Ao fim de 13 anos e muitas reviravoltas e adiamentos (uma "história" que recordamos mais em baixo), "Avatar: O Caminho da Água" chega finalmente esta quinta-feira aos cinemas de todo o mundo.

Novamente rodado a pensar no 3D e com efeitos especiais ainda mais espetaculares, foi após a antestreia mundial em Londres, a 6 de dezembro, que começaram a sair as primeiras reações.

Entre alguns comentários aos clichés da história ou críticas ao formato dos 48 fotogramas por segundo (em vez dos tradicionais 24), que tem como objetivo imergir ainda mais o público na história mas que alguns espectadores descrevem como "um assalto aos sentidos", gerou-se um consenso: uma "obra-prima visual", uma experiência imersiva com imagens em 3D de tirar o fôlego, um hino à magia do cinema com uma extraordinária e emocionante hora final. Além de um dos melhores filmes de 2022 e uma grande melhoria em relação ao original de 2009.

Outro consenso? "Nunca apostem contra o James Cameron".

Rodagem de "Titanic"

Vale a pena recordar a origem desta expressão que extravasou o interior de Hollywood: após fazer 'blockbusters' tão marcantes como os primeiros títulos "Exterminador Implacável" (1984 e 1991), "Aliens"  (1986) ou "A Verdade da Mentira" (1994), lançou-se para o desafio de "Titanic" (1997), que enfrentou muitos problemas de rodagem, duplicou o orçamento previsto e se tornou a produção mais cara da história do cinema. Quase todos na indústria apostaram que seria um desastre.

Para encurtar uma história muito conhecida, os cinemas encheram-se durante meses para ver o amor trágico entre Jack (Leonardo DiCaprio) e Rose (Kate Winslet) durante a fatídica viagem, ao ponto de o filme arrecadar uns nunca vistos 2,2 mil milhões de dólares nas bilheteiras mundiais e 11 Óscares.

Cameron proclamou-se  "o rei do mundo" e quando reapareceu, 12 anos mais tarde, reforçou que era melhor não fazer apostas contra ele: "Avatar" e a sua revolução do 3D começou nos 77 milhões e chegou aos 2,7 mil milhões, tornando-se o novo número 1 nas receitas. Os elogios renovaram-se e foram aprovadas as caríssimas sequelas, na altura "só" duas.

Foram feitos notáveis, apesar de estes valores serem absolutos ou seja, não levavam em linha de conta a inflação e o aumento do preço dos bilhetes (particularmente importante no caso de "Avatar", com o 3D a aumentar por vezes 50% o valor de cada entrada), em que "E Tudo o Vento Levou" continua a ser o mais visto de sempre nos cinemas.

Para a sequela, as projeções para a estreia nos EUA andam entre os 150 e 175 milhões de dólares. E os estúdios rivais da Disney acreditam que chegará aos 200 milhões. A que se juntam, na previsão mais otimista, 350 milhões no resto do mundo. Ou seja, não baterá recordes, mas será um início promissor para uma sequela com 192 minutos que chega 13 anos depois, quando o 3D "já não é o que era", e o próprio realizador avisou que precisa arrecadar cerca de 2 mil milhões para justificar o investimento... ou não haverá "Avatar 4 e 5" em 2026 e 2028.

TRAILER FINAL "AVATAR: O CAMINHO DA ÁGUA".

Com 162 minutos, o primeiro "Avatar" era um ambicioso épico de ficção científica que foi decisivo para a forma como a indústria cinematográfica encarou o 3D. As pessoas encheram as salas para ver o "cinema do futuro" durante meses e meses: quase 80% das receitas foram das sessões nesse formato, em que os bilhetes por vezes ficavam 50% mais caros.

Com argumentos já escritos, o que se propõe são quatro sequelas, cada uma com a sua própria história e o seu próprio final, ainda que juntas venham a compor uma "unida saga épica", esclareceu o produtor Jon Landau em abril.

Mas a primeira vem encontrar uma indústria e um mercado completamente diferentes e a aposta de Cameron e da Disney para "Avatar: O Caminho da Água" é de grande risco, pelo orçamento e por voltar a prometer uma "experiência imersiva" em 3D, que foi usado e abusado pelos estúdios e cujo fascínio desapareceu há muito tempo. Além de se ter tornado apenas mais uma opção para ver um filme, cada vez são menos lançados no formato.

Nada que tenha escapado ao próprio revolucionário, como se confirmou numa conferência de imprensa a que assistiu o SAPO Mag em setembro, quando o primeiro filme regressou aos cinemas em IMAX e 3D numa versão remasterizada em 4K HDR, cujos resultados de bilheteira deram sinais bastante encorajadores sobre o interesse do público pela sequela.

"O 3D foi abraçado pelo grande público durante algum tempo. 'Avatar' ganhou o Óscar de Melhor Fotografia com uma câmara 3D digital. Nenhuma câmara digital tinha conseguido o Óscar de Melhor Fotografia. E nos dois ou três anos seguintes, essas câmaras foram utilizadas por diretores de fotografia que ganharam óscares", lembrava.

E descreveu com grande lucidez o que se seguiu: "Depois desses três ou quatro anos, o 3D parece ter desaparecido. Mas não desapareceu. Só passou a ser aceite. Agora é parte das opções que temos ao irmos ao cinema ver um blockbuster. Podemos escolher ver em 2D ou 3D. Comparo-o um pouco ao cinema a cores. Quando surgiu, foi um acontecimento. As pessoas iam ao cinema ver um filme porque era a cores. E na altura do 'Avatar', as pessoas iam ver filmes por serem em 3D. Mas hoje em dia já ninguém vai ver um filme só porque é em 3D. Vai por todos os outros fatores pelos quais escolhe um filme. Por isso, julgo que teve impacto na forma como os filmes são apresentados. Em termos de efeito cultural mais longo, descobriremos quando as pessoas quiserem ir a 'Avatar 2'".

“Precisamos desta capacidade de nos juntarmos nestes grandes espaços escuros e sonhar com os olhos bem abertos no cinema”

Há um outro desafio: não obstante alguns sucessos, principalmente os de "Homem-Aranha: Longe de Casa" e "Top Gun: Maverick", a recuperação dos cinemas após a pandemia tem sido lenta, com muitos espectadores a preferirem ver a maioria dos filmes no conforto das suas casas. Com "Black Panther: Wakanda Para Sempre" a não repetir o impacto do primeiro filme em 2018, e o fracasso gigantesco da animação da Disney "Estranho Mundo", as bilheteiras arrastaram-se penosamente em baixa nas últimas semanas: "Avatar 2" precisar ser uma injeção de vitalidade para os cinemas e Hollywood nos próximos meses.

"A estreia do filme é um grande teste para a indústria cinematográfica mundial", explicava na semana passada Eric Marti, diretor da empresa de análise Comscore France.

"Durante dois anos, as plataformas de streaming arrasaram. Para os cinemas, esta estreia é como 'Star Wars: O Império Contra-Ataca' [1980]: a reafirmação das salas (de cinema) como lugar prioritário" para ver um filme espetacular, explica.

Kate Winslet, Sigourney Weaver, James Cameron, Zoe Saldana e Sam Worthington

Um sentimento ecoado por um entusiasmado Cameron no palco da antestreia mundial no Odeon West End, em Londres, acompanhado dos seus atores: "Cinco anos de produção e cinco anos que abrangeram um período realmente sombrio. A pandemia chegou, fomos completamente fechados. Estava desesperado que tivesse acabado esta forma de arte que amo e à qual dediquei quatro décadas. Finalmente voltámos ao trabalho, mas não sabíamos se haveria cinemas. Acabou? Mas aqui estamos. Os cinemas voltam a estar cheios e os espectadores de todo o mundo declararam veementemente que precisamos disto. Precisamos desta capacidade de nos juntarmos nestes grandes espaços escuros e sonhar com os olhos bem abertos no cinema. Para mim, esta noite não é sobre um novo filme 'Avatar'. É sobre cinema, e aqui estão vocês, nos vossos trajes de gala. É uma celebração desta forma de arte que tanto amamos. Está de volta, está viva e é tão boa como sempre foi".

Voltar a fazer vibrar fãs e o mundo do cinema

"Avatar: O Caminho da Água" recupera algumas personagens do primeiro e bem-sucedido filme. A história continua em Pandora, um planeta satélite a anos-luz da Terra, casa de alguns seres de aparência semi-humana com poderosas habilidades físicas e uma extraordinária capacidade de conectar-se com a natureza.

Tal como há 13 anos, esta conexão com Pandora será decisiva no final.

O enredo está a ser mantido fechado a sete chaves, mas sabe-se que conta as aventuras de uma tribo nativa de Pandora, desta vez no mar, e com sobreviventes do primeiro filme, com o tema da parentalidade e da família a ser central: Jake Sully (Sam Worthington) e Neytiri (Zoe Saldana), na missão de defender os seus filhos contra uma nova ameaça.

“Fui inspirado pelo facto de que tanto a Zoë como o Sam são pais e eu tenho cinco filhos, por isso queríamos explorar as dinâmicas familiares e as responsabilidades de ter filhos”, explicou Cameron numa conferência de imprensa.

“Podemos ser destemidos quando não temos filhos”, continuou. “Aprendemos a ter medo quando temos filhos, quando temos algo maior que nós mesmos que podemos perder. E é com isso que os dois personagens lidam”.

"Os humanos são os maus da fita. Representam o nosso pior lado. Os Na'vis, povo imaginário habitante de Pandora, representam o nosso lado bom (...) ainda que não se pareçam connosco", esclareceu em entrevista à AFP no início de dezembro.

Existe uma especial atenção às personagens femininas: desde adolescentes à procura de perceber quem são a mulheres grávidas e mães guerreiras, o filme aborda diferentes aspetos da identidade feminina no mundo fantástico de Pandora.

“Há maneiras diferentes de uma mulher ser forte”, afirmou o realizador, notando que fez pesquisas e usou a sua experiência como pai de raparigas para moldar a história. Desde adolescentes à procura de perceber quem são a mulheres grávidas e mães guerreiras, o filme aborda diferentes aspetos da identidade feminina no mundo fantástico de Pandora.

“Pensei que tínhamos uma oportunidade de falar às raparigas adolescentes de uma forma que fizesse sentido para elas”, explicou. Foi isso que inspirou o regresso de Sigourney Weaver, de 73 anos, mas com uma nova personagem, a de uma adolescente.

SIGOURNEY WEAVER COMO KIRI

“Tenho filhas e vi-as passar pela confusão, o questionamento sobre quem são, a identidade, quem está a ouvi-las. Tinha-o pesquisado para ‘Titanic’ e depois vivi-o como pai”, explicou.

Cameron foi buscar Kate Winslet para interpretar Ronal nesta sequela, 25 anos depois de a atriz ter protagonizado o seu ‘blockbuster’ “Titanic” em 1997.

“A personagem da Kate vai para a batalha grávida de seis meses e não hesita”, refere Cameron, falando das diferentes formas como as mulheres mostram força no filme.

KATE WINSLET COMO RONAL

Obcecado com o digital e os efeitos especiais, Cameron é uma lenda que revolucionou várias vezes o cinema. A tecnologia ocupa um lugar central na sua obra, mas não é tudo, garantiu.

“A tecnologia não cria arte. Artistas criam arte”

Agora que todas as produções podem ter acesso aos efeitos especiais, e que centenas de milhões de dólares podem ser investidos num 'blockbuster', esse “talento artístico” é o que marca a diferença, acreditava o rei das bilheteiras.

“Qualquer um pode comprar um pincel. Mas não é qualquer um que pode pintar uma obra de arte”, esclareceu.

A produção exigiu enormes recursos técnicos, como longas filmagens debaixo de água, em apneia.

“Sou uma espécie de filtro central de tudo, mas tenho vários artistas que trabalham para mim, desenham as personagens, a arquitetura, o mundo, as plantas, o vestuário…”, sintetizou.

“Gosto de pensar que é como uma grande comunidade hippie com uma quantidade gigantesca de grandes artistas. A tecnologia não cria arte. Artistas criam arte”, acrescentava.

JAMES CAMERON COM SAM WORTHINGTON NA RODAGEM DE "AVATAR: O CAMINHO DA ÁGUA"

Um filme como os da franquia “Avatar”, gravado com um fundo azul para depois serem adicionados cenários, texturas e acessórios por computador, deve muito à interpretação dos atores, considerava Cameron, embora seja difícil reconhecê-los após o processo digital.

“O coração, a emoção, a criatividade… Tudo isso vem primeiro”, durante a gravação das cenas “reais”, a primeira etapa de construção do filme, antes mesmo da definição dos ângulos de câmara e planos.

“Só depois começa o trabalho técnico”, explicou.

Quanto à “inteligência artificial”, utilizada para tratar as imagens, Cameron assegurou que não a utiliza para “substituir os atores, mas sim para ser ainda mais fiel às suas interpretações”.

“Não penso que o objetivo destes filmes seja dizer o que tem que ser feito. Acho que qualquer um que estude as questões ambientais pode dizer”

O homem dos recordes, com os filmes mais caros e também mais rentáveis do mundo, de “Titanic” ao primeiro “Avatar”, reconhecia que carregava “uma grande responsabilidade”.

“Não posso ser caprichoso ou impulsivo, preciso manter-me focado para criar algo que agrade a mim, ao público e que seja comercial o suficiente para fazer dinheiro. Não pode ser demasiado intelectual, mas posso fazer algo satisfatório para mim, colocando uma segunda ou terceira camada de significado, que as pessoas podem ou não captar”, explicava.

Como um Cousteau moderno, fascinado pelo mar e as suas profundezas - a ponto de ser um dos poucos seres humanos a visitar, num submarino, a Fossa das Marianas, o ponto mais profundo do planeta -, Cameron voltou a insistir na mensagem ecológica que contribuiu para o sucesso de “Avatar”.

“Não penso que o objetivo destes filmes seja dizer o que tem que ser feito. Acho que qualquer um que estude as questões ambientais pode dizer. Sabe que tem que reduzir a sua pegada de carbono, não votar em idiotas, comprar um carro elétrico, consumir menos carne e laticínios…”, notava.

“Mas é possível influenciar os sentimentos das pessoas. O filme chama-te a sentir algo pela natureza, não só que chore no final ou que se emocione com as personagens. Trata-se de sentir indignação (...), de que as pessoas fiquem zangadas” a favor do meio ambiente, acrescentava.

O que havia de revolucionário em "Avatar"?

Com "Aliens", os dois primeiros "Exterminador Implacável" e "Titanic", Cameron já deixara uma marca no cinema e ultrapassara os limites da tecnologia que tinha à sua disposição.

Mas com "Avatar" ainda foi mais longe, não só com a criação de novas técnicas e equipamentos de rodagem, como colocando-se na vanguarda da revolução do 3D.

O filme apresentava Pandora, onde os habitantes Na'Vi se defrontam com os terrestres. Nomeado para nove Óscares, perdeu vários para "Estado de Guerra", mas conquistou três nas categorias de Melhor Direção Artística, Melhor Fotografia e Melhores Efeitos Visuais.

TEASER TRAILER "AVATAR" DE 2009.

Para muitos, "Avatar" foi o primeiro filme em 3D visto no cinema e muitos espectadores continuam a achar que foi o auge da experiência, apesar do seu sucesso ter feito com que o uso dessa tecnologia se tornasse recorrente nos blockbusters de Hollywood.

TRAILER FINAL "AVATAR" DE 2009.

Embora nunca tivesse sido feito um filme em 3D com o realismo e a escala de "Avatar", foi o processo e não o resultado que revolucionou a história do cinema.

Desde "Parque Jurássico" que o espectador já se habituara ao foto-realismo e à integração na imagem real de elementos imaginários, criados por computador. A partir de "O Senhor dos Anéis: As Duas Torres", a personagem de Gollum introduziu na ação real uma personagem criada em 'motion capture' com um realismo inusitado.

Só que Cameron subiu tudo isto a uma potência superior, com um realismo inédito até à data e uma escala verdadeiramente inusitada, e ainda lhe adicionou o 3D, concretizado com uma precisão técnica nunca antes alcançada.

A REVOLUÇÃO DE "AVATAR".

Mas a revolução de "Avatar" começou muito antes. Cameron escreveu o primeiro esboço do argumento em 1994 e, segundo comentou várias vezes, esperou desde então que a tecnologia estivesse à altura de lhe permitir levar ao ecrã a história do confronto entre os seres humanos e os pacíficos seres azuis de um novo mundo chamado Pandora. Mas como o cineasta não é homem para ficar de braços cruzados, resolveu dar uma ajudinha à revolução tecnológica que permitiu criar "Avatar".

O filme foi concretizado com câmaras especiais criadas de propósito, descendentes das que Cameron tinha criado em parceria com Vince Pace, e que tinham sido instrumentais na eclosão do novo cinema em 3D. O designado 'Fusion Camera System' permitiu a rodagem de filmes em 3D com um realismo inusitado, bem comprovado nos dois documentários com que o cineasta testou e apresentou o sistema: "Fantasmas do Abismo" (2003) e "Extraterrestres nas Profundezas" (2005), rodados em alta definição nas profundezas do oceano para serem vistos nos gigantescos ecrãs IMAX.

Recorde-se que o novo sistema em 3D eliminava por completo a sensação de náusea do sistema anterior, em que a projeção do filme era feita por duas câmaras (com cada uma a projetar a imagem que cada olho devia captar para dar a ilusão de tridimensionalidade) e em que a imagem de cada uma tinha de estar completamente alinhada para não provocar dor de cabeça e arruinar o efeito. Agora, com uma única câmara a alternar os fotogramas que cada olho deve captar e imagens de uma definição e contraste antes impensável, a revolução 3D veio para ficar.

Embora agora já não tenham nem de perto nem de longe o impacto dos primeiros anos, foi graças a "Avatar" que os óculos passaram a ser um acessório essencial em vários filmes, ainda que o próprio Cameron tenha, erradamente, previsto em junho de 2017 que seriam dispensados para ver a primeira sequela, então com estreia marcada para 18 de dezembro de 2020: foi quando a sua produtora Lightstorm Entertainment renovou por mais cinco anos um contrato com a Christie Digital para continuar a desenvolver um novo sistema RGB de projeção a laser, descrito como "laser puro", que apresentaria as imagens mais nítidas, definidas e a grande velocidade, e ainda com um efeito de maior profundidade do que aquele que é proporcionado pela atual tecnologia.

Mas não foi o efeito do 3D que melhorou substancialmente em "Avatar". O outro grande avanço foi no processo de rodagem com recurso à tecnologia de 'motion capture' (em que a interpretação dos atores é decalcada para um computador através da digitalização dos vários pontos do seu corpo). Por um lado, o espaço de rodagem (designado por 'volume') era seis vezes maior que os utilizados até à data por cineastas como Robert Zemeckis (o principal defensor desta tecnologia, em filmes como "Polar Express", "Beowulf" e "Um Conto de Natal".

Por outro, se no sistema utilizado até "Avatar" os cenários só eram integrados na ação muito depois dos atores terem sido filmados, as novas câmaras virtuais de Cameron permitiram-lhe observar num monitor, diretamente e em tempo real, as contrapartes virtuais dos atores já integradas no seu mundo digital, e dirigir as cenas como se de um filme de imagem real se tratasse. Mais: a nova câmara colocada em frente da rosto do ator, permitia, segundo Cameron, transferir cerca de 95% da interpretação dos atores para as suas versões digitais. Ou seja, um realismo nunca antes visto numa personagem virtual e que se tornou comum nos grandes filmes e foi aperfeiçoado por exemplo para produções televisivas com a ambição de "The Mandalorian".

NOS BASTIDORES DE "AVATAR".

Tudo isto agregado à imaginação fulgurante de Cameron e à sua insistência de que todas as inovações tecnológicas servissem a história que estava a ser contada, fizeram de "Avatar" uma experiência inovadora em cinema, que confirmou ser um ponto de viragem tão grande como o foram, na sua época, "A Guerra das Estrelas" ou
"Parque Jurássico".

A longe e penosa jornada até "Avatar 2"

Foram 13 anos, com muitas piadas pelo meio com os sistemáticos adiamentos, até à chegada de "Avatar: O Caminho da Água".

A 4 de Janeiro de 2010, "Avatar" atingia os 1,02 mil milhões de dólares nas bilheteiras de todo o mundo e em apenas 17 dias de exibição, o que só era ultrapassado por "Titanic" (1,08 mil milhões), "O Senhor dos Anéis: O Regresso do Rei" (1,12 mil milhões) e "Piratas das Caraíbas: O Cofre do Homem Morto" (1,07 mil milhões).

Apesar da inflação pelos bilhetes para o 3D, os números não mentiam e confirmavam, ao terceiro fim-de-semana, o gigantesco sucesso, que também deu um contributo decisivo para a afirmação junto do grande público de outra forma de projeção: era o filme que mais dinheiro fez nas salas IMAX (à época, uns "modestos" 66 milhões de dólares).

À sua dimensão, o sucesso reproduziu-se em Portugal: 209.637 espectadores foram vê-lo na primeira semana de exibição, entre 17 e 23 de Dezembro de 2009, então em cerca de 90 salas (a sequela chegará a mais de 200). O filme convocaria 1.256.610 espectadores, contando com as reposições em 2010, numa edição especial com mais oito minutos exclusivamente em 3D, e as de 2014 e de setembro último, só tendo perdido a liderança dos mais vistos de sempre para a versão fotorrealista de "O Rei Leão" em 2019 (a distância que está agora em 25 mil entradas).

“Parte do meu objetivo no segundo filme é criar um ambiente diferente – um cenário diferente dentro de Pandora”

"Avatar" também marcaria uma geração de espectadores de cinema na China: pertenceu à primeira vaga de "blockbusters" de Hollywood a chegar quando o mercado de cinema começava a crescer e foi o maior fenómeno de todos. Seriam precisos quatro anos e a construção de milhares de cinemas para o seu recorde de bilheteira no país ser batido por "Journey to the West", de Stephen Chow.

A 25 de janeiro de 2010, ao 41º dia em cartaz, batia o recorde de bilheteira de "Titanic" e tornava-se o filme que mais dinheiro fez nas bilheteiras de todo o mundo.

Em meados de abril, na promoção do lançamento da edição em DVD e Blu-ray, Cameron já descrevia os seus planos para o futuro ao jornal "LA Times": "Parte do meu objetivo no segundo filme é criar um ambiente diferente – um cenário diferente dentro de Pandora. E eu vou focar-me no oceano, que será igualmente rico e diverso e louco e imaginativo, não será apenas uma floresta tropical. Não digo que não veremos aquilo que já vimos, veremos mais disso também".

Mas já então a visão não se esgotava em Pandora, nem sequer numa única sequela. O futuro passava "por todo o sistema Alpha Centauri AB. E vamos expandir através desse sistema e integrar mais dele na história – não necessariamente no segundo filme, mas mais no terceiro".

Em termos práticos, o objetivo era também retirar o máximo partido de todos os avanços tecnológicos do primeiro filme: "O desafio no próximo 'Avatar' é fazer o que fizemos antes a metade do preço e em metade do tempo. Uma vez mais, isso é um objetivo impossível de concretizar, mas se conseguirmos reduzir 25% em ambas as categorias, já teremos mesmo atingido alguma coisa".

No final de outubro e depois de muita especulação, o estúdio e Cameron confirmavam duas sequelas, rodadas em simultâneo e programadas para estrear nos cinemas em 2014 e 2015.

"É raro e maravilhoso quando um cineasta tem a notável oportunidade de construir um mundo de fantasia, e vê-lo crescer, com os recursos e a parceria de uma companhia de media global. 'Avatar' foi concebido como um épico de fantasia - um mundo que as audiências podiam visitar, em todas as plataformas de media, e este momento marca o lançamento da próxima fase desse mundo. Com dois novos filmes em preparação, a minha empresa e eu estamos a embarcar numa jornada épica com os nossos parceiros da 20th Century Fox", sublinhava o realizador na comunicação à imprensa.

E prometia que "o nosso objetivo é encontrar e exceder as expectativas da audiência global quanto à riqueza do mundo visual de 'Avatar' e o poder da narrativa. No segundo e terceiro filmes, que terão histórias individualizadas mas que farão parte de um arco maior, não abriremos mão do poder emocional e visual de 'Avatar' e continuaremos a explorar os seus temas e personagens, que tocaram no coração de públicos de todas as culturas ao longo do mundo. Estou ansioso por regressar a Pandora, um mundo onde as nossas imaginações são deixadas completamente à solta".

Em setembro de 2011, a saga expandiu-se com o anúncio de que Pandora iria inspirar um conjunto de novas atrações para parques temáticos, numa parceria da Fox com o grupo Disney (ainda distante de se imaginar o acordo de fusão entre os dois estúdios que seria anunciado em dezembro de 2017 e concretizado em março de 2019). O primeiro seria no Walt Disney World, na Flórida, integrada no chamado Animal Kingdom, que abriu em maio de 2017.

“Não abriremos mão do poder emocional e visual de 'Avatar' e continuaremos a explorar os seus temas e personagens”

Em dezembro de 2013, foi anunciado o acordo entre o governo da Nova Zelândia, a Fox e o estúdio de Cameron, para a rodagem "parcial" das sequelas no ano seguinte e fortalecer a indústria cinematográfica do país, promovendo-se como destino natural depois de ter servido de cenário a filmes como as trilogias de "O Senhor dos Anéis" e "O Hobbit".

Após se ter aflorado a possibilidade pela primeira vez em 2012, por esta altura já estava confirmado que avançaria "Avatar 4" e cada uma das sequelas iria estrear todos os anos a partir de 2016.

Notando que os efeitos especiais seriam criados pela Weta Digital, sediada em Wellington, que também trabalhou para os filmes de Peter Jackson, o realizador salientava que a escolha da Nova Zelândia prendia-se com o profissionalismo das equipas de produção locais, os conhecimentos em efeitos especiais e os subsídios do Estado, que representam até 25% do orçamento: cada filme teria um orçamento de, pelo menos, 410 milhões de dólares (daquela época) e destacava-se que criariam centenas de trabalhos e milhares de horas de rodagem, além de postos de trabalho indiretos.

Sam Worthington e Zoe Saldana assinaram contrato em 2014 para regressarem, mas também Sigourney Weaver e Stephen Lang, mas por volta de abril de 2016 continuava um intenso trabalho de pós-produção e a rodagem ainda não tinha começado: a novidade era que estavam em preparação quatro filmes para abordar todas as ramificações de Pandora.

“Tenho estado a trabalhar com os quatro melhores argumentistas e autores do mundo para criar o mundo da evolução de 'Avatar'”

Numa aparição surpresa na convenção CinemaCon em Las Vegas, que todos os anos reúne os estúdios de Hollywood e os representantes das maiores cadeias de salas de cinema, Cameron deu essa novidade e também se comprometia com as datas: “Avatar 2” chegava no Natal de 2018 e os restantes na mesma temporada em 2020, 2022 e 2023.

No que definiu como um "processo cinematográfico verdadeiramente gigantesco", explicou que decidiu que precisava de mais filmes para continuar a história, mas insistiu que cada um valeria por si: "Tenho estado a trabalhar com os quatro melhores argumentistas e autores do mundo para criar o mundo da evolução de 'Avatar'. Os ambientes, novas culturas — o que for preciso para tornar isso realidade. Do que estou a ver da arte na parede... em imaginação pura é um pouco para lá do primeiro filme. Não tenho palavras".

Mas em setembro do mesmo ano, Cameron voltou a anunciar uma mudança das datas, mas mais ambiciosa: a expectativa era de "quatro filmes a estrearem um após outro, esperançosamente com um ano de diferença, se conseguirmos", o que significaria que "Avatar 5" chegaria em 2021 e não 2023.

O cineasta também garantia que a espera por "Avatar 2" até ao Natal de 2018 valia a pena pois tinha ajudado a equipa a melhorar a qualidade do trabalho digital: "Melhorámos toda a animação CGI [imagens criadas por computador], a animação facial. A forma como trabalhamos, tudo está mais eficiente".

Em março de 2017 de uma forma bastante casual, como "se não fosse nada", Cameron anunciava novo adiamento da primeira sequela... e não se comprometia com novos prazos, garantindo apenas que "vamos descer essa cortina quando for a altura certa".

“Sei onde vou estar nos próximos oito anos da minha vida”

"Bem, 2018 já não vai acontecer. Ainda não anunciámos uma data sólida de estreia. O que as pessoas precisam compreender é que existe uma cadência de estreias. Portanto, não estamos a fazer 'Avatar 2'. Estamos a fazer 'Avatar' 2, 3, 4 e 5. É uma tarefa épica. Não é muito diferente de construir a Barragem das Três Gargantas [a maior central hidroelétrica do mundo, no Rio Yangtzé, o maior da China, com a segunda maior barragem e represa do mundo] [risos]", justificava o cineasta, então com 62 anos.

"Sei onde vou estar nos próximos oito anos da minha vida. Se pensarmos nisso, não é um período de tempo irrealista. Levou-nos quatro anos e meio para fazer um filme e agora estamos a fazer quatro", acrescentou, notando que os projetos estavam prestes a ocupá-lo "24 horas por dia, sete dias por semana".

Em maio, surgiram novas datas para os filmes: 18 de dezembro de 2020, 17 de dezembro de 2021, 20 de dezembro de 2024 e 9 de dezembro de 2025.

Por esta altura, já se ouviam vozes a dizer que a saga seria prejudicado pela saturação de sequelas em Hollywood e a diferença de 11 anos em relação ao primeiro "Avatar", mas, sem surpresa, Cameron não era da mesma opinião.

Rodagem de "Avatar: O Caminho da Água"

Numa entrevista à CNN, mostrou-se confiante que tudo ia correr bem, recordando que "Foram sete anos de diferença entre 'Exterminador Implacável' [1984] e 'Exterminador Implacável 2: O Dia do Julgamento' [1991], sete anos de diferença entre 'Alien' [1979] e 'Aliens' [1986]. Obviamente que vai ser mais como uma diferença de dez anos entre 'Avatar' e 'Avatar 2'".

"Mas com 'Avatar 2' vai-se não com a promessa, mas a certeza de mais três filmes a seguir e esse é um conceito muito diferente para os espectadores. E muito do atraso tem sido por causa de criar essa visão do todo', apontava.

A 25 de setembro, começou a rodagem principal das sequelas e falava-se num orçamento de mil milhões de dólares, num processo que Cameron descreveu simplesmente como "uma grande produção".

"Não é uma [rodagem] atrás da outra. Na verdade são todas uma grande produção. É mais como se rodaria uma minissérie. Vamos filmar todos [os argumentos] em simultâneo. Portanto, segunda-feira posso fazer uma cena do Filme Quatro e terça uma do Filme Um... essencialmente estamos a trabalhar ao longo de oito horas de história", explicara meses antes.

Dias depois eram divulgadas imagens os atores que seriam os filhos de Jake Sully e Neytiri e outros jovens de Pandora: com pouca experiência e praticamente limitada à televisão, estavam Britain Dalton (da série "Goliath"), Filip Geljo ("Odd Squad"), Jamie Flatters ("So Awkward"), Bailey Bass (do filme "Um Pedacinho de Paraíso"), Trinity Bliss, Jack Champion e Duane Evans Jr. ("Shortland Street").da direita para a esquerda estavam Britain Dalton (da série "Goliath"), Filip Geljo ("Odd Squad"), Jamie Flatters ("So Awkward"), Bailey Bass (do filme "Um Pedacinho de Paraíso"), Trinity Bliss, Jack Champion e Duane Evans Jr. ("Shortland Street").

Prometia-se então que teriam um papel importante nas sequelas e apenas um deles Jack Champion, à direita na foto, não seria transformado em Na'vi pelos efeitos especiais: a sua personagem é a de um humano nascido na base militar Hell's Gate, que foi mostrada no primeiro filme.

"Nunca tivemos antes este elemento jovem e isso traz um tipo de energia diferente ao filme. Eles representam a futura geração de Pandora e têm um papel muito importante – não apenas neste filme mas ao longo de todos os filmes", explicava o produtor Jon Landau.

Afinal, a saga pode acabar com "Avatar 3"

Rodagem "Avatar: O Caminho da Água"

No início de novembro deste ano, Cameron disse à revista Total Film sem rodeios que a sua saga podia acabar antes do que estava previsto e ficar por três filmes em vez dos cinco planeados. Tudo dependia da reação do público à primeira sequela.

“Sejamos francos, se 'Avatar 2' e '3' não fizerem dinheiro suficiente, não vai haver um quarto e quinto”

"Dentro de três meses, o mercado poderá estar a dizer-nos que estamos acabados ou podemos estar semi-acabados, no sentido de 'Ok, vamos concluir a história com o terceiro filme e não continuar eternamente', se simplesmente não for rentável", explicou.

E reconhecia que "vivemos agora num mundo diferente daquele em que estávamos até quando escrevi isto. Foi um golpe duplo: a pandemia e o streaming".

"Ou, por outro lado, talvez lembremos às pessoas o que é ir ao cinema. Sem dúvida que este filme faz isso. A questão é: quantas pessoas agora se importam com essa m****?", concluía ao seu estilo.

A verdade é que muito antes, em novembro de 2017, numa entrevista à Vanity Fair, o realizador já tinha avisado que os dois últimos filmes dependiam do impacto nas bilheteiras dos anteriores.

"Sejamos francos, se 'Avatar 2' e '3' não fizerem dinheiro suficiente, não vai haver um quarto e quinto. Todos têm histórias completamente encapsuladas que valem por si. Desenvolvem-se ao longo de cinco filmes para um tipo de grandiosa metanarrativa, mas são filmes totalmente independentes que valem por si, ao contrário, por exemplo, da trilogia 'O Senhor dos Anéis', em que tínhamos todos apenas de simplesmente dizer 'Bolas, suponho que o melhor é regressar no ano que vem.' Embora isso tudo tenha resultado e todos voltaram", explicava.

“Será que 'Avatar 2' e '3' serão capazes de criar esse tipo de sucesso no zeitgeist? Quem sabe. Estamos a tentar”

A revelação confirmava que, oito anos após a estreia do primeiro filme, já sabia que as sequelas chegariam numa era muito diferente, com as alterações dos comportamentos dos espectadores das salas de cinema e o panorama dos "blockbusters" dominado pelas sagas de super-heróis e "universos cinematográficos".

O que se confirmou a 20 de julho de 2019, quando "Avatar" perdeu o título de filme que rendeu mais dinheiro nas salas de cinema para "Vingadores: Endgame".

Conhecido por ser muito competitivo (poucos esquecem como se proclamou "o rei do mundo" ao ganhar os Óscares por "Titanic"), Cameron admitiu que a sensação foi, afinal, de alívio e otimismo: entre os dois filmes, ele manteve o primeiro lugar nas bilheteiras durante 7817 dias consecutivos, quase 21 anos e meio.

"Dá-me muita esperança. 'Vingadores: Endgame' é uma prova demonstrável de que as pessoas ainda vão aos cinemas. O que mais me assustou sobre fazer 'Avatar 2' e 'Avatar 3' foi que o mercado poderia ter mudado tanto que simplesmente não era mais possível conseguir que as pessoas ficassem assim tão empolgadas em ir e sentarem-se numa sala escura ao lado de estranhos para ver alguma coisa", contou ao Deadline em setembro desse ano.

"Será que 'Avatar 2' e '3' serão capazes de criar esse tipo de sucesso no zeitgeist? Quem sabe. Estamos a tentar. Talvez consigamos, talvez não, mas a questão é que ainda é possível. Fico feliz por ver isso, em vez da situação alternativa, com a disponibilidade rápida, a experiência feita à medida que todos podem criar para si com os serviços de streaming e todas as diferentes plataformas, em que [a experiência das salas de cinemas] poderia não existir mais", reforçou.

"Fico simplesmente contente por ainda existir porque eu sou todo sobre o grande ecrã. Não que eu não faça algo para streaming em que se pode entrar pelas personagens de uma forma diferente, mas o que mais gosto de fazer é criar uma experiência completamente submersiva em que a pessoa desliga o telefone e se envolve. Você, como membro do público, a envolver-se durante duas horas ou duas horas e meia, seja o que for. E isso ainda existe!", rematava.

Por esta altura, "Avatar 2" estava anunciado para 17 de dezembro de 2021 e o filme a seguir para 22 de dezembro de 2023. Um quarto e quinto filmes também tinham datas em 2024 e 2027.

STEPHEN LANG DE REGRESSO COMO O CORONEL QUARITCH

Em maio de 2020, Cameron mostra-se otimista com os prazos, ainda que, tal como aconteceu com muitos outros projetos de cinema e televisão, também a produção de "Avatar" estivesse parada desde março por causa da COVID-19, ameaçando tornar a espera ainda mais longa.

Alguns meses antes, ele atualizara que o trabalho de 'performance capture' (as redes sociais da saga fazem a distinção de 'motion capture') para as duas primeiras sequelas estava concluído e o que faltava filmar eram planos em imagem real para o segundo filme, previstos para a primavera de 2020. Quando se preparava para regressar à Nova Zelândia para mais dois meses de rodagem, foi implementa o estado de emergência e o país foi "fechado" ao exterior.

Foi possível continuar a trabalhar nos dispendiosos efeitos especiais "até ao ponto em que isso é possível", coordenando de forma virtual entre a Califórnia e os estúdios Weta Digital e Lightstorm. E destacava então o "lado positivo" da situação: "A Nova Zelândia parece ter sido muito eficaz no controlo do vírus e o seu objetivo não é a mitigação, mas a erradicação, o que eles acreditam que podem fazer com campanhas agressivas de rastreamento e testes".

No início de junho, Cameron e 55 outras pessoas da equipa regressaram e cumpriram 14 dias de quarentena num hotel para retomarem a rodagem, mas no final de julho, dando o ano por perdido por causa dos cinemas quase sem espectadores, a Disney adiou vários filmes, incluindo os futuros episódios de "Avatar" por um ano: 2022, 2024, 2026 e 2028.

Numa mensagem nas redes sociais, o realizador explicada que o adiamento se devia aos atrasos no cronograma de produção do filme: embora as filmagens tivessem sido retomadas, o trabalho de efeitos especiais, previsto para ser feito em Los Angeles, ainda não podia começar por causa da pandemia.

Em novembro, foi anunciado oficialmente que Kate Winslet tinha batido o recorde em cinema de conter a respiração debaixo de água: sete minutos e 14 segundos, que batia os seis minutos de Tom Cruise na cena de "Missão Impossível: Nação Secreta" (2015) em que resgatava o chip de um computador num cofre subaquático.

Kate Winslet na rodagem

Em março de 2021, "Avatar" voltava a fazer história com o relançado nos cinemas da China: desalojava "Vingadores: Endgame" do primeiro lugar na lista dos filmes mais rentáveis, recuperando a posição que fora sua entre 2010 e 2019 e se mantém até agora.

NOVO TRAILER PARA O RELANÇAMENTO DE "AVATAR".

A falar da Nova Zelândia por videoconferência, Cameron falou aos presentes na CinemaCon: "Queremos desafiar de novo os limites do que o cinema pode fazer" e prometia saltos tecnológicos gigantescos em comparação com o primeiro filme.

“Não quero ninguém a choramingar sobre a duração [de 'Avatar 2'] quando as pessoas fazem maratonas [televisivas] durante oito horas”

Só a 27 de abril de 2022 surgiram mais novidades e não foram de adiamento: era o título da sequela.

A 9 de maio de 2022, foi antecipado o lançamento online do teaser trailer, com as personagens Na'vi a nadarem nos oceanos e a rasgar os céus de Pandora.

TEASER TRAILER DE "AVATAR: O CAMINHO DA ÁGUA"

A 5 de julho, Cameron tornou-se viral ao avisar que os fãs teriam à sua espera um filme com mais duração do que os 162 minutos do "Avatar" original.

"Não quero ninguém a choramingar sobre a duração quando as pessoas se sentam e fazem maratonas [televisivas] durante oito horas... quase posso escrever esta parte da crítica, 'O filme de três horas agonizantemente longo ...' Deixem-me em paz. Eu vi os meus filhos a sentarem-se e consumirem cinco episódios de uma hora de seguida", disse à revista britânica Empire.

O realizador não faz nenhuma proposta para os espectadores aguentarem pelo menos três horas numa sala de cinema, mas ofereceu pistas: "Aqui está a grande mudança de paradigma social que precisa acontecer: não faz mal levantar-se e ir fazer xixi".

O grande dossier especial da Empire tinha outra revelação surpreendente: "Avatar" 4 e 5 poderiam ser confiados a outro realizador.

Com 67 anos, o realizador dizia estar a pensar noutros projetos: “Os filmes 'Avatar' tipo que consomem tudo. Tenho algumas outras coisas que também estou a desenvolver que são emocionantes. Acho que com o tempo – não sei se depois do '3' ou '4' – vou querer passar o bastão para um realizador em quem confie para assumir o controlo para que eu possa fazer outras coisas em que também interessado. Ou talvez não. Não sei".

“O terceiro está feito, portanto vai avançar independentemente de tudo. Espero realmente que consigamos fazer o quatro e cinco”

"Tudo o que preciso dizer sobre família, sustentabilidade, clima, mundo natural, os temas que são importantes para mim na vida real e na minha vida cinematográfica, posso fazê-lo nisto. Fiquei mais animado à medida que avançava", acrescentou, garantindo que o quarto filme é "brutal" (uma tradução mais amansada do que o palavrão inglês) e que esperava que fosse feito, mas isso dependia "das forças do mercado".

"O terceiro está feito, portanto vai avançar independentemente de tudo. Espero realmente que consigamos fazer o quatro e cinco porque, no final de contas, é uma grande história", notava.

A 22 de novembro e em contagem decrescente, outra declaração viral: recusava dizer quanto tinha custado "Avatar 2", mas descreveu-o como "o pior negócio na história do cinema".

"Very f*cking [expensive]" ("um muito caro" com um palavrão pelo meio) foi o que respondeu quanto a revista GQ lhe perguntou pelo orçamento real.

“'Avatar 2' é o pior negócio na história do cinema”

Para se ter uma noção da expectativa comercial e justificar o investimento da agora 20th Century Studios, a barreira foi mais explícita e bastante elevada para chegar ao lucro: "Tem de ser o terceiro ou quarto filme mais lucrativo na história. É esse o nosso patamar. É assim que chegamos ao ponto de equilíbrio".

Com o regresso do primeiro filme aos cinemas em setembro, consolidou-se a sua liderança nas bilheteiras nos 2.923 mil milhões de dólares. Pelas contas de Cameron, a sequela teria de ultrapassar o quarto lugar de "Star Wars: Episódio VII — O Despertar da Força" (2015), com 2,069 mil milhões de dólares, embora mais tarde se tenha "arredondado" para os 2 mil milhões.

Por comparação, o maior sucesso de bilheteira desde que começou a pandemia é "Homem-Aranha: Sem Volta a Casa" (2021), com 1,917 mil milhões de dólares.

Com a estreia esta quinta-feira em Portugal e muitos outros países, incluindo na China, resta regressar ao outro aviso feito no início de novembro: "dentro de três meses, o mercado poderá estar a dizer-nos que estamos acabados ou podemos estar semi-acabados, no sentido de 'Ok, vamos concluir a história com o terceiro filme e não continuar eternamente', se simplesmente não for rentável".

Portanto, lá para o fim o fim de janeiro, fazem-se as contas ao "pior negócio na história do cinema". E é melhor não apostar contra James Cameron.