Kevin Spacey falou pela primeira vez em público sobre o seu tempo "sombrio e horrível" e uma jornada "dolorosa" desde que foi acusado de assédio sexual por vários homens, comentando que percebia o que estavam a passar as pessoas afetadas profissionalmente por causa da COVID-19.

Despedido da série "House of Cards" e substituído no filme "Todo o Dinheiro do Mundo", a carreira do ator de 60 anos está parada desde uma onda de denúncias em novembro de 2017, na sequência do movimento #MeToo, que levou muitas mulheres a denunciar ações de violência sexual como resultado do caso do produtor cinematográfico Harvey Weinstein.

"Acho que não será surpresa para ninguém dizer que o meu mundo mudou completamente no outono de 2017", comentou por vídeo desde a sua casa durante uma conferência de negócios alemã chamada Bits & Pretzels sobre a devastação causada pela pandemia.

"O meu trabalho, muitas das minhas relações, a posição na minha própria indústria, desapareceu tudo numa questão de horas", acrescentou.

"Não costumo dizer muito às pessoas que consigo perceber a situação delas porque acho que isso desvaloriza a que podem estar a passar, que é uma experiência única e e muito pessoal. Mas neste caso sinto que consigo perceber o que é sentir que o nosso mundo subitamente parou", reforçou.

"E embora possamos encontrar-nos em situações semelhantes não obstante por razões muito diferentes, ainda sinto que algumas das lutas emocionais são praticamente as mesmas. E portanto, tenho empatia pelo que é subitamente ser informado que não se pode voltar a trabalhar ou que se pode perder o emprego, e é uma situação sobre a qual não se tem absolutamente qualquer controlo", reforçou.

Perante a incerteza de nunca voltar a ser contratado, o ator conta que fez a si mesmo uma pergunta que nunca tinha feito: "Quem sou eu, se não posso representar?"

VEJA O VÍDEO.

Vencedor de dois Óscares por "Os Suspeitos do Costume" (1995) e "Beleza Americana" (1999) e considerado um dos melhores artistas de sua geração, Kevin Spacey chegou a ser acusado formalmente em janeiro de 2019 de abuso sexual de um adolescente, declarando-se inocente.

Em julho, as autoridades retiraram as acusações, num caso que acabou enfraquecido pela própria suposta vítima, depois de um telemóvel com as alegadas provas ter desaparecido. Em outubro, chegou a um acordo confidencial que fez cair outra acusação.

Apesar de terem caído os processos nos EUA, as autoridades em Londres ainda investigam as acusações que surgiram relacionadas com o período de 2004 a 2015 em que foi diretor artístico no teatro Old Vic, desmentidas com veemência.

Além de algumas viagens de férias privadas, em que passou por Roma e Lisboa, o ator tem-se mantido discreto.

A exceção foram dois vídeos, o primeiro no Natal de 2018, intitulado "Let Me Be Frank", na qual se dirigia ao público sem qualquer arrependimento e em tom de desafio, ao melhor estilo da sua personagem Frank Underwood na série "House of Cards", pedindo às pessoas para não se precipitarem a tirar conclusões sem conhecer todos os factos.

Um ano mais tarde, apresentou-se junto de uma lareira, com a mesma postura.