O artista plástico Gaëtan Lampo Martins de Oliveira, nascido em Luanda, em 1944, cuja obra se centrou sobretudo no autorretrato -- ou em si mesmo, como "pretexto para desenhar", como gostava de dizer --, morreu na quarta-feira, em Lisboa, vítima de cancro, disse à agência Lusa fonte da Galeria Miguel Nabinho, que representa o artista.

"O Conselho de Administração da Fundação Calouste Gulbenkian expressa o seu pesar pelo desaparecimento de Gäetan que, de um modo inconfundível e singular, trabalhou incessantemente a sua própria imagem, através do desenho", lê-se na mensagem hoje divulgada.

A Fundação recorda que o artista se encontra representado na Coleção Moderna do Museu Gulbenkian, com catorze obras, e lembra igualmente a exposição antológica "Terra de Ninguém", que dedicou a Gaëtan, em 1996, assim como o facto de ter incluído o seu trabalho, "inúmeras vezes", em mostras permanentes da coleção e em exposições coletivas, "tornando assídua a força inquieta da personalidade culta e delicada" de Gaëtan.

Uma força que a Gulbenkian destaca na sua obra, mas também pessoalmente, quando "nos dirigia um sorriso, uma observação, uma vontade genuína de empatia".

Em 1981, Gaëtan centrou-se no desenho, que passou a tratar de modo continuado, aprofundando as variações sobre o mesmo tema, que era o seu rosto, como pretexto de trabalho.

Participou ainda na XXI Bienal de Paris (1980), na mostra "Depois do Modernismo", na Sociedade Nacional de Belas-Artes, em Lisboa (1983), em "Tríptico", no Museum van het Hedendaagse Kunst, em Gent (1991), na Bélgica, em "Drawing Towards a Distant Shore: Selections from Portugal", no The Drawing Center, em Nova Iorque (1994). Expôs no Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado, em Lisboa, em 2004, depois da antológica na Gulbenkian, em 1996.

"É um dos artistas portugueses que mais recorreram ao desenho, praticando-o de forma quase exclusiva", lê-se na apresentação da sua obra, no 'site' do Museu de Serralves. "Apostado em expulsar da sua prática quaisquer tiques de academismo, cedo decidiu que, sendo destro, passaria a desenhar apenas com a mão esquerda. É principalmente conhecido através da prática obsessiva do autorretrato", em que se aplicou desde 1981.

"Esta recorrência ao seu rosto", como material de base, foi já descrita como "uma arte da fuga, composta de variações sobre o mesmo tema", recorda Serralves sobre o artista.

"Os desenhos em que Gaëtan se retrata, e onde surgem pequenas mudanças mais ou menos percetíveis da sua face e do seu corpo (...) têm servido para eleger o tempo e a memória como os verdadeiros temas do seu trabalho", descreve o museu de arte contemporânea do Porto.

A Fundação Calouste Gulbenkian disponibiliza 'online' a reprodução de "Agnus Dei (olhos castanhos, camisa aberta)", uma das obras de Gaëtan, da sua coleção, assim como a série "Arte da Fuga".

Em 1996, com a antológica "Terra de Ninguém", a Gulbenkian publicou o catálogo homónimo, com textos dos artistas e curadores Jorge Molder, que dirigiu o Centro de Arte Moderna, e Manuel Castro Caldas, professor e fundador do Ar.Co - Centro de Arte e Comunicação Visual.

Gaëtan está representado em coleções públicas e privadas, nomeadamente da Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação Luso-Americana, Caixa Geral de Depósitos, do Ministério da Cultura, da Fundação Carmona e Costa, do Ar.Co - Centro de Arte e Comunicação Visual, em Lisboa, está ainda representado no Museu de Arte Contemporânea de Serralves, no Porto, nomeadamente nas obras em depósito, e no Museu de Arte Contemporânea, no Funchal, entre outras instituições.

Preparava uma exposição individual para a Fundação Carmona e Costa, em Lisboa.