Em matéria de música, Sílvia Alberto é uma especialista. Não a cantar, porque esse não é o seu forte, mas a conduzir programas que põem à prova os dotes musicais dos portugueses. Apresentou o «Ídolos» (2003), ao lado de Pedro Granger, na SIC, e a «Operação Triunfo» (2007), na RTP1. E de há três anos para cá, Sílvia é a estrela escolhida por José Fragoso, director de Programas da RTP, para apresentar o «Festival da Canção» que, este ano, será transmitido, em alta definição, a partir do Campo Pequeno, em Lisboa, no dia 6 de Março.
Numa conversa com Sapo TV, a apresentadora confessa não ser muito dada a cantorias, mas diz ter bom ouvido. Saiba porquê!

Ficou feliz com o convite?

Sim! Esta é já a terceira vez que apresento o Festival da Canção. A RTP tem feito um esforço pela renovação do certame e acho que está a começar a colher os frutos. No ano passado, trabalhámos com equipas jovens e coesas, o que resultou num programa desempoeirado e bem divertido. Também recuperámos o esquema de votação distrital e senti que a emissão ganhou bastante com isso (se bem me lembro, os resultados foram óptimos). Este ano, mudámos para uma casa maior, o Campo Pequeno, e, assim, já podemos receber todos os que quiserem assistir. Nota-se grande entusiasmo por parte dos participantes.

A música também faz parte da sua vida, pelo menos, no que diz respeito à carreira de apresentadora. Está mais do que confortável neste registo televisivo, certo?

Em directo, nunca fico totalmente descontraída, mas pode-se dizer que é um registo que me deixa confortável, sim. E, claro, já estou cheia de saudades de voltar aos directos!

Cantar: é um dom ou nem por isso?

Na sua grande parte, é um dom, mas acredito que 60% seja trabalho. É raro o brilhantismo puro, sem esforço e dedicação.

A Sílvia tem por hábito cantarolar? Em casa, nos «karaokes» ou nos bastidores dos programas que apresenta?

Não.

Porquê? Não tem jeito?

Podia ter mais!... (risos)

Conhece as canções que vão a concurso?

Sim, acompanhei a votação online.

E gosta?

Naturalmente que gosto mais de umas do que de outras. Mas gostos pessoais não se discutem, além de que o ouvido também precisa de ser educado. As canções que concorrem ao Festival são inéditas e nem sempre é fácil reconhecer uma boa música da primeira vez que a ouvimos. Como se costuma dizer, primeiro estranha-se, depois entranha-se.

As músicas vivem sobretudo das letras, embora no Festival da Eurovisão, em Oslo, sejam os ritmos e as sonoridades que ganham força. Também pensa assim?

Para mim, a música não vive sobretudo das letras, de todo, estas são até dispensáveis. É quase uma questão de pele, gostamos ou não do toque, sem percebermos muito bem o porquê no imediato. A letra, se não for adequada, pode bem estragar uma boa música. Em Oslo, como em qualquer outro país de língua estrangeira, o que conta, claro, é a sonoridade, da qual a letra também faz parte. Se não destoar e até potenciar a canção, o não entendimento do que as palavras querem dizer é simplesmente indiferente.

Que análise faz sobre as letras das «nossas» canções?

O nosso país tem grandes poetas, disso não há dúvidas, mas escrever boas letras para canções é façanha de poucos (Ary dos Santos, António Variações, Carlos Tê, Manel Cruz...), porque a grande maioria dos poetas não se dedica a escrever canções e nem todos os músicos têm veia de poeta. Depois, imagino que escrever uma canção deva requerer uma sensibilidade muito diferente. Implica alguns conhecimentos musicais, como saber associar a métrica ou a sonoridade das palavras ao ritmo da canção.

Os portugueses têm cultura musical?

Claro que têm! E bom gosto também. Vingar no meio é difícil e as bandas já perceberam que participar em festivais é algo que podem fazer por prazer, mas não serve como rampa de lançamento. Talvez isso desmotive algumas participações. Isso e as comparações com outros géneros musicais com os quais não se identifiquem. Acho que as bandas receiam associações. Na realidade, tenho pena que não apareçam mais corajosos como os Homens da Luta que, apesar de terem sido desclassificados por não cumprirem o regulamento, vieram lembrar outros públicos mais radicais, que participar no Festival pode ser divertido.

A votação através da Internet é uma mais-valia?

É, a meu ver, essencial. Passamos horas do nosso dia em rede, cada vez mais a Internet tem influência na forma como consumimos televisão. Faz todo o sentido apostar em projectos multimédia.

É o primeiro «Festival da Canção» emitido em alta definição. Vai valer a pena ver?

A primeira emissão a cores de TV (em Portugal) aconteceu no Festival da Canção [em 1980 - nota de redacção]. Agora a história adapta-se aos nossos dias e o «Festival da Canção» vai ser pela primeira vez emitido em HD. Vale a pena notar as diferenças, mas, sobretudo, vale a pena continuar a alimentar o culto. É um espectáculo transversal, acompanhado por saudosistas, gente daquele tempo e por aquela «malta gira» que eu gosto de apelidar de «os fãs do José Cid». Por isso, se simpatizas com o José Cid, foste apanhado, não podes perder o "Festival da Canção"! Há grupos que se reúnem especificamente para assistir ao «Festival da Canção» e, como estamos no Campo Pequeno, venham todos divertir-se com a RTP, eu prometo dar o meu melhor para ajudar ao espectáculo!

(Entrevista: Joana Côrte-Real)

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