Mais de 40 filmes portugueses, um ciclo histórico sobre cinema alemão, um alerta para o Brasil e um novo projeto profissional são algumas das propostas do Festival Internacional de Cinema DocLisboa, que começa no dia 17.

"O DocLisboa continua a procurar trazer filmes de diferentes territórios, com linguagens diferentes e com relações não explícitas, que ajudem a compreender o mundo", afirmou Cíntia Gil, diretora do DocLisboa, hoje na apresentação pública da 17.ª edição.

Este ano o programa conta com 303 filmes, mas as competições oficiais estão mais reduzidas. A competição internacional é feita com 14 documentários que são "graciosas reviravoltas sobre si próprios", entre os quais a curta-metragem-manifesto "Eu não sou Pilatus", do ator e realizador luso-guineense Welket Bungué, e "Um filme de verão", da realizadora brasileira Jo Serfaty.

A competição portuguesa revela diversidade e um "equilíbrio geracional", explicou Cíntia Gil, e inclui filmes que já passaram por festivais estrangeiros, como "Prazer, Camaradas!", de José Filipe Costa, "Três perdidos fazem um encontro", de Atsushi Kuwayama, e "Raposa", de Leonor Noivo.

Aquela secção inclui ainda a "História sem maiúsculas", de Saguenail, "Diários de guerra", de Luís Brás, e "Cerro dos pios", de Miguel de Jesus.

Nas últimas semanas a direção do DocLisboa tinha já anunciado grande parte da programação, mas reforçou hoje a retrospetiva que é dedicada ao cinema da Alemanha de Leste, numa altura em que se assinalam os 30 anos da queda do Muro de Berlim.

A Cinemateca será parceira na exibição desta retrospetiva, com o diretor, José Manuel Costa, a descrevê-la hoje como um "evento histórico em si mesmo", por "cobrir uma lacuna de conhecimento histórico" e por apresentar "retratos insubstituíveis do pós-guerra".

Outra das retrospetivas deste DocLisboa será sobre a obra de Jocelyne Saab, jornalista e realizadora libanesa que morreu em janeiro passado. Entre os filmes escolhidos está "Palestinian Women", de 1974, censurado e nunca exibido. Passará em Lisboa numa cópia produzida pela Cinemateca Portuguesa para o festival.

De toda a programação delineada, destacam-se ainda alguns filmes como "Brexit behind the doors", de Lode Desmet, que durante dois anos acompanhou Guy Verhofstaadt, o coordenador do 'Brexit' no Parlamento Europeu, "The Brink", de Alisno Klayman, sobre Steve Bannon (foto), o "antigo estratega-mor da Casa Branca", nos Estados Unidos, e "Nomad: In the footsteps of Bruce Chatwin", de Werner Herzog.

A secção "Cinema de Urgência" terá "O que vai acontecer aqui?", do coletivo Left Hand Rotation, sobre "os movimentos sociais que defendem o direito a habitar Lisboa", e "A nossa bandeira jamais será vermelha", de Pablo Lopez Guelli, sobre "a escalada do Brasil rumo ao fascismo".

Cíntia Gil reforçou o apoio e a solidariedade ao cinema independente brasileiro, em tempo de administração de Jair Bolsonaro, destacando a inclusão de "Chão", filme de Camila Freitas sobre o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, e "Chico: Artista Brasileiro", de Miguel Faria Jr..

No programa "Heat Beat", com documentário sobre música e arte, estarão, entre outros, "Zé Pedro Rock n'Roll", de Diogo Varela Silva, "Sophia, na primeira pessoa", de Manuel Mozos, "Don't look back", de D. A. Pennebaker, "The porjectionist", de Abel Ferrara, e "Retrospective", de Jerôme Bel, que estará em Lisboa.

Para "tornar o DocLisboa mais útil", a direção criou o Nebulae, um espaço dedicado a profissionais com um seminário de realização, encontros temáticos sobre modelos de financiamento e produção, e apoiará bolsas de residência artística para projetos cinematográficos.

O DocLisboa, organizado pela Apordoc - Associação pelo Documentário, abrirá no dia 17 com "Longa noite", do realizador espanhol Eloy Enciso, e termina no dia 27, embora o filme de encerramento, "Technoboss", de João Nicolau, passe na véspera.

Este ano haverá dois prémios novos a atribuir pelo festival: o Prémio Fernando Lopes para o melhor primeiro filme português, e o Prémio Pedro Fortes, na secção "Verdes Anos", em homenagem a Pedro Fortes, um dos elementos da equipa do DocLisboa, que morreu este ano.