Salvador Martinha prepara-se para novas atuações do seu espetáculo "Na Ponta da Língua", desta vez no Teatro da Trindade, em Lisboa, nos dias 14, 15 e 16 de janeiro, e apresentou-o ao SAPO On The Hop. Mas não se ficou por aí...

Salvador Martinha

SAPO On The Hop: Sabemos que esta não é uma estreia, mas de onde surgiu a ideia para o espetáculo "Na Ponta da Língua"?

Salvador Martinha (SM): Estas são novas datas que estou a apresentar. E este espetáculo que eu estou a fazer agora, queria fazê-lo por duas fases, e a primeira parte foi o espetáculo "Cábula". Era um espetáculo onde todos os dias eu improvisava com a plateia, e queria que a plateia fosse cúmplice de criar o material comigo, e foi isso que foi feito. Às tantas, depois de fazer vinte vezes esse espetáculo, reuni o material que eu achava ser o mais forte. Reuni as histórias mais fortes que eu tinha construído no "Cábula" nas diversas sessões, ou seja, numa sessão escolhi uma história, depois outra noutra sessão, e reuni todas as melhores histórias para lhe chamar "Na Ponta da Língua".

De onde surgiu este novo título para o teu espetáculo?

SM: O cábula é uma pessoa que não está preparada, que tem muitos rabiscos na mão. Já na ponta da língua é aquela pessoa que estuda, e tu perguntas se ela vai levar cábulas, e a resposta é 'Não, não, eu tenho tudo na ponta da língua'. É um espetáculo que está com um ritmo que eu considero alto, e onde o objetivo é que as pessoas riam desde o princípio.

Para além deste espetáculo também tens outros projetos, como a tua presença nas manhãs da RFM, ou projetos diversos como foi o "Sal". Onde é que te sentes mais à vontade?

SM: O sítio onde eu me sinto mais à vontade é aquele onde consigo ser mais independente e ter o meu tipo de linguagem. Tenho uma linguagem muito específica, que demorei algum tempo a criar, e sempre que posso ser 'eu' sinto-me confortável. Seja na rádio, quando faço as minhas rubricas com a minha linguagem, ou no "Sal", onde me senti à vontade porque fazia de mim mesmo, mas no palco é talvez o local onde me sinto mais confortável porque sou totalmente independente. Em todos os sítios onde nós trabalhamos temos sempre algum chefe, e no palco quem manda sou eu!

Sempre soubeste que este era o rumo que querias para a tua vida, ou seja, a carreira humorística?

SM: Desde os 20 anos que nunca vacilei! É impressionante que, desde que me conheço, houve uma fase onde andei a estudar publicidade e pensei que podia ser criativo, mas ainda era estudante. O meu primeiro trabalho foi fazer humor e disse: 'Quero fazer sempre isto'. Houve momentos da minha vida em que eu pensei que isto se calhar dava muito trabalho, que devia era ir para o Alentejo e ter lá uma quinta. Nem dinheiro tinha para uma quinta, mas sonhava! Ter uma casinha, um quiosque, dizer 'bom dia' e 'boa tarde' às pessoas, uma vida pacata, mas nunca vacilei. Foi sempre este caminho que eu segui e realmente gosto muito.

Sempre foste o humorista lá de casa?

SM: Eu não era bem o piadista, porque não dizia piadas. Era uma pessoa que era naturalmente engraçada, e usava muitas expressões, mas na escola era. Posso até contar-te uma história engraçada. Eu organizava sempre uns Globos de Ouro. Eu era o apresentador e o organizador, e era certo que ganhava sempre dois globos! (risos) Ganhava o de mais engraçado e de mais simpático. Às vezes não ganhava o de mais simpático, mas como era o organizador tentava ali uma trafulhice para vencer, e assim ganhava sempre!

Toda a tua vida gira à volta do riso e do humor, mas já tiveste alguns momentos ou alguma fase menos boa?

SM: Isso é uma pergunta profunda... Eu sempre fui uma pessoa muito saudável de cabeça, e na minha vida nunca me fui muito abaixo. Contudo, também tenho os meus piques! Às vezes estou no meu estado mais melancólico, que é muito normal nos humoristas. Portanto, estados graves nunca tive. Felizmente nunca estive no fundo do poço, mas também me esforço para isso.

Qual o objetivo máximo que gostavas de atingir durante a tua carreira?

SM: Um dos meus grandes sonhos é fazer um filme de comédia. Gostava de realizar um grande filme de comédia, mesmo que eu não aparecesse. É interessante que todos os projetos que eu faço, faço-os numa altura em que já sonhei anteriormente. Eu agora estou com isto no Teatro da Trindade, mas eu já pensei nisto há muito tempo. Quando eu fiz o "Sal", eu já o tinha pensado há muito tempo. Estou no presente, a viver o que queria no passado, e já a pensar no futuro, o que é bom. Especificando um bocadinho, eu gostava de um dia conseguir fazer bons filmes de comédia. Resumir todo o meu trabalho e fazer bons filmes de comédia, cronicamente, onde de dois em dois anos tinha um bom filme de comédia.

Mudando o tom da conversa, vamos testar as respostas na ponta da língua. Qual é a resposta que, mesmo estando na ponta da língua, nunca pode ser dita?

SM: Tu fazes perguntas muito complicadas! O que é que eu nunca posso dizer... Isto era suposto ser rápido, não era? (risos) Olha já sei, às vezes apetece-me dizer mal do Sporting, mas não consigo. Tanto que não faço tantas piadas do Sporting, já fiz mais. Eu faço, mas... tu percebes o que quero dizer.

Qual é a pior piada de todos os tempos?

SM: A pior piada de todos os tempos... Não sei, mas posso-te contar isto... Foi num festival, o 'Fringe' na Escócia, o maior festival de comédia do mundo, e eu e os meus amigos da comédia fomos ver o espetáculo. E a piada final de um comediante era... Eu vou arrojar, estás preparada?! (risos) Terminava com ele a masturbar-se, ao vivo, todo nu, com uma mão de Mickey. Ah, e a dizer nomes em português! Ele interagiu com um amigo meu, que eu não vou dizer o nome, e ele dizia nome dele em português porque o excitava.

Fantástico... Não era mesmo nada do que eu estava à espera!

SM: Foi do pior! Foi mesmo o pior, e por isso acho que foi uma péssima piada.

O teu nome é Salvador Martinha. Tendo um apelido no feminino, como gostarias que fosse o teu nome se fosses uma rapariga?

SM: Tu fazes boas perguntas! (risos) Se eu fosse uma rapariga? Claramente que eu era a Francisca. Salvador é um nome muito beto, por isso a conversão seria a Francisca.

Focando-nos agora no teu nome próprio, Salvador... Se pudesses salvar, emendar, resgatar o que fosse no mundo, o que escolherias?

SM: Boas perguntas... Salvava o mundo da desmotivação. Vejo muitas pessoas tristes nos seus trabalhos e isso chateia-me. Reorganizava os trabalhos de toda a gente no mundo de forma a elas serem felizes a fazerem o que fazem. Mudava a infelicidade no trabalho.

Por fim, usando o título do teu espetáculo como inspiração, o que achas que a tua língua pensa de ti depois de tantas conversas e piadas ao longa da tua vida?

SM: Eh, a minha língua já quis fugir de mim. Acho que ela já quis fugir de mim e ter uma vida mais pacata. Quis ir para Fafe, para um agricultor pacato. É isso que ela pensa de mim. Acho que ela gosta de mim, mas que às vezes precisava de umas férias, porque dou-lhe muito uso.