"Estou ansiosa para que os fãs o ouçam. Demorámos muito tempo a criar música. E finalmente terminámos algumas canções que tínhamos começado a compor há uma década. Representam uma grande parte da minha vida, da banda, daquilo que somos, de onde estivemos e de onde estamos agora". Num encontro com a imprensa internacional, Amy Lee, a vocalista dos Evanescence, apresentou o quinto álbum da banda norte-americana, "Bitter Truth", que assinala o regresso aos discos depois de "Synthesis" (2017) e cuja digressão deverá passar por Portugal este ano, através de um concerto na Altice Arena, em Lisboa, a 9 de outubro.
O quinto longa-duração é, no entanto, o primeiro de originais desde o registo homónimo, editado em 2011, uma vez que "Synthesis" propôs versões orquestrais e eletrónicas dos temas do grupo do Arkansas.
"Estrategicamente, a nível de maketing e promoção, este não seria o melhor ano para regressarmos ao fim de tanto tempo. Mas não há tempo para pensar nisso. Quem sabe o que vai acontecer amanhã? Para nós, é mais importante ter o álbum cá fora agora", explica Amy Lee. E reforça essa ideia ao abordar o título do novo disco, expondo a sua ideia de "verdade amarga": "A vida é curta, gostemos ou não, e a escolha, para mim, é não perder mais tempo. Isso é parte do motivo pelo qual fazemos o que fazemos".
"Senti que houve uma energia mais tangível entre nós devido à pandemia"
A maioria dos temas do álbum nasceu já depois do início da pandemia e o confinamento tornou este num processo de gravação inédito para a banda. "Tínhamos gravado quatro canções e planeávamos partir em digressão pela Europa e dar um concerto no Japão. Mas ficou tudo comprometido. Tivemos de ficar em casa e, ao fim de alguns meses, conseguimos pensar numa forma de nos juntarmos", recorda o guitarrista Troy McLawhorn, que também participou na conferência virtual de apresentação de "Bitter Truth".
Mas "pensar em formas de criar e de comunicar com as pessoas apesar dos obstáculos tem sido inspirador", assinala a vocalista. "Ao longo da minha carreira ao lado da banda, descobri que a nossa música ocupa um lugar muito especial não só para nós, mas para outras pessoas, pessoas que não conheço. E isso torna tudo maior e melhor", acrescenta. "Se conseguires criar algo bom a partir de uma má situação, faz com que ela tenha um propósito na tua vida. (...) Senti que houve uma energia mais tangível entre nós devido à pandemia. Tornou o disco mais importante, mais apaixonado, mais assertivo e levou-me a enfrentar emoções mais negras devido ao confinamento".
Apesar do otimismo, o guitarrista lembra que "foi muito difícil" adaptar-se à nova realidade. "Tivemos de nos testar, o Tim [McCord, baixista] teve de ir da Califórnia para Nashville... Nesse aspeto, foi um grande desafio, mudou a forma como fazemos tudo. Não podemos estar juntos nem viajar de avião sempre que nos apetecer".
A maternidade, o grunge e Billie Eilish
Amy Lee considera que "para as coisas melhorarem, temos de aceitar a verdade sobre o que está a acontecer agora". A vocalista descreve "Bitter Truth" como "uma grande combinação de tempos, experiências, sentimentos e reflexões. Experiências da década passada, trágicas e belas". A maternidade foi uma delas. "Fui mãe pela primeira vez, o que não quer dizer que tenha criado uma canção sobre ser mãe, mas isso libertou partes de mim que sempre estiveram lá mas que eu não conhecia".
A norte-americana refere também que "o álbum resulta da mistura deste grupo de pessoas e do tempo que estamos a viver. Parte dele lida com o presente, mas também surge do que está para trás". Do passado, aproveitou para recuperar memórias e discos da adolescência. "Sempre fui muito inspirado pela cena grunge dos anos 1990", diz, mostrando-se entusiasmada com a recuperação dessa vaga nos dias de hoje.
"Ouvi muita música, tanto antiga como recente", sublinha. E aproveita para recomendar um dos discos relativamente recentes que mais ouviu durante o confinamento: "When We All Fall Asleep, Where Do We Go?" (2019), de Billie Eilish. "Adoro álbuns e o dela é um grande álbum. Ouço todas as canções. Gosto dele porque é negro, muito negro, e aborda o que é ser vulnerável e autêntico e esses são temas que me interessam na música". Vulnerabilidade e autenticidade foram, de resto, dois dos pontos de partida para chegar a "Bitter Truth": "Tentámos voltar às nossas raízes, redescobrir a nossa essência e levá-la ao próximo nível, seja qual for".
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