A mudança será evidente na cerimónia de entrega de prémios no próximo domingo, poucos anos depois do ex-presidente da Recording Academy Neil Portnow ter sido criticado por afirmar que as mulheres deveriam "dar um passo à frente" para alcançar uma representação justa na indústria da música.

Pela primeira vez, a categoria de melhor interpretação rock - introduzida em 2012 - tem apenas mulheres nomeadas: Fiona Apple, Phoebe Bridgers, o grupo das irmãs HAIM, Brittany Howard, Grace Potter e os Big Thief, a banda liderada por Adrianne Lenker.

Lenker, Apple, Howard e Bridgers também estão na disputa pela melhor canção de rock, enquanto as três últimas também foram nomeadas para melhor álbum alternativo. Grace Potter está ainda na corrida para melhor álbum de rock.

As mulheres moldaram a evolução do rock, como foi o caso da pioneira do blues Big Mama Thornton, a primeira artista a gravar "Hound Dog", canção seminal e associada a Elvis Presley.

Mas desde a metade do século XX, a imagem do estilo foi monopolizada pelos homens, afirma Evelyn McDonnell, investigadora especializada em cultura pop, música e género. "Via-se uma divisão: o que os rapazes faziam com as guitarras era rock, e o que as raparigas com penteados faziam era Motown ou pop", afirma a professora da Universidade Loyola Marymount.

"Existe toda uma forma sexista na qual o rock é definido como homens brancos com guitarras", argumenta.

Pequenos passos

As mulheres, no entanto, sempre foram muito influentes no género musical: Patti Smith, Kim Gordon, Stevie Nicks e Debbie Harry são apenas algumas referências.

Fionna Apple viu o seu álbum de 2020 "Fetch The Bolt Cutters" aclamado pela crítica - o site Pitchfork considerou-o uma "obra-prima".

Durante grande parte da história dos Grammys, os prémios de rock foram divididos por género, com exceção de alguns anos em que a Academia alegou falta de interpretações femininas.

Desde a cerimónia de 2012, a Academia eliminou por completo as distinções, tanto no rock, como no pop, R&B e country.

Desde então, apenas uma mulher venceu na categoria de melhor interpretação de rock: Brittany Howard, que venceu como cantora do grupo Alabama Shakes em 2015.

A Academia foi acusada durante muito tempo de priorizar a arte de homens brancos, mas nos últimos anos parece ter dado pequenos passos de mudança.

E não apenas no rock: em 2021 as mulheres também dominam as categorias da música country, género tradicionalmente considerado conservador e machista - quatro mulheres disputam a categoria de melhor álbum country, ao lado de um grupo misto.

E o mundo do rap, estereotipado durante muito tempo como um clube de homens, também foi abalado pela ascensão de várias mulheres. Cardi B venceu na categoria álbum de rap em 2019 e Megan Thee Stallion foi nomeada para quatro categorias este ano, incluindo artista revelação.

Um caminho a percorrer

Apesar dos avanços, a poucos dias da cerimónia deste ano - que decorrerá em grande parte virtualmente devido à pandemia -, um novo estudo da Universidade do Sul da Califórnia mostra que a presença da mulher no sector ainda encontra muitas dificuldades.

As artistas femininas representaram quase 20% dos maiores sucessos da Billboard em 2020, participação um pouco menor que os 22,5% de 2019. Dos quase dois mil artistas que lançaram as 900 canções que integram a lista eram pelo menos quatro homens para cada mulher.

O estudo também examinou as nomeações aos Grammys entre 2013 e 2021: dos 1.359 indicados apenas 13,4% eram mulheres, mas a proporção de nomeadas cresceu significativamente de 2020 para 2021, a pouco mais de 20%.

Mas os escândalos que sacudiram a Academia recentemente também afetaram os seus esforços de mudança de imagem: no ano passado, a sua primeira presidente, Deborah Dugan, foi demitida por suposto assédio moral. A ex-presidente afirma que foi afastada pelas suas queixas por supostas irregularidades nas votações e denúncias de assédio sexual.

A Academia anunciou um estudo em conjunto com uma universidade para analisar a representação das mulheres na indústria, com dados destinados a melhorar a prestação de contas e facilitar mudanças.