Uma porta vermelha é o centro do cenário da nova peça, a décima primeira, do Teatro Fantasia, da Associação de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental (APPACDM) de Santarém, um espetáculo que envolve 11 atores.
“Uma porta é sempre um bom começo”, diz Gonçalo Heitor, o ator de 31 anos que desempenha o papel de Manel - o marido de Maria (Ana Cristina Silva) - e que gosta muito de “dizer as falas”, como a que marca o arranque de uma peça que é uma “mensagem de amizade, de boa vizinhança, sobre acolher e, essencialmente, sobre construir algo em redor de pouco”, apresenta o encenador Pedro Santos.
O espetáculo “A Porta”, a partir do livro de José Fanha, volta a colocar em palco, na próxima sexta-feira no Teatro Sá da Bandeira, em Santarém, no âmbito da comemoração dos 44 anos da APPACDM Santarém e das Festas da Cidade, um grupo de teatro que é já “muito conhecido, muito viajado”, afirma Ana Cristina, membro do núcleo fundador de atores.
Com 40 anos, pisou o palco pela primeira vez tinha 21 anos, uma longa “vida artística” que a levou a várias cidades de Portugal mas também, várias vezes, à República Checa (com participações em festivais internacionais em Zbêsicky, Milevsko e Praga,) e a França (por duas vezes estiveram em Toulouse).
“Foi muito bom para nós”, disse à Lusa, opinião corroborada pelos que partilharam a experiência, como Gonçalo Heitor, mais recente no grupo e que perdeu “o medo de voar” quando foi a Praga.
Na história, Manel e Maria são o casal que “chega de malas feitas a uma casa nova”, mas a casa não tem paredes, nem teto, nem janelas. Apenas uma porta. E como “uma porta é um bom começo”, sobretudo quando abre para um “mundo mágico” onde vivem vizinhos invulgares, a casa vai-se inventando.
Juntamente com o enorme sucesso alcançado na parte desportiva – com oito recordes nacionais e numerosas medalhas obtidas em participações em 11 provas internacionais –, o Teatro Fantasia mostra externamente o trabalho que é feito na instituição, disse à Lusa Paulo Cotrim, diretor do grupo, sublinhando que os clientes da APPACDM não ficam isolados, fechados, mas são estimulados a desenvolver a sua criatividade.
Maria do Céu Dias, psicóloga e diretora pedagógica da APPACDM Santarém, realça à Lusa a “diferença muito grande” sentida nos elementos do grupo, tanto em termos de linguagem como no à vontade em público, no interesse pela vida.
“Uma das primeiras coisas que trabalhamos é o silêncio”, muito importante no teatro, por trabalhar o “saber esperar a sua vez”, as regras, depois há também a postura corporal e vocal e a autoestima, diz Paulo Cotrim.
O projeto do teatro acaba por envolver as várias valências da instituição, desde a carpintaria e a serralharia (da área da formação profissional), na construção dos adereços, à lavandaria, e funcionários como a Xana, que, sendo “muito prendada”, ajuda a adaptar alguma roupa do “grande guarda-roupa” criado ao longo de quase 20 anos.
Na peça, Xico Parafuso (Rogério Lopes, 49 anos, o ator que adora cantar e também é membro fundador) procura pôr ordem no caos, enquanto Isabel Oliveira (também no grupo desde o início) é a “princesinha” que gosta de “memorizar texto” e estar em cima do palco.
Os “estranhos” vizinhos incluem ainda o Bruxonauta (David Amaro) e o Grande Espinafre (David Nunes), fazendo Guida Serra, Bruno Leitão, João Matos, Ana Borgas e Madalena Veríssimo parte da empresa de mudanças.
Depois de dia 18 e da apresentação, a 21 de março, no Festival Nacional de Teatro Especial, em Abrantes, o espetáculo está pronto a seguir "para onde o chamarem", frisa Paulo Cotrim.
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