“At the still point of the turning world”, álbum lançado em 2018 pela editora australiana Room40, é um trabalho para piano, eletrónica e ensemble, com orquestração e arranjos de José Alberto Gomes.

A obra chega a Ponta Delgada para abrir o programa do festival Walk & Talk, num espetáculo que conta com a participação do Conservatório Regional de Ponta Delgada, com um ensemble composto por 14 músicos – alunos entre os 13 e os 18 anos e professores.

À agência Lusa, Joana Gama explicou que houve necessidade de incluir professores no ensemble “porque houve questões, até pela particularidade de ser uma ilha e de não haver tanta oferta em termos de músicos”, um problema que levou à necessidade de fazer algumas adaptações, como trocar o fagote pelo saxofone barítono, ou o contrabaixo pelo violoncelo.

A pianista considera que foi “um bom exercício para as coisas não ficarem fechadas e só em determinadas circunstâncias é que se podem fazer - e não as coisas também são permeáveis”.

Este é um trabalho que foi tocado, na estreia, pela Orquestra de Guimarães, pela Orquestra Metropolitana De Lisboa e por muitas outras, já que a ideia é trabalhar sempre com músicos diferentes.

“Acho que é mesmo muito importante esta relação com as pessoas locais e as instituições locais, […] e acho que também é muito importante esta nossa possibilidade de vir aqui abrir horizonte a estes alunos, porque este tipo de música que eles vão tocar connosco é muito diferente daquilo que se ensina aqui no conservatório. (…) Esta ideia de dar e receber é muito importante. E esta dignidade também para eles de irem tocar ao Teatro Micaelense e irem fazer o concerto de abertura do festival acho que é estimulante”, considerou a pianista.

O espetáculo conta com uma componente visual, criada por Miguel C. Tavares, que também expõe no certame, que é inaugurado hoje e se prolonga até 20 de julho, com o projeto audiovisual “East Atlantic” que desenvolveu com José Alberto Gomes, em que, inspirados pela viagem de Raul Brandão aos Açores, viajam dez dias a bordo de um cargueiro em direção ao arquipélago.

A parceria entre os músicos e Miguel C. Tavares surgiu de “um convite do Curtas Vila de Conde para apresentar esta música como contexto de imagem em movimento”, esclareceu Luís Fernandes.

“Na altura o Miguel Tavares, com quem já tínhamos trabalhado noutros contextos, alinhou neste desafio e criou vídeos de raiz para cada um dos temas, vídeos. […] Ele tem uma série de material de vídeo que acaba por misturar em tempo real para criar este cinema ao vivo, que está inteiramente relacionado com a nossa música e que é de certa forma algo parcimonioso na forma como é apresentando. Não há muita diversidade de material, assim como a nossa música que, na verdade, é muito minimal, mas, a partir de uma ideia central, desdobra-se de algumas formas muito subtis durante a duração dos temas”, explicou o músico.

Joana Gama, com experiência na música erudita, e Luís Fernandes, vindo do universo da música pop rock, enquanto fundador dos peixe:avião, começaram a trabalhar juntos depois de se terem conhecido numa iniciativa dedicada a John Cage, em 2013.

O trabalho que desenvolvem há seis anos cruza “dois universos à partida algo separados, mas que na verdade a História da música prova que têm andado de mão dada, ao longo das últimas décadas”, afirmou Luís Fernandes.

Depois de três álbuns editados, trabalham agora em “Textures & Lines”, projeto que desenvolvem com o grupo de percussão Drumming e que se estreou em abril, no Rivoli, para o qual já têm data de gravação marcada, avançou o músico.

Abrem esta noite a edição de 2019 do Festival Walk & Talk, que acontece até 20 de julho, na ilha de São Miguel, com diferentes circuitos de artes visuais e performativas e várias residências artísticas.