Normalmente munido apenas da sua belíssima voz e de um dedilhar irrepreensível, José González habitou-nos a performances solitárias, porém cheias de luz. Na atuação com The String Theory essa luz extrapolou o visível, havendo uma união tão magnífica que os arranjos que emanavam do palco tomaram uma dimensão mesmerizante.
Sendo o mais orgânico possível, o concerto contou com elementos particulares para a sua execução. De sacos de plástico a um pequeno aspirador, os músicos em palco provaram-nos que não há limites para a composição nem para a arte. Se nuns momentos o palco era dominado pela orquestra e noutros por José González, quando ambos se uniam criavam uma espécie de paisagem, à mercê da nossa imaginação, arrepiante.
O início do concerto fica marcado pelo murmúrio de sacos de plástico manuseados por músicos em palco. Como que um sussurrar que urge tornar-se algo maior. Juntam-se as cordas e a percussão, e tudo converge para o êxtase inicial quando cada átomo do coliseu se vê evolvido pela voz única de González. Pouco depois junta-se um pequeno coro e estão abertas as hostes para hora e meia de concerto que teve momentos em que conseguiu roçar uma beleza sobrenatural.
Os arranjos para os temas do artista sueco têm tanto de clássico como de contemporâneo, explorando por vezes uma veia mais eletrónica, outra mais pop, mas nunca previsível. É como se a cada narrativa de González, The String Theory conseguisse contribuir com uma ilustração. Houve momentos de pura magia em que não me admiraria de, de repente, ver pequenos seres a surgirem por entre os músicos, saltitando e dançando em palco.
Temas como Crosses, Heartbeats, Teardrop, The Forrest, Cycling Trivialities ou Down on the Line provocaram o maravilhamento por entre o público. Heartbeats, a cover dos The Knife, é das canções mais acarinhadas. Teardrop, versão dos Massive Attack, também recebeu o deslumbramento e os aplausos de quem se sente arrebatado por uma energia estrondosa. Comum a todas as canções, foi a paixão e o entusiasmo visível em cada um dos músicos, muito bem liderados por um maestro que colocou o Coliseu de pé a bater palmas e a dançar.
O encore chega com mais três temas, sendo o primeiro liderado por The String Theory, com González na percussão. Esta versatilidade é exacerbada pelos elementos da orquestra que foram variando de instrumento, entre vocal e físicos, sendo impossível não admirar todo o esforço e entrega que a comunhão José González mais The String Theory terá exigido. Para os fãs do cantor que estão habituados a encontrar algum consolo nos seus temas, o concerto proporcionou uma espécie de abraço quente em que mesmo os temas mais emotivos estiveram menos sozinhos, não dando espaço a qualquer tipo de solidão ou melancolia. Festejou-se a música e a sua versatilidade de uma forma belíssima com uma voz incontornável e uma orquestra que quebrou barreiras e preconceitos.
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