Um "blockbuster" chinês que custou 80 milhões de dólares, teve o apoio técnico de profissionais de Hollywood e era um dos filmes mais aguardados do verão viu cancelada a estreia nos cinemas do país com poucos dias de antecedência.

Depois de perder no último momento a prestigiada posição de filme de abertura do Festival de Cinema de Xangai, o épico de guerra "The Eight Hundred", o primeiro filme chinês totalmente rodado com câmaras Imax, viu cancelada repentinamente a estreia marcada para 5 de julho na China, alegadamente por ação das autoridades políticas.

O comunicado do estúdio divulgado na terça-feira diz apenas que a decisão foi tomada "após consultas entre a equipa de produção e outras entidades" e posteriormente será anunciada outra data.

A estreia prevista para o mesmo dia para os EUA, Austrália e Nova Zelândia, algo ainda relativamente raro para as grandes produções, também será "sincronizada"  com a chinesa.

Segundo o The Hollywood Reporter, a "aparente censura" deste filme "continua uma tendência de ação cada vez mais agressiva dos reguladores de cinema de Pequim, com 2019 a tornar-se rapidamente o ano de mais repressão da indústria chinesa de recente memória".

Apesar de respeitar os desejos das autoridades de glorificar grandes feitos da China, a principal teoria a circular na indústria cinematográfica local é que "The Eight Hundred" ofendeu importantes figuras do Partido Comunista porque aborda um capítulo da guerra sino-japonesa em 1937 que teve como protagonistas as forças do Partido Nacionalista Chinês e não as comandadas por Mao Tsé-Tung.

Embora a história seja verídica e permaneça uma grande fonte de orgulho na guerra contra a invasão do Japão imperial, as autoridades terão achado a data "politicamente repelente", uma vez que o Partido Comunista Chinês irá assinalar em outubro os 70 anos do triunfo de Mao sobre as forças nacionalistas.

A primeira indicação do reforço do controlo das autoridades chinesas sobre o cinema do seu país foi em fevereiro, quanto o prestigiado realizador Zhang Yimou foi forçado a retirar o seu filme mais recente, "One Second", do Festival de Berlim. Continua inédito e sem data de estreia.

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Um segundo filme, "Better Days", também caiu abruptamente da programação de Berlim por suspeita de censura e uma relutância dos organismos ligados à educação com a representação demasiado realista dos ataques sexuais e "bullying".

Esta segunda-feira, a equipa anunciou que cancelou a estreia na China prevista para daí a três dias.

Em maio, "Summer of Changsha" chegou ao Festival de Cannes, mas fê-lo sem passar pelo habitual crivo da censura, o que pode ter consequências sérias para a equipa do filme, que alegou "razões técnicas" para não estar presente na antestreia de gala.

Já esta terça-feira, soube-se que outro filme muito aguardado, "The Last Wish" [O Último Desejo], por agora previsto para estrear a 18 de julho, mudou de título: mantém-se em inglês, mas a nível local passou do equivalente de "The Great Wish" [O Grande Desejo] para "The Little Wish" [O Pequeno Desejo], alegadamente porque a designação "Great" apenas pode ser usada para descrever o Partido Comunista.