cita o aforismo do filósofo Confúcio, que “se tornou moeda corrente” na segunda metade do século XX, segundo o qual “uma imagem vale mais que mil palavras”. Mas o autor português cita também o brasileiro Miller Fernandes, que contrapôs: “Se uma imagem vale mais que mil palavras então diga isto com uma palavra“.

Reconhecendo que uma imagem é capaz, por momentos, de “nos deixar sem palavras”, Mega Ferreira, seguindo Miller Fernandes, declara: “Nem a imagem ocupa o lugar insubstituível das palavras, nem as palavras se substituem à imagem, por admirável que seja”.

Alguns dos textos incluídos nesta edição já foram dados à estampa anteriormente, embora a maioria seja inédita e escrita "para este fim”.

O livro, “longamente urdido", "resulta dessa vontade de dizer por palavras as razões pelas quais certas imagens foram tão importantes” para si, na altura em que as viu pela primeira vez, “e porque continuam a sê-lo”, explica o autor.

Reconhecendo que “ver foi sempre uma figura privilegiada” da sua curiosidade, “desde a infância, pelas imagens da banda desenhada", Mega Ferreira afirma que “ver é aprender a ver”, “um desafio a essa capacidade de transpor o abismo entre o que o criador diz e o espetador vê”, sendo a única possibilidade de “transpor esse abismo”, “ensaiar por palavras o lançamento dos pilares que hão de sustentar (talvez) a ponte da aproximação”.

“Este livro não é o meu ‘museu imaginário’”, sublinha o autor, acrescentando que as imagens selecionadas sobre as quais escreve, “não são todas as suas preferidas” e “faltam algumas prediletas”. Por outro lado, este livro não é qualquer “explicação” do ato criativo, e “deve ser lido como o resultado de impulsos literários desencadeados por estímulos visuais”.

“São mais, muito mais que mil palavras, mas as imagens que aqui se reproduzem, e as que elas pressupoõem, são também mais, muito mais que mil imagens”, remata.

António Mega Ferreira nasceu em Lisboa, em 1949, licenciou-se em Direito na Universidade de Lisboa e estudou Comunicação Social na Universidade de Manchester.

Iniciou-se no jornalismo em 1968, no Comércio do Funchal, tendo sido profissional a partir de 1975, no Jornal Novo, Expresso, Agência Noticiosa Portuguesa (ANOP) e na RTP, onde chefiou a redação do Canal Dois. Foi ainda redator de O Jornal e chefe de redação do JL - Jornal de Letras, Artes & Ideias.

Entre 1986 e 1988 foi diretor editorial do Círculo de Leitores e o primeiro diretor da revista Ler, que fundou.

Membro da Comissão dos Descobrimentos, a partir de 1988, fundou a revista Oceanos e dirigiu a campanha de promoção de Lisboa como cidade candidata à Exposição Internacional de 1998, vindo a ser comissário executivo da Expo'98 e administrador da Parque Expo, Oceanário de Lisboa e Pavilhão Atlântico. De 1999 a 2002 presidiu ao Conselho de Administração da Parque Expo.

Dirigiu a representação de Portugal como “País-Tema” na Feira do Livro de Frankfurt de 1997. É colaborador permanente das revistas Visão e Egoísta.

Iniciou a carreira literária em 1984 com o ensaio "Graça Morais, Linhas da Terra", seguindo-se a ficção de "O Heliventilador de Resende" (1985) e o ensaio/antologia "Fernando Pessoa, o Comércio e a Publicidade" (1985).

Desde então assinou títulos como "As Caixas Chinesas" (1988), "As Palavras Difíceis" (1991), "Os Princípios do Fim" (1992), "Os Nomes de Europa" (1994), "A Borboleta de Nabokov" (2000), "A Expressão dos Afetos" (2001), "Amor" (2002), "Macedo, uma História Portuguesa da infâmia" (2011), “Cartas de Casanova” (2014), ”Hotel Locarno” (2017), “Itália - Práticas de Viagem” (2017) e “Roma - Exercícios de Reconhecimento” (2019).

O livro “Mais que Mil Palavras” será apresentado pelo poeta Pedro Mexia, no próximo dia 04 fevereiro, pelas 18:30, na Livraria da Travessa, ao Príncipe Real, em Lisboa.

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