Os Tara Perdida são uma banda de culto em Portugal e no passado dia 10 de junho fizeram 20 anos de carreira. Agora, um ano depois da morte de João Ribas, o grupo prepara-se para lançar o seu novo álbum, "Luto", já no próximo dia 22 de junho, com o novo vocalista, Tiago Afonso. O cantor sente-se seguro e pronto para agarrar este desafio com unhas e dentes e não desiludir os fãs da banda. Tivemos uma conversa animada e descontraída com três integrantes da banda, o guitarrista Rui Costa (Ruka), o baterista Pedro Rosário (Kystos) e Tiago Afonso.

Tara Perdida

Antes de mais, queremos felicitar-vos pelos 20 anos de carreira comemorados a 10 de junho. Como se sentem por estas duas décadas de existência?

Rui Costa (Ruka): A gente sente-se bem, sente-se mais velho e o que nós mais gostamos é de tocar.

Como podem resumir estes 20 anos?

Ruka: O balanço é positivo. Quando começámos este projeto o objetivo era que as pessoas conhecessem a nossa banda, era beber muito e tocar desafinado. Mas por volta do ano 2000 achámos que podíamos levar a banda mais a sério. O nosso objetivo era sempre tocar em todo o lado e eu acho que esse é o objetivo de qualquer banda. Na altura não havia internet e então éramos apenas uma banda de jardim e amigos.

O ano passado foi um ano complicado para vocês devido à morte de João Ribas. Como foi a decisão de continuarem este projeto?

Ruka: A decisão não foi fácil. Pensámos se valia a pena continuar ou não. Mas depois tivemos uma reunião com a Sony, que nos deu forças para continuar. Acho que foi aí que conclui que não valia a pena acabar. Pensei para mim “venha o disco para tirar a dor”. Claro que não se “tira” a dor, mas alivia. As coisas surgiram naturalmente depois, e este foi o disco mais rápido da história em termos de edição. E agora temos o Tiago Afonso, o novo vocalista.

Tiago, como novo vocalista, sentes uma responsabilidade acrescida por fazer parte deste novo álbum?

Tiago Afonso: Quando eles me convidaram no ano passado, antes de começarmos a fazer fosse o que fosse, obviamente que senti logo uma grande responsabilidade em estar numa banda onde o vocalista era o João Ribas. Mas quando começámos a tocar e a fazer as coisas percebi perfeitamente que eles vêm do mesmo sítio de onde eu vinha. Uma banda antiga onde simplesmente os amigos se juntam para fazer música e eles têm que o fazer para poderem estarem bem. Por isso senti logo essa ligação forte entre mim e eles e a partir daí, esse nervosismo e responsabilidade começaram a desaparecer.

Foi difícil arranjar um novo vocalista?

Pedro Rosário (Kystos): Mais ou menos. Foi complicado, mas arranjámos, isso é que interessa.

Qual tem sido o feedback dos fãs quanto ao novo vocalista?

Kystos: Até agora tem sido cinco estrelas.

Sabemos que este álbum é também um álbum de luto e que significa muito para vocês. Como foi o processo criativo?

Ruka: Foi rápido. Foi basicamente como todos os outros discos. Fiz a escrita das letras e a estrutura das músicas com o Ganso (Tiago Felgueiras). Às vezes só tínhamos 30% da música feita e nós acabávamos por fazer o resto. Mas acabou por ser um disco rápido. No meu caso houve alguma revolta, mas acho que as coisas foram bastante mais rápidas que o normal. Normalmente fazíamos um disco por ano, e este foi feito apenas em nove meses, é como um filho. Começou a ser realizado desde que o Ribas morreu e quando demos por nós já estava feito. Também convidámos o Mário Barreiros para gravar o disco connosco, e para nós também foi um objetivo conseguido.

Estão ansiosos para saber as opiniões do público a cerca deste novo trabalho?

Ruka: Sim, e é normal, tendo em conta que temos o Tiago na banda agora. Mas a sonoridade é dos Tara Perdida. Estamos a tocar melhor, eu acho. Também é normal e o objetivo é esse, estar sempre a evoluir. Trabalhámos bastante como banda mas este disco é sem dúvida um disco forte em termos sentimentais. É impossível não ser, o que está aí é tudo tocado com o coração, as coisas surgem e gravam-se, não há que pensar muito nesse disco. Para mim é o mais forte de todos.

Já têm concertos marcados?

Ruka: Sim, já temos andado aí a tocar. As pessoas estão a receber bem o disco que sai no próximo dia 22. É normal que para algumas pessoas seja difícil aceitar o Tiago, já que estão muito agarradas à voz do Ribas e à imagem dele. Mas isso aí é um problema que não é nosso. Se toda a gente fosse do Benfica não havia campeonato nacional, não é? Por acaso não estamos muito preocupados com isso, estamos mais preocupados com a nossa vida, não vivemos a vida dos outros, vivemos a nossa e acho que isso é o nosso trabalho. A nossa prioridade é trabalhar.

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Agora para acabar, algumas perguntas de resposta rápida.

Quem é o mais mentiroso?

Ruka: Acho que aqui ninguém mente, nos Tara Perdida se houvesse qualquer tipo de mentiras a pessoa era despedida.

Tiago: Alguém ia morrer. (risos)

Ruka: Não podia estar aqui simplesmente, nos não lidamos bem com cinismo e hipocrisia.

Quem é o mais medroso?

Ruka: Ui, isso é uma boa pergunta. Mas eu também não posso acusar ninguém não é? Nunca vou acusar os meus amigos. (risos) mas em termos de decisões são todos, menos eu. (risos)

Quem é o mais barulhento?

Tiago: É o Ruka!

Ruka: Também sou eu.

Tiago: O Ruka, sem dúvida nenhuma.

Quem e o mais mulherengo?

Todos: Hei…

Tiago: É o Ruka! (risos)

Ruka: Este gajo está a enterrar-me!

Tiago: Eu acho que é tudo o Ruka.

Ruka: O sex symbol é ali o Pedro. Não! O mais mulherengo é o Tiago. No primeiro dia que ele veio ensaiar trouxe logo duas amigas.

Quem é o mais romântico?

Ruka: Sem dúvida, o Tiago. (risos) Eu também sou um gajo romântico, mas o Tiago é muito mais. O Tiago é daqueles que vai para a praia ver o pôr-do-sol com a viola e está ali a falar com o mar e com os peixes. Eu, depende da altura, esse tipo de músicas para mim têm de depender do meu estado de espírito. Não posso, num dia em que estou muito agitado, estar a ouvir música romântica (risos) mas gosto muito, sou romântico também.

Quem é o que aguenta mais a bebida?

Tiago: Eu não sou porque não bebo álcool.

Ruka: Posso ser eu pronto. (risos) Mas não era eu, mas posso ser eu.

Fotos: Carina Sousa