
Num encontro com jornalistas, que sucedeu o ensaio completo do espetáculo, a protagonista e diretora Teresa Coutinho afirmou que o livro que compilou a série de Berger, exibida no canal britânico BBC, em 1972, foi o ponto de partida para uma reflexão dos temas adaptada ao teatro: "Fiquei muito impressionada com o que li [e foi] a minha chegada a este tipo de reflexão sobre a imagem, o lugar do espectador e do recetor."
Apesar de admitir que "não foi óbvio" transformar os ensaios do livro "numa reflexão teatral", distingue-se uma primeira fase, sem diálogos, onde a atriz repete um percurso em palco, orientando um foco de luz - "com um papel fulcral" - para vários pontos da Sala Estúdio Amélia Rey-Colaço, com o intuito de oferecer perspetivas diferentes do local onde a ação se desenrola, em silêncio.
A atriz frisa que a repetição da coreografia-base acabou por ser estruturante, embora tenha surgido tardiamente e através de "experiências [de trabalho] com a luz" para "direcionar o olhar" dos presentes, com o projetor de luz a desempenhar a função de câmara de filmar.
A partir desse momento, adicionam-se outras camadas com vista a influenciar a perceção dos espectadores, destacando a escolha da música de fundo, que evidencia a inspiração na série idealizada pelo britânico John Berger, assente, segundo a encenadora, em "como a câmara de filmar (...) veio desvirtuar o olhar do recetor em relação à obra de arte", ao ampliar zonas distintas da mesma obra de arte.
Para contracenar com o ator Guilherme Gomes, Teresa Coutinho optou por representar "uma cena icónica" de "Romeu a Julieta", "muito reconhecível" para o público e, "ao mesmo tempo uma cena de intimidade que se passa entre duas pessoas", tendo "um fim [que] pretende incluir o público (...) sempre muito presente", salienta a atriz.
"Ways of Looking" integra o Ciclo Recém-Nascidos, organizado pelo Teatro Nacional D. Maria II e dedicado à exibição dos primeiros trabalhos de jovens produtores, encontrando-se em cena entre sexta-feira e domingo.
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