Após alguns dias de silêncio e incapazes de controlar o impacto de um vídeo em que o ator se dirigia diretamente ao povo russo para lhes dizer que o seu governo lhes estava a mentir, figuras públicas apoiantes do regime do presidente Vladimir Putin lançaram um verdadeiro "inferno vermelho" contra Arnold Schwarzenegger.

São mais de 35 milhões de visualizações só na rede social Twitter desde que foi lançado na quinta-feira passada o vídeo onde o ator e antigo político austríaco-americano pede ao presidente russo que pare a guerra "sem sentido" na Ucrânia, denuncia a "propaganda" do Kremlin e chama de "heróis" aos russos que protestam contra o conflito. Mas o ator partilhou noutras redes sociais e criou até uma conta no Telegram, que é muito usado pela população russa.

VEJA O VÍDEO.

"Este rosto é a capa do imperialismo e do colonialismo americano. Não a imagem caricatural do Tio Sam, mas esse Schwarz, numa produção de Hollywood", disse no programa "Sunday Evening With Vladimir Solovievon" um “visivelmente furioso” Vadin Gigin, uma conhecida personalidade televisiva, de acordo com a publicação The Daily Beast.

Gigin, que chegou a estar numa lista de personalidades alvo de sanções da União Europeia durante cinco anos por causa da propagação de informação falsa e apoio à repressão da oposição democrata e da sociedade civil no seu país de origem (a Bielorrússia), mostrou-se especialmente ofendido por Schwarzenegger ter recordado logo no início do seu vídeo de mais de nove minutos a sua admiração pela Rússia e ter esperança que os seus ouvintes o deixassem "dizer a verdade sobre a guerra na Ucrânia e o que está lá a acontecer".

Schwarzenegger envia mensagem direta aos seus amigos russos: "o vosso governo está a mentir-vos"
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"Ele, na Califórnia, vai dizer-nos a nós, que vivemos aqui... a verdade?! Esta é a abordagem deles em relação a nós", disse com indignação.

Já Maryana Naumova, uma atleta russa de levantamento de peso com vários prémios e recordes mundiais (e apanhada em doping), que proclamou no passado ser grande admiradora de Schwarzenegger, disse que este está "a viver uma realidade alternativa imaginária".

Apoiante da intervenção russa na Síria e convidada a visitar Damasco pelo presidente Asma al-Assad, a atleta de 22 anos conheceu pessoalmente o ator em vários eventos desportivos, a quem passou cartas das crianças da região ocupada de Donbass (Ucrânia) e chegou a pedir para se tornar presidente dos EUA para normalizar as relações com a Rússia.

“Lembras-te como, no segundo filme do 'Exterminador', o teu herói volta atrás no tempo para impedir a criação da Skynet, que traria a morte de toda a Humanidade? A operação militar especial da Rússia não visa destruir o povo ucraniano. Tem como alvo a neonazi Skynet, que ao longo dos anos subjugou completamente a Ucrânia e estava prestes a transformar-se num monstro incontrolável, perigoso para todos os seus vizinhos, não apenas para nós… Não fiques do lado da Skynet, Exterminador Implacável", recordou em declarações ao tabloide pró-Kremlin Pravda esta segunda-feira.

No seu vídeo, Schwarzenegger diz que muitos soltados russos foram enviados à Ucrânia para lutar enganados e que essas mentiras sobre a guerra podem destruir um homem física e psicologicamente para sempre, dando o exemplo do seu pai quando lutou pela Alemanha Nazi durante a Segunda Guerra Mundial no cerco a Leninegrado (atual São Petersburgo): "[...] Vocês sabem muita da verdade de que tenho estado a falar. Viram com os vossos próprios olhos. Não quero que fiquem destruídos como o meu pai. Esta não é a guerra para defender a Rússia que os vossos avós ou bisavós lutaram. Esta é uma guerra ilegal".

Esta passagem parece ter atingido um nervo de Zakhar Prilepin, um conhecido e premiado escritor nacionalista russo, acusado de antissemitismo, que na sua juventude pertenceu a uma força especial da polícia conhecida pela sua brutalidade e combateu na Primeira Guerra da Chechénia.

"No seu vídeo, Schwarzenegger, que matou três milhões de russos nos seus filmes, disse ao povo russo o quanto gosta de nós e como estamos errados sobre a Ucrânia... este austríaco, filho do seu pai, que serviu nas SS [organização paramilitar nazi] e foi ferido perto de Leninegrado, está a tentar representar o bom polícia", escreveu no Telegram esta personalidade pública que é procurada pelas autoridades da Ucrânia por alegadas "ações terroristas" na Guerra em Donbass já na última década.

Também convidado no programa "Sunday Evening With Vladimir Solovievon", expandiu as suas ideias, alegando que o Ocidente está a “bombardear a Ucrânia com armas para massacrar os russos” e, dirigindo-se ao ator, disse: “Arnie, és um predador e um inimigo”.

Prilepin reforçou que os russos não devem tentar convencer o Ocidente do seu humanismo e boa vontade, mas antes ser o mais duros possíveis na abordagem: “Se estão com medo a sério do conflito com a Rússia, da Terceira Guerra Mundial, da guerra nuclear ou da escalada do conflito, devemos convencê-los de que estamos prontos para isso, que adoramos isso, que gostamos de fazer guerra".

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