Partindo da dramaturgia de Francisco Luís Parreira, o espetáculo – que marca o arranque da programação de 2020 dos espaços geridos pelo Teatro Nacional São João – quer pôr os espetadores a pensar nas verdades e nas mentiras que se contam nas histórias do Ultramar.

Um destas histórias conta um imaterial confronto entre soldados de uma patrulha e uma manada de antílopes na savana inexplorada.

Não sendo uma “peça completamente positiva” por abordar “momentos fatais, dolorosos e trágicos”, o encenador, João Garcia Miguel, explicou que “Um Plano de Labirinto” é, sobretudo, uma peça interrogativa, crítica e que instala a perplexidade.

“A necessidade de explicar o mundo é julgar que se pode caminhar para trás, absorvendo tudo aquilo que se perdeu, quando nos confrontamos com a surpresa do que é viver”, disse, no final do ensaio aberto a jornalistas.

O texto sobre o desencontro e o encontro com a morte é, ainda, a história de um náufrago, poeta e herói trágico, que atravessa o rio Tejo para fugir de um amor de um continente perdido que nunca conheceu.

O poeta é um “super-Camões”, que dedica os seus poemas a uma mulher mulata, representada por uma deusa africana, uma mulher sagrada que é obrigada a abandonar a sua casa para fugir à guerra e rumo à Europa.

João Garcia Miguel adiantou que a peça retrata uma “história de amor entre um europeu e uma africana, entre um branco e uma negra”, que não é mais do que uma “história de amor entre Portugal e Angola”.

“O casal não conseguiu viver por questões pessoais e raciais”, lembrou, acrescentando que o poeta vive uma “crise terrível a nível profissional e pessoal”.

Na verdade, esta “crise existencial” do escritor é também sinónimo de uma época em crise, que colocou pessoas em dificuldades e que acentuou ainda mais as fragilidades existentes, disse.

O ator João Lagarto, que veste a pele do poeta, reforça a existência da luta “interior e exterior” que vive e que o “agarra, sufoca, apaixona e dececiona”.

“Era uma história de amor que prometia tudo, mas que, por medo e cobardia dele, acabou por não avançar”, contou a intérprete Sara Ribeiro, no papel de Vera.

Depois da estreia no Porto, onde está em exibição até dia 19, o espetáculo segue para Lisboa, onde vai estar em cena no São Luiz Teatro Municipal, entre 23 de janeiro e 2 de fevereiro.