Benoît Poelvoorde e
Isabelle Carré protagonizam
«Românticos Anónimos», que chega aos cinemas portugueses esta semana. Ele interpreta o chefe de uma fábrica de chocolate à beira da falência e ela encarna a nova funcionária, que esconde de todos o facto de ter um imenso talento que pode fazer renascer a empresa. Ambos têm o mesmo problema: são extraordinariamente tímidos e têm com isso uma série de limitações sociais. Ele frequenta um psiquiatra, ela um grupo de ajuda (os «Emotifs Anonymes» que dão título original ao filme) mas quando se apaixonam, tudo neles paralisa, o que dá origem às mais hilariantes situações.

Jean-Pierre Améris veio a Portugal promover o seu novo filme e revelou ao SAPO que aquilo porque as suas personagens, também ele já sofreu na pele.

História com base real

«Há dez anos, antes de pensar fazer este filme, fui aos Emotivos Anónimos, uma terapia de grupo que chegou a França nos anos 90 e tem o mesmo princípio que os alcoólicos anónimos. São grupos de conversa onde vão pessoas para as quais a timidez se tornou muito forte, o que as impede de viver normalmente a sua vida profissional e amorosa. E eu estava numa situação em que essa emotividade começou a ser verdadeiramente incapacitante, já não conseguia sair de casa e recusava todos os convites para jantar. Tornou-se tudo muito difícil e descobri a existência destes grupos, que frequentei durante dois anos. Isso fez-me perceber que não era o único a ter esse problema e nesse grupo, quando contávamos as nossas dificuldades, acabávamos por rir todos juntos. E ter algum humor foi algo que me ajudou bastante na minha vida.»

A ideia de fazer o filme

«A pouco e pouco, pensei fazer um filme e em 2005 comecei a trabalhar nele. Era uma evidência para mim que deveria ser uma comédia, porque há um lado burlesco naquelas personagens, que têm tanto medo que são capazes de fugir do restaurante pela janela da casa de banho. E eu queria fazer um filme alegre. Queria que as personagens ultrapassassem as suas próprias angústias, queria transmitir algo de positivo ao espetador, que as fobias se podem vencer.»

Realizar para ultrapassar medos

«Eu sou como a personagem feminina do filme. A paixão dela é fazer chocolates e a minha é fazer cinema. Ter uma paixão é uma grande sorte na vida porque nos permite ultrapassar problemas de relações com as pessoas, porque só temos um objetivo: fazer o filme. E eu, desde a adolescência, mergulhei no cinema para me proteger do mundo, para fazer algo. O risco seria ficar no nosso canto, e não sair de casa. Mas quando o desejo de um filme é tão forte isso permite-nos ultrapassar tudo.»

O controlo da rodagem

«Eu adoro as rodagens, estamos protegidos, estamos um pouco fora do mundo. O problema para mim é o mundo real. Foi por isso que aos 15 ou 16 anos eu escolhi a realização, porque é o concretizar qualquer coisa que nós controlamos em grande medida. O que apavora os emotivos é a perda de controlo. Se encontro uma mulher num encontro romântico, vou suar, vou dizer parvoíces, vou perder o controlo. O grande medo deste tipo de personagens é a perda de controlo. Agora quando enceno, eu controlo todas as coisas. Se me engano basta apagar e voltar a fazer, que é a grande diferença em relação à vida. Na vida não podemos eliminar e refazer.»

Os actores

«Eu escrevi o argumento pensando no Benoît Poelvoorde e na Isabelle Carré, principalmente nela, com quem já tinha feito «Maman est Folle», um filme para a televisão francesa, porque temos muitos pontos em comum em relação a esse problema da emotividade. Somos muitos próximos e ela contou-me coisas que utilizámos no argumento, que enriqueceram a personagem, como o facto dela cantar uma canção quando é defrontada com uma situação que a angustia. O Benoît eu não conhecia mas tinha muita vontade de trabalhar com ele e isso impôs-se no argumento. É um ator cómico, conhecido por ser muito extrovertido, mas senti que havia nele, como há em tantos humoristas, aquela angústia, aquela timidez, e foi por isso que ele aceitou o papel.»

Um sucesso inesperado

«Este filme só me trouxe alegrias. Porque fiz um filme o mais íntimo possível, e acabou por ser o que teve mais sucesso entre todos os que fiz. Em França foi um grande êxito, foi lançado em muitos países, e descobri que um tema tão íntimo é afinal uma coisa muito universal. E é uma surpresa ver que no Japão os jornalistas me dizem «mas você fez um filme sobre nós». E faz todo o sentido, porque eles são muito mais reservados e recolhidos. Em todo o lado as pessoas me dizem que receiam o julgamento dos outros, que lhes provoca todo o tipo de reações. Também há que dizer que vivemos num mundo e numa sociedade em que temos de estar sempre a atuar. Nos jornais e no cinema só vemos jovens que vencem e somos esmagados por isso, os adolescentes de 15 anos só pensam que nunca chegarão lá. O filme procura dar confiança às pessoas, dizer que não há problema em ser diferente. O que há que ter cuidado é com a excessiva solidão. Isso é perigoso.»

E a seguir?

«Estou agora a trabalhar numa adaptação de um romance de Victor Hugo, «O Homem que Ri», com o
Gerard Dépardieu, uma historia que eu sempre adorei e quem acaba por ter alguma ligação a esta, porque apesar de ser uma grande história romântica é sobretudo uma narrativa sobre a diferença física. Se eu sou muito emotivo é também porque sou complexado por ser muito alto e sempre quis fazer um filme sobre isso, sobre o sentimento de diferença, de não sabermos onde nos metermos, de não querer entrar num restaurante sozinho porque toda a gente vai dizer 'Olha, aquele tem dois metros e tal'.»

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