O disco, em formato instrumental, traz oito faixas e participações especiais internacionais, como a da artista portuguesa Maria João, dos brasileiros Jaques Morelenbaum, João Gaspar, Jessé Sadoc e Carlos Malta e dos cabo-verdianos Miroca Paris e Rolando Semedo. Para participar neste projeto, Bernardo e Pablo convidaram Alexandre Vaz, produtor musical brasileiro residente em Nova Iorque.

"Zambujeira" é um álbum de encontro entre dois artistas que se conhecem há muito e que resolveram criar em conjunto durante a pandemia, tendo como inspiração temas como a migração para Portugal (país que acolheu ambos os artistas), filhos, distâncias e novos rumos. Coproduzido por Bernardo Lobo e Pablo Lapidusas, "Zambujeira" foi gravado entre maio e outubro de 2021 em Portugal (Lisboa e Portimão), EUA (Nova Iorque) e Brasil (Rio de Janeiro). Devido à pandemia, todas as gravações foram realizadas nos estúdios caseiros dos músicos e no Superlegal Studio-Brooklyn.

O single "Estradas" antecedeu o lançamento do disco, e não por acaso também é a faixa que abre o novo álbum por sugestão do mestre Edu Lobo, pai de Bernardo, que ao ouvir o trabalho do duo em primeira mão, escreveu: “Meu filho querido, está muito bonito o trabalho e, principalmente, muito original. Não sei qual será a ordem dos temas e por isso que eu queria sugerir a vocês uma faixa que eu acho ideal para começar: Estradas, e vou te explicar a razão. É uma melodia muito bem construída e um tempo de 5/4 que já dá uma ideia bem precisa do que vocês pretendem. As vozes enriquecem a faixa, sem contar com o arranjo e o belo solo do Jessé (Sadoc)”.

"Estradas", assim como todo o álbum, é singular por si só. É diferente para o carioca Bernardo Lobo, um compositor em sintonia com o seu tempo, que produz uma música original, contemporânea, a partir dos elementos brasileiros que formaram a sua cabeça, numa mistura empolgante e sofisticada de samba, baião, ciranda, afoxé e xote que caracterizam o seu trabalho e que estão muito presentes nos seis álbuns anteriores a "Zambujeira". Pela primeira vez, Bernardo aventura-se num álbum instrumental, tendo sempre como referência a música brasileira, mas em busca de uma sonoridade sem fronteiras, moderna e arrojada na forma e nos arranjos, difícil até de catalogar, num movimento de desprendimento ou mesmo um "até breve" às suas referências musicais anteriores, fortemente calcadas na canção, fortemente calcadas no Brasil. Bernardo tem parcerias históricas com grandes nomes da MPB, como Milton Nascimento, Ivan Lins, Seu Jorge, Paulo Cesar Pinheiro e Marcos Valle, apenas para citar alguns além do seu pai e da sua mãe, Wanda Sá.

"Um álbum com frescor, instrumental e sem rótulos"

“Foi o encontro entre dois artistas, amigos de longa data, que resultou num álbum com frescor, instrumental e sem rótulos. Um trabalho autoral, assinado pelos dois, com melodias e texturas que narram histórias de amizade, migração para a Europa, raízes sul-americanas e amor”, afirma Lobo sobre "Zambujeira".

Do Brasil, também migrou para Portugal o pianista argentino Pablo Lapidusas, um músico/cidadão do mundo, como bem definiu o jornalista brasileiro Antônio Carlos Miguel. Com cinco álbuns lançados e um songbook com as suas composições, Lapidusas já colaborou com inúmeros artistas em gravações, especiais para a TV/Rádio e digressões em mais de 30 países, entre eles Hermeto Pascoal, I Musici di Montreal, Marcelo D2, Cesar Camargo Mariano, Hamilton de Holanda, Marcus Wyatt, Eugene Friesen e Ehud Ettun. No início de novembro, Lapidusas foi vencedor do "Prêmio Profissionais da Música", na categoria Trilha Sonora, pela música da série "Herdeiros de Saramago", da RTP. Esta foi a primeira vez que uma produção portuguesa foi galardoada nesta categoria da premiação.

Embora seja no formato instrumental, o mesmo dos seus cinco discos anteriores, "Zambujeira" também lançou Lapidusas para fora da sua zona de conforto. "Optamos por privilegiar a canção acima de qualquer outra ideia. O disco, apesar de todo calcado no piano, quase não tem solos, e sim texturas, que dão suporte e colorem as melodias. Todos os temas têm três minutos, em média, e isso foi um desafio para mim. Esse foi o norte para álbum", pontua Lapidusas.

A seguir pelas outras sete faixas do álbum, encontramos "Além-mar", inspirada no tema "Gmynopédie 1", de Erik Satie, que traz a participação especial do maestro Jaques Morelenbaum; "Longe do Rio, perto do Tejo", em que a participação da genial Maria João retransformou a canção com o seu canto percussivo e valorizando a melodia; "Um chorinho pequenino", que faz uma homenagem aos filhos dos artistas, que abrem a faixa com falas e sorrisos. "Andorinhas" é um tema de Pablo que acalma a alma e o coração. A faixa título tem influências de ícones da música brasileira, como Dori Caymmi, e a africanidade marcada pelas participações especiais dos grandes músicos cabo-verdianos Rolando Semedo (violão) e Miroca Paris (percussão), que puxam o arranjo e a cor deste tema para a morna. E por fim, dois temas que contam também com a co autoria do produtor Alexandre Vaz: "Ecos do mar", em que se pode ouvir o mar do Algarve e a flauta inconfundível do escultor do ar Carlos Malta, e "Luz e Breu", único tema anterior ao período de confinamento, que na sua versão original, do ano 2000 (Lobo/Vaz), teve a participação de Milton Nascimento a cantar com Bernardo e agora surge numa irretocável interpretação de Lapidusas. A produção musical certeira de Alexandre Vaz sublinhou e enriqueceu as texturas das canções, privilegiando e realçando o que cada um dos músicos trouxe de seu para o projeto.

Para Ivan Lins, o disco "Zambujeira" é uma “surpresa agradável na praça”. Convidado a escrever um texto sobre o álbum, o músico afirma que Lapidusas “transita bem por todos os géneros de música com muita criatividade, namorando as estranhezas harmónicas e rítmicas com muita malicia e graça”, enquanto “Lobo mostra aqui uma nova vertente (pelo menos para mim) na sua trajetória autoral: música instrumental”. O renomado cantor, compositor e pianista brasileiro conclui: “É um trabalho leve, sutil, instigante. Muito bem gravado. E muito bem produzido por Alexandre Vaz, brasileiro residente em Nova Iorque, que sendo multi-instrumentista, participa de várias faixas, além de ser coautor de dois temas. As composições transitam entre o semi-erudito, jazz, world music e, claro, música popular brasileira. No seu conceito, é um disco incomum. Não diria ‘difícil’ em certos momentos, mas por sua inventividade e imprevisibilidade é para poucos e, principalmente, para bons ouvidos, para os apaixonados por uma boa e surpreendente música do século XXI”.