Há algum tempo um grupo de autores e críticos concluiu que “Absalom Absalom” é o maior livro alguma vez escrito sobre o sul “yankee”. As listas valem o que valem - mas, de qualquer forma, situam no topo esse desafio brutal ao leitor - com a sua narrativa fragmentada e ao mesmo tempo poética, narrando de forma seca e imperturbável as tragédias e desagregações de um mundo cujo mito, o do sul idealizado, se revela impossível de realizar com os seus milhares de escravos e violentos donos de terra.
Os temas percorrem outras obras do escritor, que cria uma espécie de mitologia de uma terra marcada por proprietários decadentes, escravos, violência e uma dura relação com a modernidade. Há personagens que surgem em mais de um livro, enquanto a aldeia fictícia de Yoknapatawpha, no Mississipi, serve novamente aos propósitos de Faulkner para elaborar sobre a paisagem sulista.
Um dos agressivos colonizadores destas terras, Thomas Sutpen, é o protagonista desta história - um homem do qual “até as bestas tinham medo” e chega a Jefferson, localidade também fictícia, ninguém sabe de onde e disposto a construir uma plantação e ser um respeitado senhor local. Em nome desta respeitabilidade acaba por convencer a família de uma mulher local, irmã de uma das narradoras, e tem com ela um filho e uma filha.
Faulkner parte da ideia da impossibilidade dos diferentes personagens que narram uma história passada muitos anos antes terem acesso ao total da narrativa - atribuindo aos quatro narradores (a velha Rosa Caulfield, irmã da mulher de Sutpen, Quentin Compson, que estuda em Harvard e é neto do único amigo de Sutpen, e o seu colega de quarto Shrevlin McCannon). Compson é um dos protagonistas de “O Som e a Fúria”, que se debate, também com diferentes pontos de vista e “desordem” cronológica a história de outras decadências familiares.
Nesta base de captação das correntes da memória numa base realista, monta-se assim uma espécie de quebra-cabeças baseado na perspetiva subjetiva de cada um, com as suas incompletudes e enganos. Essa torrente contínua de informações por vezes vai dar em frases como uma do capítulo 6 que chega a ter perto de 1300 palavras e percorre três páginas e meia!
“Absalão, Absalão!” é o nono livro de William Faulkner.
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