Escrito pelo jornalista italiano Roberto Saviano e editado em Portugal pela Alfaguara, “Beijo Feroz” continua as aventuras dos meninos da Camorra nas ruas de Nápoles, traçando um retrato cru de um bando de rapazes apanhados nas redes da máfia.
Este é um tema que tem sido explorado pelo autor italiano, desde que escreveu “Gomorra”, o seu primeiro livro, lançado em 2006, sobre a máfia napolitana, que documenta a atuação das máfias italianas e a sua relação com as instituições do país, e por causa do qual passou a ter que viver permanentemente com proteção policial.
Em 2016, lançou “Os Meninos da Camorra”, publicado em Portugal pela Alfaguara no ano passado, sobre um grupo de amigos adolescentes que vivem num bairro de Nápoles e cruzam as ruas nas suas motas, calçam sapatos de marca e têm tatuados nos braços os nomes dos seus gangues.
São jovens sem rumo, que não querem trabalhar para ganhar dinheiro como os pais, mas querem ter tudo, uma possibilidade que em Nápoles está ao alcance daqueles que escolherem o lado da Camorra - organização criminosa nascida em Nápoles e ligada à máfia Siciliana – e não tiverem medo de matar nem de morrer.
Percebendo que o crime organizado lhes granjeia dinheiro, poder e influência rápidos, os jovens começam a treinar com metralhadoras contra contentores de lixo e janelas e rapidamente começam a fazer serviços para os chefes da Camorra e a envolverem-se no tráfico de droga.
O dinheiro abunda, a vida de uma pessoa passa a valer menos do que uma palavra, e os jovens sentem-se imortais, mas a lista de inimigos começa a crescer e a sua própria vida fica no fio da navalha.
Este romance foi adaptado ao cinema por Claudio Giovannesi, tendo o próprio autor colaborado no argumento, que venceu o Urso de Prata no Festival de Cinema de Berlim, em fevereiro deste ano.
“Beijo Feroz”, que agora chega às livrarias” continua a seguir as aventuras destes jovens, cheios de fome e de raiva, desiludidos por promessas de um mundo que nada dá e tudo tira, que selam silêncios, estabelecem alianças, distribuem absolvições e condenações, através de beijos ferozes.
Se no romance anterior, os meninos da Camorra conquistaram o poder, cedo percebem que sozinhos não conseguem comandar, e para minar as velhas famílias da Camorra e dominar o centro histórico, para não passarem de predadores a presas, os jovens devem permanecer unidos. Mas a tarefa não é fácil, já que cada um persegue a sua própria missão.
“Beijo Feroz”, como “Os Meninos da Camorra”, é um romance em que o autor se deu a liberdade de criar personagens e situações, mas que não deixa, ainda assim, de retratar uma realidade, que o autor conhece bem, e que levou um jornal alemão a escrever que “o que Saviano escreve tornou-se realidade há muito”.
Roberto Saviano nasceu em Nápoles, em 1979, é autor do ‘bestseller’ internacional “Gomorra”, que foi publicado em mais de 50 países e deu origem a uma série de televisão e a um filme com o mesmo nome, que venceu o Grande Prémio do Júri no Festival de Cannes, em 2008.
É colaborador regular de vários jornais, como La Repubblica e L'Espresso, em Itália, Washington Post e The New York Times, nos Estados Unidos, El País, em Espanha, Die Zeit, na Alemanha, e The Guardian, em Inglaterra.
Pela sua atividade de autor e pelo seu empenho civil foram-lhe atribuídos vários prémios.
Desde outubro de 2006, vive sob proteção de escolta policial, no seguimento de ameaças de morte feitas pelos gangues que denunciou no livro “Gomorra”.
Em 2008 recebeu expressões de solidariedade de diversos prémios Nobel e em novembro do mesmo ano foi convidado a proferir um discurso sobre a liberdade de expressão na Academia Nobel.
Em 2013, voltou a publicar um livro de investigação – “ZeroZeroZero” (editado pela Objectiva) - sobre o narcotráfico, sendo ainda autor de vários outros livros de ensaios e crónicas.
No ano passado, o ministro do Interior de Itália, Matteo Salvini, líder da extrema-direita, anunciou ter apresentado queixa por difamação contra Roberto Saviano, o seu crítico mais virulento.
Antes disso, Matteo Salvini já tinha ameaçado Saviano com a suspensão da proteção policial que lhe está atribuída.
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