Em outubro de 1983, o Dramático de Cascais acolheu a estreia dos Kiss em palcos nacionais e também a única vez em que a banda norte-americana atuou em Portugal. Mas os fãs não terão esperar muito mais para (re)ver o grupo ao vivo, uma vez que o regresso está marcado já para esta terça-feira no Estádio Municipal de Oeiras, com os Megadeth na primeira parte. A atuação é uma das poucas dos Kiss agendadas para este ano - para já, estão apenas confirmadas mais datas em Espanha, também este mês. Em entrevista telefónica, Gene Simmons avançou ao SAPO Mag parte do que esperar enquanto se mostrou pouco entusiasmado com o estado da indústria musical:

SAPO Mag - O que vos levou a regressar a Portugal nesta altura?
Gene Simmons - Regressamos porque sentimos falta da cultura, comida e fãs portugueses. Adoramos Portugal. Lembro-me dos ótimos dias que passámos aí com ótima comida, mulheres bonitas... Mas já foi há muito tempo e não queremos que os fãs pensem que não os valorizamos. Por isso vamos voltar com um grande concerto, no qual vamos tocar canções que não tocamos há algum tempo ou mesmo que nunca tocámos. Estamos muito ansiosos.

Além do concerto, os fãs poderão esperar um novo álbum em breve?
Não quero editar um novo álbum. Streaming, downloads, música gratuita... não quero isso. Você está a fazer esta entrevista e está a ser pago por isso. Não quero fazer música gratuita.

Não olha com otimismo para o estado da indústria musical....
A indústria musical morreu e continuará morta enquanto os fãs não pagarem por música. De 1958 a 1998 decorreram 30 anos. E nesse tempo surgiram Elvis, os Beatles, Hendrix, os Stones, Zeppelin, Pink Floyd, por aí fora. Disco, Madonna, pop, U2, Metallica, Iron Maiden, centenas e centenas de bandas. De 1998 até 2018 passaram 20 anos... Quem são os novos Beatles? Não há nada. E em 1998 foi quando o Napster arrancou. E quando não se paga pela música, ela torna-se inútil. E por isso as novas bandas têm de ir trabalhar diariamente para pagar a renda, logo não têm tempo suficiente para a música.

Vê a possibilidade de alguma mudança nesse cenário?
A única esperança é haver leis que combatam isso, a oferta de música gratuita. Até lá, a música morreu... para as novas bandas, não para nós. Os U2, os Stones ou nós não temos problemas. Vendemos sempre bilhetes quando tocamos. As novas bandas não conseguem fazê-lo. Até os Foo Fighters já têm uns 20 ou 25 anos, não há uma única nova grande banda. E não é porque os novos artistas não têm talento, mas porque não há indústria musical para as novas bandas.

Considera que se os Kiss fossem uma nova banda, não teriam oportunidade hoje em dia?
Não. Preparar um concerto como os nossos é muito dispendioso.

Apesar de não pretender editar um novo álbum, continua a compor regularmente?
Componho a toda a hora. Acabei de editar uma caixa de 167 canções, incluindo três que compus para o Bob Dylan. Mas a ideia de editar um novo álbum dos Kiss que as pessoas possam ouvir e descarregar gratuitamente não é minimamente apelativa.

Gene Simmons

Nunca ouviu música nos serviços de streaming?
Só ouço rádio. Há milhares de rádios que passam todo o tipo de música.

Como surgiu a ideia de juntar os Kiss aos Megadeth neste concerto?
A promotora sugeriu os Megadeth e nós achámos fantástico, são uma grande banda, os fãs vão adorar. Já tivemos muitas grandes bandas a abrir para nós na sua primeira grande digressão. Iron Maiden, Judas Priest, Anthrax, Rush...

Há alguma possibilidade de colaboração ao vivo entre os Kiss e os Megadeth?
Não. Não há motivo para isso.

E outras eventuais surpresas?
Sim, muitas. Os fãs que pensem na palavra "grande" e vão perceber o que esperar. Há uma diferença entre uma formiga e o Godzilla. Um é pequeno, o outro é grande.

Tudo em grande, então.
Só fazemos em grande. É o nosso trabalho.

Há algo que gostasse de dizer aos fãs portugueses?
Adoramos Portugal. Não temos de ir aí, queremos ir aí.

Os Kiss e os Megadeth atuam no Estádio Municipal de Oeiras a 10 de julho, a partir das 20h30, com abertura de portas às 19h00.