Estreada em julho de 2017, no festival de teatro de Avignon, “Sopro”, de Tiago Rodrigues, esteve depois em digressão internacional.

“Sopro” é uma peça de teatro sobre teatro, a partir da história e das memórias de Cristina Vidal, como aquela sobre a primeira vez que viu uma peça de teatro, quando tinha cinco anos e foi dentro da caixa do ponto, debaixo do palco. Aos 21 tornar-se-ia ela mesma uma ponto.

Vencedor do Globo de Ouro de Melhor Peça/Espetáculo em 2018, “Sopro” é um espetáculo com texto e encenação de Tiago Rodrigues que, nestas dez apresentações será interpretado por Beatriz Brás, Carla Bolito, Cristina Vidal, Isabel Abreu, Marco Mendonça e Romeu Costa.

A peça estará em cena com legendas em inglês de sexta-feira a 17 de janeiro, e nos dias 18 e 19 terá legendas em francês.

No domingo, haverá uma sessão com interpretação em língua gestual portuguesa e audiodescrição.

Tiago Rodrigues decidiu fazer “Sopro” quando, após chegado à direção artística do D. Maria II, em 2015, se viu confrontado com a existência de dois pontos profissionais, os últimos em Portugal, confidenciou o próprio à Lusa em março de 2017.

Por ter trabalhado numa companhia independente, não sabia que utilidade dar-lhes, mas a presença de Cristina Vidal nos ensaios “tem algo da solenidade rigorosa de um samurai da palavra e também da sabedoria de quem já trabalhou com atores de todos os estilos, idades e temperamentos”, pelo que rapidamente se tornou “indispensável” para Tiago Rodrigues, observou, na altura, o autor.

“Com ela, aprendi que o ponto não é apenas esse burocrata dos bastidores que obriga à fidelidade do texto, que socorre as falhas de memória ou corrige as adulterações ao original. O ponto é um cúmplice dos atores, nos seus momentos de perfeição e, sobretudo, nos de imperfeição. Conhece-os, adapta-se a eles, aprende a respirar ao mesmo ritmo que eles. O ponto é também um advogado do autor e um conselheiro do encenador”, frisou.

O lugar de partida de “Sopro” é assim a imagem de uma mulher nas ruínas de um teatro, onde trabalhou como ponto durante toda a vida.

“Que teatro habita a sua imaginação e a sua memória? Que mundo nos pode dar a ver, usando apenas o seu sopro invisível?” “O que aconteceria se um teatro se desmoronasse e, nos seus escombros, só encontrássemos um sobrevivente: o ponto?”, eis algumas das questões levantadas na peça.

“No meio dos escombros, ela 'sopra' histórias. Algumas aconteceram em palco e outras nos bastidores, algumas parecem reais e outras ficcionais. Não sabemos quais são o quê. Ela própria, que as 'sopra', acaba por misturar cenas de peças com cenas da vida real. A sua memória não as distingue”, lia-se numa nota do Nacional, de apresentação da obra.

“Sopro” é também uma história de “histórias de amor, de intriga, de trabalho, de política, de vingança, de solidão, de amizade, e todas passadas num teatro” e tem cenografia e desenho de luz de Thomas Walgrave e figurinos de Aldina Jesus.

A peça vai estar em cena no Teatro Nacional São João, no Porto, entre os dias 12 e 22 de junho.