Dez anos volvidos desde a primeira edição do festival de arte micaelense, a pandemia de COVID-19 forçou a um interlúdio, que chegou, em 2020, na forma de edição 9.5, um formato híbrido entre o presencial e o online.

A celebração surge um ano mais tarde, em 2021, com uma décima edição plena, que regressa à “fisicalidade do festival”, refletindo sobre o “que pode ser um lugar de convite num contexto de arte contemporânea” e a desconstrução e desmistificação “desses lugares e dos rituais, dos protocolos que estão associados às artes visuais, no sentido de criar abrangência e trazer as pessoas para uma excursão”, explica à Lusa Jesse James, co-diretor artístico.

Entre 15 e 24 de julho, o festival regressa a São Miguel, com exposições, arte pública, espetáculos e performances, que podem ser visitados livremente ou através das excursões diárias, criadas pelas Talkie Walkie, um grupo do Porto que desenha circuitos culturais para turistas.

Os formatos são variados e implicam diferentes níveis de compromisso. As excursões podem durar entre três a oito horas, acontecer de dia ou de noite e podem ser feitas a pé, de bicicleta, ou envolver deslocações de autocarro.

“A ideia é garantir uma situação em que vais ver uma exposição, a seguir vais dar um mergulho, depois vais comer e, se calhar, vês um espetáculo, depois ainda conheces alguém, um geólogo da Universidade dos Açores, que vai partilhar contigo mais informação, sempre em relação com os projetos, mas também a partir da ilha”, adianta Jesse James.

Apesar de todas serem “’kid friendly’”, há "uma excursão a pensar num público mais jovem”, que foi “desenhada em especial para pais e filhos, tem uma outra escala e outras dinâmicas”, revela Sofia Carolina Botelho, co-diretora artística.

Para conhecer as peças todas do festival, é necessário “participar em todas as excursões”, mas “vai valer 'super' a pena”, confessa a responsável.

Admitindo que essa não é uma possibilidade para todos, convida também as pessoas a explorarem individualmente os espaços.

Jesse James refere que, apesar de haver excursões que coincidem com o horário laboral, houve o cuidado de não “sobrecarregar a experiência e ter espaço”, procurando “gerar um equilíbrio na experiência”, que tem “uma dimensão de lazer e de ócio, muito presente na estrutura das excursões”.

Esta versão do festival reflete também um amadurecimento feito ao longo de dez anos: “Uma das coisas em que estamos a pensar muito é como é que abrandamos a programação do festival. Não no sentido de fazer menos coisas, mas de dar espaço às coisas, e ao público também, para o público não se sentir apressado”, afirma o organizador.

Mas abrandar não é parar, e a organização traz, este ano, uma maratona, que acontece no último dia do festival. Uma iniciativa proposta pelo Ilhas Studio, organizada pelo Azores Trail Run e que conta com o apoio da Associação de Atletismo de São Miguel.

A esta corrida associam-se várias entidades, como a AMAR, a APAV, a Solidaried’arte, a Amnistia Internacional e a Arrisca, para “agrupar essas pessoas e gerar um espaço de manifesto e um espaço onde devemos falar sobre causas e situações que nos afligem, que nos preocupam, sejam os direitos gay, seja a questão feminista, a dimensão ecológica, a questão do colonialismo, etc.”, a ideia é “levar ao peito a causa que nos move”, esclarece Jesse.

O percurso total é de 42 quilómetros, com partida nas Sete Cidades e meta no 'skatepark' da Relva, mas há também uma meia-maratona e etapas mais curtas.

Há ainda uma mini-maratona, “para os mais jovens e os menos resistentes”, ressalva Sofia Carolina Botelho.

A décima edição do Walk&Talk acontece de 15 a 24 de julho, em São Miguel e apresenta os trabalhos de Abbas Akhavan, Alex Farrar, Alice dos Reis, Catarina Miranda, Danny Bracken, Diogo Lima, Eneida Tavares, Flávio Rodrigues, Gustavo Ciríaco, Ilhas Estúdio, Joana Franco, João Pedro Vale & Nuno Alexandre Ferreira, João Xará, Luís Senra, Luísa Salvador, Mané Pacheco, Margarida Fragueiro, Miguel Flor, Nadia Belerique, Pedro Maia & Lucy Railton, Sofia Caetano e Tropa Macaca.