Na quarta-feira, quando foi recebido em Penafiel no festival de Escritaria para uma homenagem que prossegue até domingo, o escritor referiu que a narrativa de “Sua Excelência, de Corpo Presente” não “trata só de Angola”.

“Realmente, é uma história que poderá passar-se em qualquer país africano, a sul do Saara”, frisou, recordando que se está a viver uma fase “que vem depois daquele ciclo que foi desaparecendo, de partido único e de chefes muito autoritários”, afirmou.

Esta obra, como o escritor também admitiu em Óbidos, no passado sábado, pode ser o seu último livro sobre a realidade histórica angolana.

A narrativa aborda as conturbadas últimas décadas de um país africano, recordadas pelo seu presidente defunto, deitado num caixão forrado a cetim branco, num enorme salão cheio de flores, e que, apesar de morto, vê, ouve e pensa.

“Este livro é capaz de ser mesmo o último [sobre a história contemporânea de Angola], porque está a ser muito difícil gerir o pós-escrita”, afirmou, no Folio - Festival Literário Internacional de Óbidos, que encerra no domingo.

Pepetela, nascido há 76 anos em Benguela, no sudoeste de Angola, acrescentou que este foi, “de todos [os seus] livros, o mais difícil de escrever”, tendo demorado “seis anos” a fazê-lo.

Em Penafiel, acrescentou que motivos de saúde obrigaram a escrever o livro de pé, o que se tornou muito cansativo e, admitiu, acabou por acelerar a necessidade de acabar a obra.

A apresentação do livro no Escritaria, por José Carlos Seabra Pereira, está marcada para as 21:45, no grande auditório do Museu Municipal de Penafiel, antecedida pela dramatização de um dos contos de Pepetela.

No sábado, às 16:15, o autor assiste a uma conferência sobre a sua vida e a sua obra, para a qual foram convidados Inocência Mata, Ondjaki e José Carlos Vasconcelos.

Naquele dia, mas às 21:45, o homenageado é entrevistado, ao vivo, por Maria João Avillez.

No domingo, às 17:15, na Feira do Livro do Escritaria, que decorre no Largo Padre Américo, Pepetela dá uma sessão de autógrafos, momento que encerrará esta edição do festival literário.

Nas dez edições anteriores, o festival Escritaria homenageou Urbano Tavares Rodrigues, José Saramago, Agustina Bessa-Luís, Mia Couto, António Lobo Antunes, Mário de Carvalho, Lídia Jorge, Mário Cláudio, Alice Vieira e Miguel Sousa Tavares.

O Escritaria é o único festival literário que homenageia, em cada edição, um escritor vivo de língua portuguesa.