O espetáculo de criação coletiva estreia-se nove anos depois da primeira incursão da companhia no teatro de revista, com "Tropa Fandanga" (2014), e faz justiça à tradição "cerrada" deste género, com a sua crítica social e política.
“Bravo 2023!” passa em revista os momentos mais importantes vividos em Portugal este ano, mas vai também buscar acontecimentos de outros países, para “criar algumas analogias entre as histórias que estão presentes na contemporaneidade, como a guerra”, disse André e. Teodósio, um dos fundadores do Teatro Praga, responsável pela interpretação e cocriação do espetáculo.
Uma batalha entre os teatros nacionais portugueses e um Adão que se encontra no Olimpo, quando o ministro da Cultura é Adão e Silva, uma vendedora de "réplicas de originais" que decide pegar num Titã para conquistar o mar e formar o seu próprio governo, as "Fornadas da Juventude", num ano em que a jornada católica passou por Portugal, são quadros do espetáculo.
Há também uma "marcha dos 'experts' na baixa pimbalina" e o "Rabo de Peixona", um 'skteche' que brinca com a série portuguesa “Rabo de Peixe” e com o sotaque “cerrado” daquela povoação açoriana, um inédito de Pedro Mafama na interpretação de Simão Telles, que desde 2015 dá corpo ao seu alter-ego 'drag' Symone de Lá Dragma, e nomes e reinvenção de nomes como Donatella Versace e Zeken Barbie.
Um quadro sério também cabe na sequência de "Bravo 2023!", com a homenagem ao poeta Manuel Gusmão, que morreu no passado dia 09 de novembro, em Lisboa. Uma pessoa de que os Praga gostam muito.
Depois de, em 2014, ter estreado a revista “Tropa Fandanga” no Teatro Nacional D. Maria II, com o ator José Raposo como convidado, Os Praga decidiram, ainda durante o tempo de pandemia, regressar à revista, formato de que “tinham saudades”, talvez porque a pandemia obrigou a um recatamento, disse André e. Teodósio, à margem de um ensaio para a imprensa.
Assim, desde então, ao longo do ano fizeram “um documento demoníaco”, onde todos os dias iam registando os acontecimentos que lhes pareciam importantes. Alguns desses registos acabaram por originar rábulas, outros foram caindo, disse o ator e encenador.
E como queriam trabalhar com alguém com experiência de revista, decidiram convidar Marina Mota, mesmo pensado que a atriz ia recusar, por questões profissionais ou de agenda.
Tal não aconteceu. Marina Mota aceitou e “Bravo 2023!” tem-se revelado um “'work in progress' absolutamente deslumbrante”, frisou André e. Teodósio.
Se já admiravam a atriz, com mais admiração ficaram ao conhecê-la e constatarem a sua “generosidade”ao trabalhar com eles, assim como o “virtuosismo” que empresta a qualquer papel.
“Tem sido uma experiência inacreditável; o que de facto revela que é uma pessoa que é adorada por toda a gente porque tem estas qualidades de ser generosa, porque é alguém que não está em cima de um altar, é uma pessoa da terra, como todas as outras”, sublinhou Teodósio, ator e encenador e um dos fundadores do Teatro Praga.
Também para Marina Mota tem sido uma experiência “muito boa”, embora esteja a trabalhar num espetáculo de revista “sem o menu tradicional”.
“Mas é uma revista 'à Praga', baseada, obviamente, no conceito do teatro de revista”, porque tem rábulas, música e dança, entre os quais André 'Speedy' Garcia a dançar 'breakdance'.
Sobre o quadro “Rabo de Peixona”, que tem legendas para que o pública perceba todos os termos ditos, e a figura de Eduardo que interpreta, Marina Mota faz questão de sublinhar que é “uma brincadeira ao 'Rabo de Peixe' e ao sotaque açoriano”.
“Não é um gozo, que fique bem claro”, afirmou, acrescentando que se há riquezas em Portugal, os diferentes sotaques são uma delas.
Com um texto “absurdo no seu todo” "Rabo de Peixona" tem um pacote com medidas do Governo de António Costa que vai parar ao mar daquela vila piscatória do município da Ribeira Grande, e nem os próprios atores se entendem uns aos outros.
Questionado pela imprensa sobre como acolheu o convite dos Praga, Marina Mota admitiu tê-lo recebido com “muito carinho”, até porque acha “cada vez mais interessante que se acabem com essas gavetinhas onde as pessoas são colocadas”.
E embora reconheça a atriz que os Praga podem ter “visões diferentes do espetáculo e das histórias”, ambos “adoram a arte do teatro”. Por isso estar no palco do S. Luiz ou noutro palco qualquer é igual para Marina Mota.
Para a atriz, “não parece nada que a revista seja um género menor”, merecendo, por isso mesmo, “estar em qualquer palco”.
“Não tenho mais respeito por ser o Teatro S. Luiz ou ser o Maria Vitória, no Parque Mayer, ou o Teatro Variedades ou qualquer outro espaço, porque tenho um respeito gigante por esta arte de representar”, frisou.
Marina Mota defende mesmo que “a seu tempo, as pessoas perceberão a importância da revista”, lembrando quando o fado “era muito maltratado e agora é património imaterial da Humanidade”.
"A revista fala de crítica social e política, tem de ginasticar os atores de uma forma muito especial, e nem todos são capazes de o fazer, portanto é um género difícil, mas não menor”, concluiu
“Bravo 2023!” tem interpretação e criação conjunta de André e. Teodósio, André 'Speedy' Garcia, Cláudia Jardim, David Mesquita, Diogo Bento, Guilherme Leal, Jenny Larrue, Joana Barrios, Joana Manuel, J.M. Vieira Mendes, Marina Mota, Sandra Rosado, Simão Telles e Tiago Vieira.
Na música estão Moisés Fernandes (trompete), João Cabrita (saxofone), Sofia Grácio (piano e sintetizadores), Hayden Nóbrega (bateria e flauta transversal), Bernardo Fesch (baixo) e Alex D’Alva Teixeira (voz e guitarras). As músicas originais são de Pedro Mafama.
A cenografia é de João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira, os telões de Adriana Proganó e Eugénia Mussa, os figurinos de Joana Barrios e as músicas originais de Pedro Mafama. Como maestro, na orquestração e direção musical, está Alex D’Alva Teixeira.
Em cena na sala Luis Miguel Cintra, até 22 de dezembro, a peça tem sessões de terça-feira a sábado, às 20h00, e, ao domingo, às 17h30.
A última sessão tem interpretação em Língua Gestual Portuguesa e audiodescrição.
"Bravo 2023!" vai estar em cena no Teatro Rivoli, no Porto, a 12 e 13 de janeiro de 2024.
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