Com estreia marcada para final de 2020, pela mão da RTP, "Trezes" vai levar até ao pequeno ecrã treze contos populares portugueses, que vão contar com a realização de treze realizadores diferentes. Com o objetivo de aproximar a literatura do cinema, este projeto conta com a produção da Marginal Filmes, pela mão de José Carlos de Oliveira e Ricardo Pugschitz de Oliveira.

Os primeiros três contos são do século XIX: “A Abóbada”, de Alexandre Herculano (1810-1877), realizado por Cláudia Clemente, “O tesouro”, de Eça de Queiroz (1845-1900), com realização de Carlos Coelho da Silva, e “O sítio da mulher morta”, de Manuel Teixeira-Gomes (1860-1941), dirigido por José Carlos de Oliveira.

Seguir-se-ão “Um jantar muito original”, da autoria do pseudónimo Alexander Search de Fernando Pessoa (1888-1935), realizado por Leandro Ferreira, “Fronteira”, de Miguel Torga (1907-1995), cuja adaptação fica a cargo do realizador João Cayatte, e “O ódio das vilas”, um conto de Manuel da Fonseca (1911-1993), que António da Cunha Telles adaptará.

“O rapaz do tambor”, de Fernando Namora (1919-1989), o conto popular “A pereira da tia Miséria”, “O lavagante”, de José Cardoso Pires (1925-1998), e “Uma vida toda empatada” de Mário de Carvalho, são as adaptações que se seguem, respetivamente a cargo dos realizadores Filipe Henriques, Marie Brand, António-Pedro Vasconcelos e Tiago de Carvalho.

A terminar os 13, contam-se ainda o conto de Lídia Jorge “Miss beijo”, realizado por Nuno Rocha, “As cinzas da mãe”, de Cristina Norton, com realização de José Farinha, e “A morte do super-homem”, de Rui Zink, dirigido por João Teixeira.

Ao SAPO Mag, José Carlos de Oliveira apresentou o projeto "Trezes".

SAPO Mag: Como surgiu a ideia para "Trezes"?

José Carlos Oliveira: O cinema é uma arte provocatória, no sentido de despertar os espectadores para universos extremos de conflito que possam trazer alguma luz sobre questões que nos condicionam. Ora sendo o treze um número entendido como aziago por muitos, ele é também considerado por outros como símbolo de um novo começo. Sendo este um projeto com características invulgares – cuja produção encerra enormes riscos de gestão - e até inovadoras, que pode contribuir para abrir uma nova fase da relação do cinema com a literatura portuguesa, e com os espectadores, decidimos ser o título genérico de "Trezes" o mais adequado, além de, evidentemente, provocatório.

Como foram escolhidos os treze contos populares portugueses?

O "Trezes" é um conjunto de filmes que se dirige, sem distinções, a todos os públicos; seguindo esse critério, houve que seleccionar contos que fossem não só transponíveis para cinema, como permitissem, na adaptação, uma arquitectura narrativa legível – mesmo que, nalguns casos, clivada – e uma estrutura dramática emocionante. Neste quadro, foram seleccionados 13 dos nossos melhores escritores, de Alexandre Herculano, com "A Abóbada", a Rui Zink, com "A Morte do Super-Homem".

E como foi feita a "divisão" dos contos pelos vários realizadores?

Um pouco como na selecção de atores, em que para além do talento e técnica de cada um deles – e são muitos – se procura identificar a sua índole e expressão natural mais adequadas a cada uma das personagens. No caso dos realizadores procurámos identificar em cada um dos 13 a marca de estilo distintiva em função do espírito de cada um dos contos. E tem sido um exercício de resultados notáveis e de elevado nível.

Qual foi o maior desafio de criar este projeto?

O maior desafio centra-se na gestão de um projeto com esta dimensão, em que os compromissos financeiros da produção de 13 filmes, sempre com novos cenários e adereços e, portanto, sempre novas locations, novos figurinos, uma equipa com algumas dezenas de elementos, mais de 80 atores e muitos figurantes, argumentistas e 13 realizadores... Só a preparação e competências técnicas dos muitos que executam o projecto, e a visão e sustentada solidariedade da programação da RTP permitiram e continuam a assegurar os resultados que estamos a obter.

E qual o desafio de pegar em contos populares e de os levar ao pequeno ecrã? Há uma maior "pressão" por saber que a maioria do público conhece as histórias?

A ideia de um dos contos ser um popular sem autor conhecido foi a de homenagear precisamente os contistas populares desconhecidos, que ao longo dos séculos têm contribuído para a passagem de elementos culturais e de costumes por via da narrativa oral. Pegar nisto, no caso de um projecto com as características doo TREZES seria, quase, uma obrigação.

Qual foi o objetivo principal ao criar este projeto?

Aqui na Marginalfilmes, O Ricardo Oliveira – Produtor Executivo – e eu sempre olhámos a “invasão” da literatura pelo Cinema como uma necessidade evidente; especialmente quando falamos de autores que nas suas obras apresentam à sociedade uma leitura crítica, que pode – e, na minha opinião, deve – ser formativa, e que mais intrusiva e referencial se torna quando a isso acrescentamos a interpretação de argumentistas e, particularmente, o olhar diverso de 13 realizadores. Poderemos assim, na execução deste desafio do Diretor de Programas José Fragoso, talvez e com um parceiro com a dimensão e marca social da RTP, contribuir para o crescimento e consolidação da relação dos públicos com a literatura e o cinema portugueses.

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