O ex-director da SIC, actual professor universitário e um dos rostos da Telecinco, projecto que concorre à licença do quinto canal generalista, tece duras críticas ao panorama televisivo
Como avalia o panorama da televisão nacional?
Está medíocre. Não vejo a televisão dar um grande salto em frente, está toda a gente muito recuada, com uma produção muito atrasada, sem capacidade para recuperar aquilo que são novos formatos e novas estratégias. Acho que regredimos em Portugal.
O que traria uma mudança neste momento?
É preciso que apareça uma televisão não só como uma outra filosofia, mas que dê abertura a todas as novas tecnologias que já estão ao dispor de todas as cadeias no mundo. É preciso começar a entrar na Televisão Digital Terrestre e a produzir nessa direcção. Ainda ninguém está a fazer isso.
O que deveriam fazer os canais generalistas para melhorar?
Se fizermos uma comparação da programação dos generalistas de hoje e de há 15 anos, é a mesma, com algumas excepções.
Mas os canais têm apostado muito em produções nacionais.
Mas isso não chega. As pessoas fogem cada vez mais para os canais temáticos do Cabo. Quem é que suporta novelas das seis da tarde à meia noite e meia?
Há cerca de um milhão e meio de pessoas a ver a ficção nacional. Como se contorna isso?
Não impondo. Acho que estão a destruir esse género fantástico que se chama novela que não deve ser usado até à exaustão. Quando comandava a SIC também havia novelas, mas havia espaço para outras produções. Era o que se devia fazer e não a lei do menor esforço que é: «Tomem lá sete horas de novela».
Tem vontade de abanar este panorama?
Estou ligado a um projecto cuja discussão se está a fazer nos tribunais que é o Telecinco. Se os tribunais agirem de acordo com os interesses de um grande grupo de profissionais que se juntou para esse efeito, vocês vão ver como é possível pôr de pé uma nova estação, com uma nova filosofia e uma nova programação. Há muitas coisas que mudaram no mundo da televisão mas, em Portugal, não só não mudámos, como regredimos, perdemos ambição.
Qual é a sua opinião sobre esta nova edição do «Big Brother» («Casa dos Segredos» na TVI)?
Não tenho nada contra os «reality-shows», só quando ferem os direitos humanos. O «Big Brother» que vi há 10 anos mexia com direitos humanos, com questões delicadas e era uma versão que nunca aceitaria.
E quando viu o programa no ar continuou a achar o mesmo?
Não. Acho que foi aligeirado e melhorou bastante a versão apresentada. Conseguiu captar a atenção das pessoas em geral. Um «reality-show» que não tenha esse inconveniente dos direitos humanos é um bom atractivo.
Ficou arrependido de ter deixado fugir o primeiro «Big Brother» para a TVI?
Não. O que fiz foi comprá-lo para a SIC, que era a estação que dirigia na altura. Mas não consegui pô-lo no ar e vencer essa questão no conselho de administração. Depois fui-me embora da SIC à conta disso.
(Texto: Inês Costa / Foto: Gonçalo Português)
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